Certa vez, quando eu estava dando aula na Escola Dominical para um grupo de garotos muito vivos, veio juntar-se a eles uma pequena visitante, menina bem mais nova que os demais presentes. De início ela manteve-se séria e calada, mas dentro em pouco estava irradiando alegria e simpatia espontâneas.
Havia tal radiância em toda a sua amável maneira de ser que, embora ela não dissesse uma única palavra, os meninos mais velhos começaram a expressar, cada um à sua maneira, o que de melhor havia neles. A vivacidade humana deles tomou maiores aspectos de vitalidade espiritual quando eles compartilharam com a novata o que sabiam a respeito da Ciência Cristã, e como esta lhes tinha ajudado. A influência da pequena visitante continuou a se fazer sentir no encerramento dos exercícios, inclusive sobre os adultos e os outros jovens de toda a Escola Dominical.
Dirigindo-me para casa, lembrei-me do quanto Jesus amava as criancinhas e pude compreender a razão. Certa vez, quando algumas crianças foram trazidas à presença do Mestre para serem abençoadas, os discípulos repreenderam os adultos. Mas Jesus disse: “Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis. .. Quem não receber o reino de Deus como uma criança, de maneira nenhuma entrará nele.” Marcos 10:14, 15; Em outra ocasião, disse: “Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus vêem incessantemente a face de meu Pai celeste.“ Mateus 18:10;
Os discípulos, olhando através das lentes distorcidas da crença material, talvez vissem as crianças como pequenos mortais imaturos, irriquietos e barulhentos. Mas Jesus, graças à inspiração do Espírito, o Amor divino, deve ter percebido o verdadeiro ser angelical das crianças, feito à imagem de Deus — deve ter percebido a individualidade espiritual delas.
Cristo Jesus reconhecia e honrava as qualidades de Deus, que se expressam nas crianças, e nós devemos fazer o mesmo. Ao darmos a essas qualidades o devido apreço, estas passam a fazer parte de nossa vida diária, fazendo-nos sentir a presença de Deus, e desse modo o reino de Deus, o governo do bem, vem à nossa consciência.
É claro que o tornar-se como criança, tal como Jesus esperava que seus seguidores viessem a fazer, nada tem a ver com infantilidade. A definição de “filhos” que a Sr.a Eddy nos dá em Ciência e Saúde faz uma distinção clara entre a realidade e a contrafação. Parte dessa definição diz: “Os pensamentos e representantes espirituais da Vida, da Verdade e do Amor.
“Crenças sensuais, mortais; contrafações da criação, cujos originais melhores são os pensamentos de Deus, não no estado de embrião, mas no de maturidade.”Ciência e Saúde, p. 582–583; Essas verdadeiras qualidades em geral expressas nas crianças, essas qualidades de origem divina e que também podem ser expressas por qualquer adulto, incluem alegria, admiração, inocência e sinceridade, de par com flexibilidade, afeição e obediência.
Assim como as crianças se beneficiam em obedecer rigorosamente aos pais, os adultos precisam obedecer de todo o coração às exigências de Deus a fim gozarem de Sua paz e serem por Ele abençoados. Governar as nossas vidas harmoniosamente, isto é, receber o reino de Deus, inclui um pensar puro, obediente e amável. Requer a disposição de subordinarmos a nossa própria vontade à vontade de Deus. A obediência às exigências espirituais é o elo de ligação essencial para a compreensão espiritual que nos leva a reconhecer nossa perfeição inata.
Suponhamos que ainda não tenhamos obtido uma cura, apesar de termos declarado inúmeras vezes a verdade a respeito do ser espiritual e impecável. Justamente essa verdade que vai se estabelecendo em nossa consciência pode estar trazendo à superfície algum erro sutil, ou mal, que precisa ser corrigido. Quando isto acontece, só podemos ficar gratos, em vez de desencorajados. Embora possa parecer difícil substituir o erro pela idéia espiritual, podemos fazê-lo, pois o nosso ser real à semelhança de Deus, inclui essa idéia.
A verdadeira obediência não aceitará a sugestão agressiva de que não somos perfeitos. Ela reivindica a perfeição constantemente. Podemos empenhar-nos em saber com fé irrestrita, que Deus nos está ajudando a ser realmente obedientes, está vindo ao nosso encontro em pensamento, com Seu amparo carinhoso e onipotente. Quando compreendermos que Deus sustenta o esforço que estamos fazendo, nossas orações não voltarão a nós vazias.
