Ser professora substituta foi algo que desfrutei durante vários anos e aceitei esse cargo porque amava trabalhar com crianças. Em cada sala de aula, eu sempre entrava com o desejo de me conectar com elas e, de alguma forma, poder ser-lhes útil. É tão gratificante ver a luz da inteligência despontar nos olhos de um aluno quando ele compreende a lição e percebe que alguém se interessa. É uma atividade com desafios e recompensas, que muitas vezes exige flexibilidade e um senso de aventura.
Lembro-me, por exemplo, do dia em que substituí a professora de ginástica e, logo no dia seguinte, precisei aprender em cinco minutos a linguagem de sinais para poder substituir a professora das crianças com deficiências auditivas. Uma das minhas metas como substituta sempre foi a de abordar, por meio da oração, qualquer senso de autolimitação das crianças.
Como estudante da Ciência Cristã, acostumei-me a levar para a sala de aula, a ideia de identificar cada aluno como um filho de Deus, totalmente capacitado, criado à Sua imagem e semelhança.
Eles discutiam sobre tudo, sobre lápis e papel, sobre o trabalho em classe, sobre quem chegava primeiro na fila
Gosto da forma como, na p. 465 de Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy identificou a Deus como Mente, Espírito, Alma, Princípio, Vida, Verdade, e Amor (os sete sinônimos para Deus). Desejava ver que cada criança na sala de aula refletia, de alguma forma, alguns desses sinônimos de Deus, o que ficava comprovado quando elas demonstravam inteligência, entusiasmo, organização, energia, honestidade e cuidado.
Uma experiência em particular se destaca para mim. Estava em reunião com uma professora que se preparava para tirar licença prêmio. "Prepare-se", disse ela, falando sobre sua classe: "Eles discutem e brigam o tempo todo!" Esse comentário não me deixou muito à vontade e logo descobri que esses alunos discutiam uns com os outros a maior parte do tempo e, muitas vezes, comigo também.
Eles discutiam sobre lápis e papel, sobre o trabalho em classe, sobre quem chegava primeiro na fila. Eles debatiam até mesmo sobre quem era o mais inteligente, o pior, o mais forte, o mais ágil, etc. De fato, os outros professores se surpreendiam com a capacidade que tinham de discutir sobre as menores coisas.
Para mim, tudo dependia de uma compreensão da identidade espiritual das crianças, por meio da oração
Entretanto, a meu ver, o aspecto mais preocupante no comportamento deles era quando as discussões incluíam xingamentos. Ao refletir sobre o temperamento dessa turma, descobri que eu tinha um forte desejo de amenizar a situação. Discutir parecia ser uma forma de interação social para eles, pois eles realmente pareciam sentir prazer em fazê-lo! Mas também pude perceber que isso não era uma diversão inofensiva. Muitas vezes resultava em sentimentos feridos e, ocasionalmente, as crianças identificavam a si mesmas como estúpidas, mesquinhas ou rudes.
Para mim, tudo dependia de uma compreensão da identidade espiritual das crianças, por meio da oração. Era necessário adquirir um sentido mais amplo da identidade espiritual delas. Sabia que as discussões e xingamentos não podiam continuar, uma vez que, como filhos do único Pai divino, a herança deles era refletir o Amor. Ao ponderar a respeito de como ajudar as crianças a superarem as brigas, decidi manter meu pensamento em sintonia com o que Deus sabe a respeito de cada criança, a cada minuto do dia.
Quando uma discussão começava ou um comentário rude era dirigido a alguém, eu o rebatia primeiro em meu pensamento, identificando toda a classe espiritualmente, constituída de filhos amorosos de Deus, antes de intervir como professora para corrigir a situação. Lembro-me bem do olhar surpreso de um estudante quando, após ser criticado por outra criança, ele comentou sobre sua própria estupidez e eu respondi que, na verdade, ele era muito inteligente e nada que fosse dito em contrário poderia mudar esse fato.
