Conheci a Ciência Cristã na adolescência e passei a frequentar a Escola Dominical com assiduidade; logo me tornei membro de A Igreja Mãe.
Na época, eu tinha muitos problemas familiares. A igreja tornou-se meu refúgio, e as pessoas da igreja meus amigos. Eu era feliz naquele ambiente, diferente de como me sentia em casa, onde a violência física e a hostilidade eram rotina.
Os poemas do Hinário da Ciência Cristã sempre foram muito importantes para mim; uso-os constantemente como fonte de inspiração. Nas suas mensagens, percebo profundas orações que abrangem os mais diversos assuntos, como natureza e meio ambiente, relacionamentos, gratidão, proteção, suprimento, fé e muitos outros.
Recentemente, durante uma reunião de testemunhos na igreja da Ciência Cristã da qual sou membro, enquanto cantava um hino com a congregação, veio-me à lembrança uma cena vivida por mim há mais de vinte anos e da qual havia me esquecido. Recordei, enquanto cantava, este cenário: Era noite. Uma pessoa da família me agredia... Como adolescente, franzina e frágil, eu me sentia indefesa face ao meu agressor, visto que desde criança eu havia sido vítima constante de agressões físicas e abuso sexual.
Eu tinha aproximadamente seis anos de idade quando isso ocorreu pela primeira vez. Ao crescer em um ambiente violento, você se acostuma com ele e passa a crer que a agressão é uma coisa normal nas famílias. Acredita que todos os lares sejam assim e, preso a este sentimento, se entristece e se resigna ao sofrimento. Pelo menos, era isso que acontecia comigo.
Eu não racionalizava tais emoções na época, mas lembro-me de que não era feliz e tinha muito medo. Até que ocorreu a situação da qual me recordei, ao cantar o hino na igreja. Certa vez, enquanto era agredida, veio-me ao pensamento este trecho do hino 293: "Rocha santa, eternal, És Verdade divinal. Só em Ti vou repousar, Da tormenta, me abrigar. Rocha santa, eternal, És Verdade divinal. Fortaleza sem igual, és refúgio contra o mal. Dos sentidos fugirei, e a Ti me voltarei. Rocha santa, eternal, És Verdade divinal. Tu és Cristo, ser real, Fundamento espiritual. Nossos males vem curar, Paz na terra faz brotar. Rocha santa, eternal, És Verdade divinal". Comecei a cantá-lo mentalmente, mesmo durante aquele sofrimento, e uma sensação maravilhosa de paz tomou conta de mim. Senti-me no "refúgio contra o mal" e protegida, como afirma a letra do hino, e percebi, ali mesmo, que Deus me amava.
O leitor talvez se pergunte como alguém pode sentir paz e amor em uma atmosfera hostil, ou enquanto sofre uma agressão física. No livro Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy deu a seguinte definição para anjos: "Pensamentos de Deus que vêm ao homem; intuições espirituais, puras e perfeitas; a inspiração da bondade, da pureza e da imortalidade, neutralizando todo o mal, todo a sensualidade e mortalidade" (p. 581). Posso, então, afirmar que aquele hino me veio à mente em um momento de agressão e agiu como um anjo, pois tocou meu coração, transformou meu pensamento e, mentalmente, me retirou daquele cenário humano.
Durante a recente reunião de testemunhos, tive a mesma sensação de tranquilidade e paz que senti ao cantar o hino enquanto era agredida. Talvez aquela tenha sido a primeira vez em que eu pude sentir a Deus como Amor, como fonte de segurança e proteção.
A Bíblia conta que Jesus e seus discípulos cantaram hinos ao fim da ceia que antecedeu a ida para o Getsêmani, onde Jesus seria preso. Então, perguntei-me como eles tinham ânimo para cantar neste cenário? A resposta veio com a lembrança da cena que vivenciei na época. Eu me encontrava em uma situação difícil, também cantei e a mensagem angelical do hino me libertou do medo.
A agressividade em casa perdurou por mais algum tempo, mas a certeza da presença de Deus continuou comigo e manteve, sempre renovada, a expectativa da solução do problema. Aquele foi o início do processo de cura dessa situação, pois despertou minha fé e confiança na Ciência Cristã que, praticada durante os anos seguintes, trouxe cura de problemas físicos, econômicos e temperamentais, como vem fazendo para milhares de pessoas no mundo todo por meio dos ensinamentos de Mary Baker Eddy e pelas mensagens dos hinos.
Durante mais de 20 anos mantive recordações e mágoas. Além disso, sofria de pesadelos sobre o meu passado. Há quatro anos, a veiculação contínua de casos de agressão de pais contra filhos me trazia recordações passadas e me afligia. Entretanto, obtive a cura definitiva ao conversar com uma amiga Cientista Cristã após um culto dominical, momento em que compartilhei minha angústia.
Com ternura, ela me disse que eu não deveria me deixar expor a aflições antigas, não apenas porque não convivo mais com o autor das agressões, mas porque na realidade divina esses crimes de agressão nunca aconteceram. Compreendi que minha história real é espiritual, portanto, pura; como meu ser é infinito, jamais está sujeito ao dolo e ao mal. A partir daí, não tive mais pesadelos e, quando, às vezes, vem alguma lembrança ruim, oro para reconhecer meu ser espiritual, puro e livre do mal.
A Ciência Cristã foi fundamental para que eu superasse o pesar e o sofrimento psicológico. Também comprovou que o Amor divino é imparcial e toca o coração de todos. Isso ficou claro quando o antigo agressor me pediu desculpas pelos seus atos, começou a ler Ciência e Saúde e nunca mais repetiu as agressões. Meus irmãos, que também apanharam muito, hoje levam vidas normais e são pais carinhosos. Nossa união é uma das coisas pelas quais tenho mais gratidão a Deus.
Hoje, incluo em minhas orações as vítimas de violência, adultos e crianças de todo o mundo, e compreendo que a criação perfeita de Deus jamais pode causar o mal ou sofrer. Agora e sempre todos podemos sentir a proteção do Amor divino.
