Artigo originalmente publicado na edição de maio de 2000 de The Christian Science Journal.
Quando fiz o Curso Primário de Ciência Cristã, aprendi a conhecer a Deus pelos Seus atributos, as qualidades que expressam Sua natureza. Descobri que eles são uma poderosa ajuda para a compreensão da minha verdadeira natureza como imagem e semelhança de Deus. Entretanto, havia uma qualidade que me escapava: a humildade. Sabia que eu não a expressava, mas que ela era essencial para o desenvolvimento da minha capacidade de curar outros por meio da oração.
Estava determinada a encontrála. Li em um dos escritos de Mary Baker Eddy: "A humildade é o ponto de apoio no caminho para um reconhecimento mais elevado da Deidade. A consciência, ao elevarse, colhe novas formas e aviva uma chama singular das cinzas do eu que vai se dissipando, e ela renuncia ao mundo. A mansidão realça os atributos imortais simplesmente por remover o pó os ofusca" (Miscellaneous Writings 1883-1896, p. 1). Durante dois anos, ansiei por humildade e me empenhei por ela, mas nunca sentia que a havia alcançado. Houve ocasiões em que realmente chorei em minha luta para obter essa virtude inestimável. Naquela época não compreendia isso, mas, rememorando agora, posso perceber que a sinceridade da minha busca era, em si mesma, uma forma de oração e que durante todo aquele tempo Deus estava purificando minha consciência. Por meio do poder sanador de Seu Cristo sempre-presente, Ele estava me ajudando a tirar o eu do centro de minha experiência e, assim, adquirir humildade. "A consciência, ao elevar-se, colhe novas formas e aviva uma chama singular das cinzas do eu que vai se dissipando...". Era isso que estava acontecendo.
O oposto da humildade é o orgulho e a arrogância, traços que são elementos típicos do pensamento mortal e materialista e se constituem em grandes obstáculos ao crescimento espiritual. São o produto de um senso pessoal de ego separado de Deus, da crença de que somos realizadores de algo em virtude de nosso próprio intelecto. Uma visão mortal sobre nós mesmos, por não perceber a inteireza e o valor da nossa verdadeira identidade em Deus, tende a se envergonhar caso não tenha alguma realização humana da qual se orgulhar. Argumenta a favor de um pequeno ego que tem certas simpatias e antipatias. Esse ego geralmente tem um plano que quer realizar a qualquer custo, deseja escolher seu próprio caminho e defende suas próprias opiniões.
Cristo Jesus era totalmente desprendido do ego. Ele disse: "Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo" (João 5:30). Ele compreendia plenamente que não somos criadores e que não podemos realizar nada em separado de nosso Criador. O Mestre ensinou e provou essa total dependência de Deus, o Princípio divino da existência. Ela estava sempre atento à inspiração do Espírito e, porque estava atento, ele ouvia e, por ouvir o Pai, conseguia distinguir entre a verdade e o erro. Ele manifestava o verdadeiro reflexo, ou seja, a identidade como imagem de Deus. Fazer isso é expressar humildade. Ao responder à pergunta "O que é homem?", Mary Baker Eddy escreveu: "... aquilo que não possui vida, inteligência, nem poder criador próprios, mas reflete espiritualmente tudo o que pertence a seu Criador" (Ciência e Saúde, p. 475).
Um mortal tem muito a superar. Era isso o que estava acontecendo comigo, à medida que estudava, ponderava e orava. Estava libertando meu pensamento e deixando de ver todas as coisas como fundamentadas na matéria, embora entrelaçadas com espiritualidade. Agora, começava a vislumbrar a unicidade e totalidade de Deus, o Espírito. Estava percebendo que tudo o que verdadeiramente existe pertence a Ele, que tudo é Deus, o bem, e Sua manifestação. Isso agora significa para mim que a criação é a evidência tangível de que Deus existe.
Abri o livro Retrospecção e Introspecção eli a experiência de Mary Baker Eddy sobre humildade. Ela discorreu sobre o "pecado não percebido", o de confiar em coisas materiais. Então, ela disse: "Contemplei a aberração material da mente mortal e fiquei envergonhada. A face do orgulho empalideceu. Meu coração curvouse profundamente ante a onipotência do Espírito, e um halo de humildade, suave como a carícia do luar, envolveu a terra com um manto" (p. 31). Duas coisas se destacaram para mim: que ela percebeu a aberração do mal e reconheceu a supremacia do Pai. Essas são as exigências para se alcançar a humildade em seu senso mais profundo e eu compreendi que começava a conquistá-la.
