Será que somos seres inerentemente sexuais, que não conseguem viver felizes sem sexo?
Por que a sensualidade parece prazerosa, se é considerada um "pecado"? Se for isso mesmo, "enganaria" Deus Seus filhos fazendo com que tenham prazer em algo que seja errado?
É correto ser sensual?
Sempre tive muitas dúvidas desse tipo e algumas das mais intrigantes estavam ligadas a sexo e relacionamentos.
Enquanto crescia, a promiscuidade sexual me era constantemente apresentada como natural, boa, inevitável e necessária, pelos meus pais e pelos adultos mais próximos de mim. Depois de certo tempo, porém, notei que algumas práticas sensuais ao meu redor levavam à desarmonia. Percebi que os relacionamentos nunca duravam muito e não pareciam felizes ou satisfatórios. Ocorriam infidelidades, surgiam sérios problemas financeiros e as famílias se desfaziam.
Mergulhei meu pensamento na sensualidade, concentrando-me cada vez mais exclusivamente no que eu sentia e no que eu queria
Não estava exatamente certa se o desespero e a discórdia estavam ligados à atmosfera sensual ou se eles eram consequência de outros fatores. Mas, enquanto tinha dúvidas sobre os méritos da sensualidade, comecei a sentir um forte desejo por gratificação sexual. Nos primeiros anos do ensino médio, quando esses sentimentos começaram a aumentar, decidi que, como ainda não havia encontrado respostas satisfatórias, mas somente mais questionamentos, talvez eu pudesse experimentar e sentir prazer ao me envolver sexualmente.
Comecei a sair com um novo grupo de amigos. A maior parte de nossas conversas girava em torno de nossas preferências sexuais, nossas mudanças de gostos, nossa orientação sexual, os relacionamentos que já tínhamos tido e os que queríamos ter, e até mesmo dos objetos sexuais que usávamos para sentir prazer. Embora eu nunca tivesse realmente ido "até o fim", havia muita experimentação, autogratificação e alguns vídeos pornográficos. Portanto, mergulhei meu pensamento na sensualidade, concentrando-me cada vez mais exclusivamente no que eu sentia e no que eu desejava.
Estar rodeada de pensamentos centrados no físico, opostos aos pensamentos centrados em Deus, produziu efeito sobre mim, e comecei a ter experiências aleatórias na escola, tanto com rapazes quanto com moças. Não estabelecia nenhum vínculo com nenhuma dessas pessoas, tratava-se unicamente de satisfação física.
Durante toda essa situação, sempre amei a Deus, tentava ser uma boa pessoa e estudava diariamente a Lição Bíblica Semanal da Cristã. Tinha uma vaga ideia de que meus pensamentos sensuais e meu comportamento não combinavam com o que aprendia sobre Deus, mas eu não compreendia por que essas duas coisas, prazer na matéria e alegria no Espírito, não combinavam.
Achava que nunca conseguiria ser pura como os outros eram
Ocasionalmente, quando me sentia incomodada com a situação, tentava abandonar meu comportamento por meio da força de vontade, mas isso sempre acabava falhando no final. Parecia que não conseguia parar. A atividade sexual estava começando a ser um vício. À medida que continuava com esse comportamento, descobri que precisava cada vez mais de estímulo físico para continuar e cada vez com mais frequência. Não conseguia me concentrar nas tarefas da escola e, o mais importante, comecei a me sentir distante da pureza de Deus, o Amor divino. Também parei de ver as pessoas pelo que realmente eram. Quando encontrava alguém, imediatamente pensava nesse alguém sexualmente, ao invés de levar em consideração suas boas qualidades. O conflito interior que sentia se tornou persistente.
O preço que tudo isso estava me custando começou a vir à tona, mas eu ainda não associara completamente minha inquietação à maneira pela qual estava levando a vida. Desejava muito saber se isso estava certo, mas não conseguia atinar com alguma resposta; alguns dias, achava que a promiscuidade sexual era divertida e inofensiva, mas em outros dias, ficava frustrada e insatisfeita.
Nessa época, havia pessoas em minha vida que exemplificavam um forte senso de pureza e inocência com relação à intimidade. Elas pareciam cheias de paz e eu desejava ser como elas. Entretanto, pensava que eu era apenas "diferente", atormentada por uma necessidade sexual que era incontrolável, e achava que nunca conseguiria ser tão pura como elas.
