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Acalentemos nossa inocência

Da edição de outubro de 2011 dO Arauto da Ciência Cristã


Quando eu estava na faculdade, trabalhei durante algum tempo como garçonete em uma lanchonete. Nesse local, havia uma placa na parede acima da grelha, com a qual eu discordava, onde se lia: "A virtude é seu próprio castigo".

A época da faculdade, sem dúvida nenhuma, foi marcante em minha vida. Nesse período entre a adolescência e a maturidade, a voz generalizada da sociedade era que todas as coisas importantes da vida só podiam ser encontradas nos prazeres da matéria. De alguma forma, eu sabia instintivamente que as coisas não eram bem assim.

É claro que eu tive algumas tentações, como todo mundo, e cometi alguns erros. Entretanto, a virtude e a inocência, as qualidades naturais da criança e a pureza que eu havia sentido ao crescer em uma família que praticava a Ciência Cristã, ou seja, as leis divinas que libertam do pecado, da doença e da morte, continuaram a ressoar em meu pensamento, de forma clara e inequívoca. Comprovei muitas vezes a grande bondade que resulta da qualidade espiritual da inocência e aprendi na faculdade que o empenho em defender essa qualidade não é apenas uma atitude boa, mas algo simplesmente vital à nossa capacidade de fazer a diferença no mundo.

Meu lema se tornou exatamente o oposto da citação exposta na lanchonete onde trabalhei, e é esta corajosa declaração de Mary Baker Eddy: "Filhinhos amados, o mundo precisa de vós—e mais como crianças do que como homens e mulheres: precisa de vossa inocência, vosso altruísmo, vosso afeto sincero, vossa vida incontaminada. Precisais também vigiar e orar para que preserveis imaculadas essas virtudes, e para que não as percais no contato com o mundo. Que ambição mais grandiosa pode haver do que a de manter em vós aquilo que Jesus amou, e saber que vosso exemplo, mais do que as palavras, estabelece a moral para a humanidade!" (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883-1896, p. 110).

Como Deus é Luz infinita, não sobra nenhum espaço para a obscuridade do egoísmo nem para a área sombria do medo

Gosto muito da maneira como esse trecho se refere à infância, não em termos de anos, mas em termos de qualidades, como "inocência, altruísmo, afeto sincero, vida incontaminada". Para muitos de nós, a infância parece ser um período curto da vida que começa quando nascemos, como uma folha em branco; então, gradualmente, ou não tão gradualmente, começamos a cometer erros, ter mau comportamento e ser vítimas dos outros, até que o mundo simplesmente nos convença de que o mal, a sensualidade e o egoísmo fazem parte da vida. As marcas de nossa história de vida podem ter um forte efeito em nosso pensamento e fazer com que sintamos que os dias alegres e despreocupados da infância não voltarão mais.

Mas essas qualidades naturais da criança, quando consideradas como atributos de Deus, transcendem idade, tempo, espaço e até mesmo a sensação de tédio da idade adulta ou episódios de muita depravação. A inocência caracteriza nosso relacionamento permanente e imutável com Deus. Em realidade, cada um de nós é, eternamente, o descendente de Deus, o Amor divino. Por isso, esse relacionamento não pode ser modificado por nenhum registro de comportamento mortal.

Gosto de comparar a nossa inocência com as luzes de um palco de teatro. Durante as apresentações essas luzes mudam de cor devido aos filtros coloridos que são colocados sobre elas. Dessa forma, a luz branca parece verde, vermelha, azul, etc. Esses filtros, porém, não alteram a substância das ondas de luz. A luz permanece clara e, quando os filtros são removidos, verificamos que a luz não foi modificada devido ao que foi colocado sobre ela.

Semelhantemente, a Ciência Cristã revela que a verdadeira composição ou identidade do homem é pura e inocente, porque ela é a emanação ou expressão de Deus, a única fonte. A Bíblia declara: "Deus é luz, e não hã nele treva nenhuma" (1 João 1:5). Em outras palavras, Deus, ou a soma total de todo ser, é Luz infinita. Por essa razão, não sobra nenhum espaço para a obscuridade do egoísmo ou para a área sombria do medo e do pecado ocupar, nem para marcas no verdadeiro histórico do ser do homem. Nós somos o próprio resplendor da natureza pura e espiritual de Deus.