A humildade nos leva a ver que não somos uma espécie de mortal que precisa impor certas opiniões particulares aos outros, e sentir orgulho e justificação ao fazê-lo. Ela nos mostra que somos imortais, em total submissão ao Espírito. Adquirir essa compreensão é um importante objetivo, se quisermos nos tornar sanadores cristãos. É vital que abandonemos progressivamente a crença equivocada de que sejamos mortais, de que tenhamos mente e vontade separadas, vida individual à parte da única Vida divina. Isso é alcançado quando oramos e nos empenhamos em viver a vida em consonância com Deus, em refletir a natureza divina em tudo o que fazemos.
Jesus e seus discípulos eram homens humildes. Eles tinham pouco daquilo que o mundo chamaria de conhecimento intelectual, mas esses homens de Deus olhavam de maneira profunda para a realidade, para as coisas do Espírito, e não julgavam segundo a aparência exterior. Expressavam grande reverência, que também é um requisito para a humildade.
Ore por humildade e anseie por ela! Fazer isso é uma reivindicação vigorosa, prática e corajosa da nossa união com Deus. A humildade nos salvará da humilhação. Não podemos deixar de ser bem sucedidos quando a praticamos. Ela nos deixa em sintonia com a Verdade que se afirma e se comprova por meio de sua própria força dinâmica.
As pessoas que alcançam um grau mais elevado de humildade, por cederem ao governo de Deus e discernirem a realidade de Sua criação, talvez não estejam conscientes de que fizeram isso. Elas talvez apenas saibam com maior convicção que nunca se apartaram de Deus, sua fonte e origem. Cada vez mais elas desafiam a falsa evidência do caos, da doença, do pecado e do medo por serem estes irreais e inverídicos, desprovidos de lugar, identidade e substância. Elas sabem, com certeza crescente, que a Mente divina é Tudo em tudo. Elas veem a si mesmas mais claramente como a própria imagem de Deus, herdeiras de tudo o que é real e bom. Sabem que incluem a perfeição em todos os aspectos de seu ser e que podem provar que isso é verdadeiro, assim na terra como no céu.
Expressar a humildade que leva a uma compreensão mais profunda de Deus nos capacita a reconhecer que o reino de Deus já veio, que o reinado da Mente pura é agora e sempre e que essa Mente é o único poder e a única presença. Compreendemos com uma clareza cada vez mais profunda que o mal é uma negação, não um fato sustentado por Deus. Percebemos sua natureza agressiva, mas não tememos seus cenários negativos. Ao admitir humildemente a totalidade de Deus, compreendemos conscienciosamente que somente o bem é real e que já está evidente aqui, de forma tangível.
Se virmos o que aparenta ser um doente ou um moribundo, a humildade nos capacita a estar absolutamente convictos da verdade de que o filho de Deus está bem, perfeito, vibrante, completo e presente, exatamente agora. Não combatemos o mal partindo da ilusão, em outras palavras, com o pensamento concentrado na doença, no acidente ou em qualquer outra calamidade. Ao contrário, sabemos que a aparência do mal é a névoa da mentalidade mortal; que os argumentos da serpente e a própria serpente, como relata a alegoria bíblica (ver Gênesis 3), são fictícios e totalmente falsos. A luz brilhante da Verdade, mantida no pensamento, dissipa a névoa; e a harmoniam, que é eternamente verdadeira, torna-se novamente evidente. Tudo isso é possível por intermédio da humildade.
Expressar a humildade que leva a uma compreensão mais profunda de Deus nos capacita a reconhecer que o reino de Deus já veio, que o reinado da Mente pura é agora e sempre e que essa Mente é o único poder e a única presença.
Esteja disposto a abandonar um falso conceito do ego. Isso é humildade. É algo pelo qual tenho me empenhado a cada dia e podemos todos trabalhar nesse sentido. Amar a Deus supremamente exige um grande sacrifício do ego. Exige um reconhecimento crescente do fato de que, como afirma Mary Baker Eddy: "O Ego-homem é o reflexo do Ego-Deus" (Ciência e Saúde, p. 281). É nossa tarefa vivenciar isso de tal maneira que Deus seja reconhecido no lugar onde nos encontramos.
Dediquemo-nos à vocação cristã de curar mediante o poder de Deus, a Mente divina, e lembremo-nos da importância da humildade ao fazê-lo. "A humildade é a lente e o prisma que permitem a compreensão da cura pela Mente", declarou Mary Baker Eddy em Miscellaneous Writings, p. 356. Podemos provar que isso é verdadeiro e colher os frutos do nosso trabalho de cura.
 
    