Desconhecia que a revelação de um senso de pureza nem sempre nos cai do céu, mas é verdadeiramente algo que inúmeras pessoas se empenham em descobrir. Despertar para o nosso direito inato à pureza e ao equilíbrio pode muitas vezes ser complicado, mas descobri que essas coisas se revelam como resultado de um empenho espiritual e de uma aproximação mais íntima com Deus. Como naquela época eu achava que não seria possível ser pura como aqueles que eu admirava, continuei a me envolver sexualmente.
Sabia que não podia continuar trilhando o caminho que me levou ao sofrimento que eu sentia
Após um ano e meio, porém, fui atraída por alguém e essa atração parecia radicalmente diferente de outros encontros anteriores. Nós realmente não fomos além do que eu costumava ir com outros, mas, por alguma razão, sentia uma extrema intimidade. Era como se nós não fôssemos sentir apenas satisfação. Isso fez com que meu mundo ficasse de cabeça para baixo. Fiquei muito confusa porque sabia que eu não o amava e que ele não me amava também. De fato, nenhum de nós estava interessado em qualquer coisa, exceto em uma noite de prazer juntos. Mas, por alguma razão, quando estávamos juntos, parecíamos o par perfeito. Depois eu ficava extremamente perturbada; estava obcecada por esse rapaz, chorava o tempo todo e não me sentia em paz. O efeito que isso teve em minha vida fez com que eu não mais conseguisse fingir que a sexualidade, que é destituída de um compromisso espiritual e emocional, fosse divertida e inofensiva. Depois disso, decidi não continuar com esses "encontros". Finalmente tinha de descobrir, de uma vez por todas, se meu comportamento era realmente destrutivo e, caso o fosse, por que o seria. Então, fiz uso daquilo que eu sabia sobre Deus e de como Ele nos vê como Seus filhos, a fim de refletir a respeito dessas importantes questões.
Estava realmente receptiva para ouvir a Deus, não importando quais seriam as lições a serem aprendidas. Minha intuição me dizia que talvez eu devesse parar de perseguir o prazer daquela maneira, e isso me amedrontou porque significava abrir mão de muito do que eu achava que constituía minha identidade. Mas sabia que não podia continuar trilhando o caminho que me levou ao sofrimento que eu sentia.
Durante esse processo, encontrei algo em Ciência e Saúde que calou fundo em mim, em que a autora, Mary Baker Eddy escreveu: "Em um mundo de pecado e sensualidade, que se precipita para um maior desenvolvimento de poder, é prudente considerar a sério se é a mente humana ou a Mente divina que nos está influenciando" (pp. 82-83).
Uma vez que o Espírito é amoroso, podemos ter a expectativa de encontrar exatamente a maneira certa de expressar o verdadeiro amor e solicitude por outra pessoa
Com a ajuda e o incentivo de uma amiga que fora curada, tanto do comportamento sensual quanto do vício por álcool, consegui me volver sinceramente a Deus em busca de respostas. Na verdade, não procurei a ajuda de um Praticista da Ciência Cristã sobre esse problema. Para ser honesta, isso não me ocorreu.
Eu já havia vivenciado e testemunhado curas espirituais muitas vezes em minha vida, por isso, a oração, como nos ensina a Ciência Cristã, impelindo-nos a pôr em prática os princípios da cura empregados por Jesus, pareceu natural para mim. Meu pensamento começou gradualmente a mudar, levando-me a uma visão mais elevada de mim mesma e das outras pessoas. Pelo simples fato de me volver a Deus, senti como se me tivessem tirado um enorme peso dos ombros.
À medida que ponderava e orava, descobria que a verdadeira satisfação não provinha do prazer sexual. O desejo de ter mais prazer sempre voltava. Eu ainda não compreendia como era possível me sentir satisfeita, portanto, continuei a ouvir a Deus. Minhas orações me levaram a considerar o conceito espiritual de homem na Ciência Cristã. Ciência e Saúde descreve "o homem" como "feito à imagem e semelhança de Deus" (p. 475). Compreendi que, uma vez que o homem é espiritual, a matéria, o oposto de Deus, o Espírito, nunca poderia trazer satisfação. Compreendi também que, se eu fosse esperar que o corpo me satisfizesse, teria de esperar eternamente. A matéria é ilusória, efêmera, fugaz. Cada um de nós é uma ideia do Amor divino, e é sustentado somente pela substância do Espírito. Uma vez que o Espírito é amoroso, podemos ter a expectativa de encontrar exatamente a maneira certa de expressar o verdadeiro amor e solicitude por outra pessoa.