Como filhos de Deus, todos nós temos a missão altruísta e o propósito espiritualmente estabelecido de expressar a Deus

Inocência indica pureza e isenção de culpa, bem como nossa natureza original e primitiva. Existe um desejo inato em cada um de nós de ser o que verdadeiramente somos como expressão de Deus, como o efeito perfeito do Deus perfeito. Por essa razão, não importa o quanto o mundo diga que ser inocente é ser ingênuo; a inocência, como a própria consciência da Mente divina, é a base do discernimento e da inteligência.

Constatei o discernimento que advém da inocência infantil certa vez quando estava contando para um dos meus netos uma cura de tontura que eu havia tido. Disse a ele que a Praticista da Ciência Cristã, para quem eu havia telefonado pedindo tratamento pela oração, lembrou-me que eu deveria reconhecer claramente a totalidade de Deus, o Espírito, e a nulidade da matéria. Meu neto interrompeu meu relato e perguntou: "Vovó, você já não sabia isso"? Sua pura convicção das verdades acerca do ser espiritual era muito prática! Ele não ficou contestando essas verdades com perguntas existenciais ou argumentos filosóficos. Ele as encarava como um fato científico. Além disso, o poder com que ele compreendia essas ideias resultou na cura da dor de cabeça que eu estava sentindo naquela ocasião.

Talvez alguns não concordem que o altruísmo seja um atributo da criança. (Às vezes, a choradeira e a manha podem nos fazer crer que o egocentrismo é muito natural na criança!) Mas é importante não confundir imaturidade com inocência. Como filhos de Deus, ideias espirituais da Mente divina, todos nós temos a missão altruísta e o propósito espiritualmente estabelecido de expressar a Deus. O mero fato de sermos a expressão de Deus tem um efeito curativo sobre aqueles com quem entramos em contato. Tive um vislumbre especialmente claro disso certo dia quando estava no supermercado com minha neta, que tinha na época seis meses de idade. Ela estava sentada no carrinho do supermercado sorrindo e interagindo com todos que passavam. As pessoas paravam para apreciar o seu contentamento e depois seguiam, sentindo-se visivelmente bem e alegres. Foi uma grande lição para mim perceber o poder transformador da irradiação do amor de Deus de modo altruísta, sem qualquer ideia preconcebida sobre aparência, condição social, idade ou gênero das outras pessoas. Foi como se, mesmo naquela tenra idade, ela estivesse plenamente engajada em seu ministério de cura.

Eu estava me sentindo mal e sem disposição para orar

O afeto sincero é também um atributo poderoso que faz parte das qualidades naturais da criança. Tenho constatado como ele pode amolecer e conquistar o coração mais empedernido. Quando minhas duas filhas mais velhas estavam na pré-escola, de vez em quando elas visitavam os avós no fim de semana. A avó interagia e externava seu carinho para com as netas. O avô ficava sentado em sua cadeira assistindo ao futebol, sem saber exatamente o que fazer com aquelas garotinhas. Mas as meninas simplesmente ignoravam o modo brusco do avô. Elas subiam no seu colo, quer fossem convidadas ou não, e faziam isso toda vez que iam visitá-lo, até que acabaram conquistando sua simpatia. Não demorou muito e o avô passou a correr para encontrá-las quando ouvia o carro entrando na garagem. Ele as suspendia no ar, preparava lanche para elas e pegava a bola para brincarem. Nunca vi alguém mudar tanto como ele! Isso me convenceu de que todos precisam do afeto inocente que a criança expressa, quer demonstrem ou não.

O afeto sincero é também um atributo poderoso que faz parte das qualidades naturais da criança. Tenho constatado como ele pode amolecer e conquistar o coração mais empedernido.