Havia dias em que me sentia desanimada. Às vezes, a situação parecia difícil, mas me recusava a ser envolvida nas discussões e sempre orava para saber que os falsos rótulos não podiam impedir que as qualidades de Deus viessem à luz. Aos poucos, uma atitude geral de gentileza foi se tornando evidente, embora as brigas e xingamentos continuassem em outros momentos. Quando comentava sobre a rapidez com que alguém havia resolvido um problema, às vezes, um dos alunos acrescentava seu próprio elogio. Nesses casos, eu compreendia aquilo que Cristo Jesus nos exortou a fazer quando disse: "O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei" (João 15:12).
Poucas semanas antes das férias de Natal, incentivei a turma participar de uma atividade que consistia em identificar qualidades positivas um no outro.
Cada criança na classe que passava por aquela árvore várias vezes ao dia parava para ler novamente as folhas
Pedi que as crianças escrevessem seu nome no topo de um pedaço de papel. Os papéis deviam então circular pela sala e todos os alunos foram convidados a escrever um comentário positivo sobre o aluno cujo nome estivesse no topo da página. Depois, cada criança foi informada sobre sua lista de boas qualidades, a qual foi colada em outra folha de papel para ser pendurada na árvore que a turma havia feito como decoração para o nosso corredor. Todos na escola podiam ver a árvore e ler as folhas. Cada criança da nossa classe passava por aquela árvore várias vezes ao dia e, a cada vez, parava para ler as folhas novamente. Nossa classe recebeu muitos elogios por causa da árvore. Alguns pais também manifestaram sua apreciação pela árvore e pelos bons comentários favoráveis a seus filhos.
Para mim, essa experiência não foi apenas um exercício para que os alunos se sentissem bem elogiando seus colegas, ou o trabalho de uma professora para que mudassem. Considero-a como a evidência do pensamento cedendo a um senso mais espiritual e refletindo as qualidades naturais dadas por Deus.
Estava muito grata por ver que elas haviam se tornado muito mais gentis em suas interações umas com as outras, e que o comportamento belicoso havia terminado.
Penso que a harmonia que estabeleci no pensamento, em espírito de oração, ajudou a pavimentar o caminho para que os alunos reconhecessem o que eles tinham para dar. Embora não houvesse evidência de grande progresso ao término do projeto, persisti na oração diária para ficar mais alerta às qualidades espirituais das crianças.
Certo dia, pouco antes do feriado de Natal, a professora titular voltou a lecionar. Minha tarefa terminara e, de repente, dei-me conta de quanta falta sentiria daquelas crianças todos os dias. Estava muito grata por ver que elas haviam se tornado muito mais gentis em suas interações umas com as outras, e que o comportamento belicoso havia terminado. Na despedida, dei e recebi muitos abraços.
As tarefas de professora substituta muitas vezes me levam a ponderar se eu não estaria aprendendo tanto quanto, ou até mais do que as crianças. Nesse caso, aprendi o quanto é importante identificar a verdadeira individualidade espiritual de cada pessoa. Qualquer que seja a situação, quer se apresente como a teimosia de um familiar, como a indiferença por parte de um membro da igreja, ou como a conduta antiética por parte de um colega de trabalho, se acreditarmos nos argumentos que limitariam ou atrelariam qualidades não divinas aos outros ou a nós mesmos, não estaremos sendo honestos e consistentes em relação à nossa herança espiritual como entes amados de Deus.
Para mim, nossa escolha em "não-ver" ou não acreditar nos falsos argumentos sobre nós mesmos e sobre os outros, é uma disposição ativa para ver e compreender a identidade espiritual de todos os filhos de Deus.
Os falsos argumentos devem ceder à verdadeira identidade espiritual do homem por meio do poder do Amor divino. Realmente sinto que cada um de nós tem a capacidade natural para perceber as qualidades divinas, tanto em nós mesmos quanto nos outros.
ERRATA: Na p. 27 da edição de setembro de 2011, onde está escrito: "O Cristo rompre instantaneamente por meio do terror dessa mulher e a fez sentir a presença de Deus", leia-se: "O Cristo rompeu instantaneamente o terror dessa mulher e a fez sentir a presença de Deus".
 
    