Assim como os filhos reconhecem a autoridade do pai, ou da mãe, sensato e amável, precisamos admitir que a verdade tem autoridade indisputada sobre o seu oposto, em todos os tempos. O Amor tem domínio sobre o ódio e o medo. O pensamento claro triunfa sobre a confusão e as sugestões errôneas. A inteligência espiritual não pode estar mesmerizada pela sugestão agressiva. Podemos realmente reconhecer os fatos divinos, pois a autoridade de Deus é suprema em todos os casos, em todo lugar e a qualquer tempo.
Em Ciência e Saúde, lemos: “A disposição de tornar-se como uma criancinha e de deixar o velho pelo novo, torna o pensamento receptivo à idéia avançada. A satisfação de deixar os falsos marcos e a alegria de vê-los desaparecer — eis a disposição que contribui para apressar a harmonia final.”ibid., pp. 323–324; Às vezes o acúmulo de angústias diversas, de atitudes inflexíveis a respeito de questões sociais, políticas ou teológicas, de crenças médicas ou higiênicas não corrigidas, ou de sutil interesse próprio, podem aparentar ser uma montanha real, que bloqueia o caminho, e o pensamento mortal pode ser que resista à cura necessária. Persistindo no esforço de substituir a ansiedade ou a rigidez por qualidades tais como confiança, flexibilidade e obediência, podemos dissolver progressivamente o que é velho e dar lugar ao novo.
Como uma criancinha, podemos atirar fora as nossas cargas sem olhar para trás e seguir com alegria e de coração leve, seguros na certeza do triunfo da Verdade sobre tudo aquilo que lhe é dessemelhante. Podemos fazê-lo, pois na consciência de cada um de nós está a alegria, a inocência, e outras qualidades inerentes ao Espírito divino e com as quais Deus nos dotou para sempre. Expressando essas qualidades que caracterizam a idéia de Deus, o homem, silenciamos as sugestões que parecem existir como pensamentos nossos, sob a forma de negativismo, cinismo e dúvida.
Às vezes podemos sentir-nos com vontade de provar essas qualidades tão comuns nas crianças, mas sentimo-nos um pouco inseguros. O que precisamos para nos tornarmos como criança e assim atender a exigência específica de Cristo Jesus?
Para algumas pessoas, essas qualidades tão comuns nas crianças se apresentam como uma sensação de novidade, admiração e encanto ao se acercarem de algo — as flores, o sol, o tempo e mesmo o orvalho. Pode se apresentar como a mente receptiva e o entusiasmo que saúda os pensamentos de Deus à medida que eles nos vêm durante a oração e o estudo diários. É confiar no desvelo do Pai com a mesma certeza com que um filho confia no amor de seus pais. Como uma criança, podemos apreciar o bem em qualquer lugar onde o encentremos. Podemos ser flexíveis, receptivos, e estar dispostos a aceitar novos valores de origem espiritual.
As crianças não ficam inibidas ao expressarem suas intuições e afeição. Como alguém disse, certa vez: “Estranhos são os amigos que não conhecemos ainda”. O mundo necessita muito do cálido e terno afeto que penetra além das aparências externas a fim de apreciar o filho querido de Deus, que é a verdadeira individualidade do homem.
Quando nos lembramos com que facilidade as crianças gostam de alguém, podemos utilizar as nossas qualidades para sermos menos exigentes a respeito de nosso próximo, especialmente para com os membros de nossa família e os companheiros de trabalho. O pensamento imbuído do amor expressado em casa se ampliará automaticamente, envolvendo também a comunidade.
Em uma palestra para adultos, a Sr.a Eddy diz: “Queridas crianças, o mundo necessita de vocês — e mais como crianças do que como homens e mulheres: necessita da sua inocência, altruísmo, afeto leal, e de suas vidas in- contaminadas. Vocês precisam igualmente vigiar, e orar para preservar livre de máculas essas virtudes, e para não perdê-las no contato com o mundo. Que grandiosa ambição é esta, a de manter em nós aquilo que Jesus amava, e de saber que o seu exemplo, mais do que as palavras, estabelece o padrão moral para a humanidade!”Miscellaneous Writings, p. 110.