Viver uma vida incontaminada é outro tesouro da infância. Cristo Jesus ensinou a seus seguidores: "Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus" (Mateus 18:3). Para mim, isso significa que não podemos encontrar alegria, saúde e paz, nem um sentido verdadeiramente abençoado de vida se não ocuparmos nosso lugar na criação como filhos de Deus. A obra de Deus já está feita. Temos de ser Sua expressão e se, por qualquer razão, tentamos ser a fonte de nossa própria vida, nas palavras de Jesus, podemos sempre "nascer de novo" (ver João 3:7), e nos deixar conduzir com renovado vigor ao nosso correto ponto de partida e ao nosso relacionamento com o Princípio divino. Esse alinhamento, que ocorre quando nos "tornamos como criancinhas", remove as imposições que parecem ocultar nossa saúde e nosso bem-estar. Ele dissolve os medos que contaminam o pensamento, os vícios obscuros e os desejos sensuais. Elimina o peso e o egotismo de tentarmos viver uma vida separada de Deus, que é Vida.

Uma experiência que tive há alguns anos, com certeza comprovou o valor de se cultivar a receptividade que as crianças expressam. Nossa família estava se preparando para as férias, quando comecei a sentir sintomas de resfriado, acompanhados de congestão nasal e tosse. Não tive a oportunidade de orar para mim mesma como habitualmente fazia, porque estava ocupada demais com a preparação da viagem. Eu acreditava que poderia orar quando estivéssemos na estrada. Mas, quando começamos a viagem, eu comecei a me sentir muito mal com o barulho e a movimentação das crianças no carro, e sem muita disposição para orar. Finalmente, quando chegamos ao nosso destino, a família saiu para passear na praia, e eu fiquei sozinha. Nesse momento, eu desejava muito orar. No início, tive alguma dificuldade para colocar meus pensamentos em ordem para poder ouvir as mensagens de amor que Deus tinha para mim.

Senti um grande alívio ao me realinhar com minha inocência

Mas, à medida que eu persistia, comecei a compreender que o grande desconforto que eu estava sentindo não era realmente físico; o que me incomodava era o fato de me sentir tão ocupada em levar avante uma vida mortal. Eu não me sentia como uma filha de Deus. Sentia-me como um mero mortal adulto, sobrecarregado de responsabilidades e dos cuidados do mundo.

Naqueles momentos de oração, eu sentia que o Amor divino estava me dizendo, mais como uma intuição do que exatamente com palavras: "Apenas descanse. Você é 'minha filha amada em quem eu me comprazo'. Minha criação está completa e é completamente boa, e é sua tarefa desfrutar calmamente de seu desdobramento em cada momento, dia após dia". Que percepção maravilhosa acerca da minha inocência! Pude perceber que havia tanto egotismo naquele "eu" que se esforçava para ser bom, a partir de sua própria base, quanto, por assim dizer, na atitude de me esquivar das obrigações e me comportar egoisticamente. Talvez uma delas possa ser detectada mais facilmente, mas nenhuma dessas duas fases de egotismo representa a liberdade inocente, alegre e tranquila dos filhos e filhas de Deus.

Senti um grande alívio ao me realinhar com minha inocência dessa maneira. Senti-me reconfortada nessa sensação repousante da benção de Deus para mim, por cerca de três horas. Naquela noite, fui para a cama com uma caixa de lenços de papel, mas não precisei mais recorrer a eles. De manhã, não havia nenhum vestígio de congestão nasal ou de tosse.

Poderia haver algo mais glorioso do que saber que o que se espera de nós é que sejamos como crianças? Fomos criados para isso e se espera que assim seja, e justamente por sermos quem verdadeiramente somos na condição de filhos de Deus, somos também os mais eficientes para cumprir o nosso propósito de curar e abençoar nosso próximo, tanto homens quanto mulheres. A inocência nos resgata da história da vida material, das acusações contaminadoras do pecado, da doença e da morte. Ela nos alinha com o ponto de partida da Vida, que é Deus. Essa premissa revela que o reino dos céus está à mão, presente agora mesmo, exatamente onde estamos, com toda a sua efusão de alegria, saúde e amor.

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