Mesmo enquanto progredia espiritualmente, havia um constante conflito entre esse esforço e o que parecia que meu corpo queria. Fiquei face a face com esta questão: Teria Deus nos criado para termos de vivenciar essa batalha tão torturante? Minha pergunta foi respondida enquanto ponderava sobre a natureza do Amor divino.
Essa avidez pelo prazer físico podia realmente ser curada, mesmo no meu caso
Um dos versículos bíblicos de que gosto muito é: "Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí" (Jeremias 31:3). Para mim, isso quer dizer que Deus sempre nos amou, ama e sempre nos amará. Se Deus nos criou com "benignidade", não seria benigno criar-nos não somente para funcionar na vida, mas também para prosperar, livres de um desejo constante e importuno?
Ao compreender melhor o Amor divino, comecei a assimilar que para Deus não seria possível que vivenciássemos tal conflito. Deus jamais leva o homem à confusão, porque nosso direito inato é a perfeita clareza.
A compreensão final foi que essa avidez pelo prazer físico podia realmente ser curada, inclusive no meu caso.
Gosto muito desta passagem da Bíblia: "Vocês pensam que alguém será capaz de nos separar à força do amor de Cristo por nós? De maneira alguma! ... nem mesmo o pior pecado já registrado nas Escrituras ... pode ficar entre nós e o amor de Deus" (ver Romanos 8:35-39, The Message [A Mensagem]). Mesmo que aparentemente não estejamos agindo de modo puro, Deus está conosco porque Ele sabe que nossa verdadeira natureza é perfeita. Com a compreensão de que eu realmente era a filha de Deus, não uma pecadora mortal, mas acalentada pelo Amor divino, tive convicção espiritual suficiente para rejeitar a ideia de que eu estava presa na armadilha da sensualidade desregrada.
Não posso descrever o alívio que isso me trouxe nem o senso de clareza com o qual eu hoje consigo viver minha vida
Desde que essas ideias desabrocharam completamente em meu pensamento, fiquei livre da busca insaciável pelo prazer sexual. Ao final do último ano do ensino médio, eu não estava mais obcecada por sensualidade nem participava de atividades sexuais. Meu desejo de ter intimidades sexuais com mulheres também se dissipou. Costumava pensar que eu era bissexual, mas isso não acontece mais.
Com minhas orações sinceras para saber mais sobre Deus e Seus filhos, consegui finalmente ser curada daquilo que tentara em vão parar de desejar. Não posso descrever o alívio que isso me trouxe nem o senso de clareza com o qual eu hoje consigo viver. De fato, não sofro nem um pouco por causa da abstinência; ao contrário, estou cheia de alegria devido à liberdade a que Deus me conduziu. Agora sei que esse sentimento de absoluta paz é o estado natural do ser para toda a humanidade. Não somos seduzidos pela luxúria ou sensualidade, pois o Amor divino não nos condenou a isso. Ao contrário, Deus nos abençoa abundantemente.
Talvez alguém possa pensar que com essa compreensão eu desejaria me afastar da atividade sexual para sempre. Entretanto, acho que agora eu compreendo o contexto ao qual o sexo pertence. Algumas semanas depois da cura, uma das minhas amigas casadas me disse que o sexo dentro do seu casamento era reflexo do amor abnegado e não incluía insatisfação, sensualidade ou conflito. Isso foi uma revelação para mim! Era maravilhoso ouvir sobre um exemplo de sexo conjugal tão puro e natural.
Sinto que não há necessidade de se temer ou evitar relacionamentos. Por outro lado, penso que o mundo está nos chamando para o discernimento, para acolhermos os relacionamentos corretos de braços abertos, e para orarmos a fim de vermos que essa pureza é o direito inato de todos.
Hoje, coloco nas mãos de Deus a questão de com quem namorar e com quem casar. Consolo-me com estes versículos da Bíblia: "Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas" (Provérbios 3:5, 6). Deus nos conduz a tudo quanto é bom e puro, e podemos confiar no Amor que provê absolutamente tudo!
 
    
