De que modo encaramos as forças naturais? As opiniões sobre este assunto evoluíram progressivamente através dos tempos. A adoração cega e o terror supersticioso deram amplamente lugar a uma crescente noção de que as forças naturais são o produto de leis universais em operação. E, gradualmente, um sentido de desamparo ante essas forças está cedendo a uma visão mais positiva que inclui elementos tais como previsão, controle e aplicação de conhecimentos em ciência e tecnologia em favor da humanidade.
Num nível mais alto de pensamento, a humanidade tem aprofundado sua consciência da onipotência de Deus, ponto esse a que se dá acentuada ênfase tanto no judaísmo como no cristianismo. A Ciência Cristã, porém, vai mais longe, por nos mostrar como usufruir da onipotência de Deus como fato demonstrável. Um termo para Deus, na Ciência Cristã, é Princípio divino, cuja onipotência pode ser aplicada a todo aspecto da vida humana, inclusive àquilo que denominamos forças naturais. É o pensamento humano acerca de forças o que precisa mudar. Deus como Princípio onipotente dá, em realidade, origem às únicas forças que existem, e essas são sempre benévolas e espirituais.
Esta verdade profunda está penetrando e mudando o pensamento do mundo. Os resultados de um ponto de vista mais iluminado sobre as forças naturais podem ser percebidos exteriormente nos estudos ativos de hoje em dia sobre fenômenos tais como tempo, clima e terremotos. Também se pode notar o progresso na mudança de métodos pelos quais essa pesquisa está sendo levada a efeito, notadamente na translação de investigações focalizadas em horizontes estreitos, para um modo de abordar o assunto com uma visão mais ampla, mais extensiva. Um exemplo é o crescente emprego de satélites artificiais para darem uma visão global de padrões climáticos. Outro exemplo é o das recentes missões de satélites teleguiados, enviados a Marte, Vênus e Júpiter, com sua promessa de novas descobertas quanto à maneira de atuar das atmosferas planetárias em geral.
Tais feitos assinalam uma mudança de ponto de vista — mudança da visão presa às coisas da terra para a visão do cosmo. Mesmo assim, isso é apenas o prelúdio da mudança de um ponto de vista bem maior e que há de vir — a mudança interior do pensamento. Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy declara: “O Espírito é a vida, a substância e a continuidade de todas as coisas. Andamos sobre forças. Retirai-as, e a criação terá de se desmoronar. O conhecimento humano as denomina forças da matéria; a Ciência divina, porém, declara que elas pertencem por inteiro à Mente divina, são inerentes a essa Mente, e assim as reintegra no lugar e na classificação que de direito lhes pertencem.” Ciência e Saúde, p. 124;
Encaradas corretamente, as únicas forças reais são aquelas originadas em Deus e por Ele controladas. E elas são mentais e espirituais — não materiais, porque Deus é Espírito. Assim adquirimos uma compreensão de que Deus governa o homem e o universo em perfeita harmonia, em que as forças espirituais incorporam a vontade divina e agem, portanto, como lei divina. E uma vez que Deus é Amor, esse quadro não pode de maneira nenhuma incluir quaisquer elementos destruidores.
À primeira vista, essa conclusão parece estar em conflito com os acontecimentos. Violentas tempestades, inundações e terremotos são muitas vezes reportagens em destaque nos jornais. Como podemos reconciliar toda essa destruição com o conceito de um universo governado por Deus?
Para responder a essa pergunta precisamos começar partindo do ponto de vista correto. O governo de Deus sobre o homem e o universo é um fato espiritual. E a violência e a destruição não fazem parte desse universo. Ora, aceitar um ponto de vista material do universo é aceitar a contrafação do governo de Deus — é aceitar a noção de que as forças materiais são naturais, e, portanto, cruéis, imprevisíveis, destruidoras. Com demasiada freqüência a vida humana reflete essa aceitação da contrafação como sendo real. Suponhamos, porém, que demos meia volta a essas coisas. Suponhamos que nos apeguemos ao fato espiritual de que a Mente divina governa tanto ao universo quanto a nós mesmos. Onde é que isso coloca as forças naturais? Sob o controle da Mente, “no lugar e na classificação que de direito lhes pertencem”, empregando a frase da Sra. Eddy. Isso representa uma mudança de ponto de vista no pensamento individual, que deixa a visão mortal, material, e vai à visão espiritual. E a visão espiritual leva a cura e a harmonia a qualquer situação caótica.
Cristo Jesus demonstrou essa regra quando amainou a tempestade no Mar da Galiléia. ver Marcos 4:35–41; Jesus estava tão convencido da existência espiritual e da sua concordância ininterrupta, que foi capaz de dormir bem em meio à tempestade até ser acordado por seus discípulos. Então, com as palavras: “Acalma-te, emudece!” repreendeu a falsa crença medrosa, expressa na falsidade de um quadro de forças materiais esbrave-jantes. A “grande bonança” que se seguiu foi certamente evidência direta da superioridade do ponto de vista que Jesus havia sustentado durante todo esse tempo.
No entanto, que dizer de forças desencadeadas pela mão do homem, tais como ataques terroristas, fogo, explosão de bombas e de projetis? Será que lhes podem ser aplicadas as mesmas verdades curativas? De fato podem, como foi demonstrado inúmeras vezes durante a Segunda Guerra Mundial, quando muitas cidades grandes foram pesadamente bombardeadas. Eu era aluno de um grupo escolar da área de Londres naquela ocasião e lembro-me de como o povo orava e era salvo enquanto as bombas caíam ao redor. Lembro-me, também, de muitos testemunhos que contavam como pessoas que confiavam no poder do Princípio divino, tal como ensinado na Ciência Cristã, foram protegidas de danos. Incluíam eles exemplos em que pessoas eram resgatadas ilesas de prédios de apartamentos que haviam sido reduzidos a entulho.
Fiquei profundamente impressionado por essa forte evidência de proteção divina, tanto assim que, realmente, incluí ligeiro relato dessa proteção numa redação que tive de escrever numa aula de inglês.
Em breve descobri, porém, que meus pontos de vista não eram bem aceitos pelo professor de inglês. Meu ensaio voltou com uma nota a lápis escrita à margem, expressando ceticismo sobre a “proteção divina” e perguntando por que uns poucos selecionados deviam ser salvos enquanto milhares, menos afortunados, estavam sendo mortos ou feridos. Eu não tinha nenhuma resposta preparada naquela ocasião, especialmente porque meu crítico era um professor diplomado e erudito.
Se eu pudesse remediar hoje aquela oportunidade perdida, diria algo assim: A proteção de Deus inclui toda a humanidade. Este fato espiritual precisa ser compreendido, ou percebido, com nosso sentido espiritual inerente, para que o vejamos manifestar-se na experiência humana. E muitos podem dar testemunho não só quanto à disponibilidade como também à imediação da proteção divina. Às vezes, porém, a evidência material de morte e destruição, com seu acompanhamento de medo, pânico e choque, parecem obscurecer essa verdade salvadora e substituí-la por um quadro desolador de tragédia e perda.
No entanto, permanece o fato de que a verdade do ser é verdadeira para toda a humanidade, quer o saibamos quer não. Isto significa que podemos levar um certo grau de cura e alívio a qualquer pretensão de desastre natural, ou produzido pelo homem, onde quer que tenha acontecido. Por exemplo, podemos recusar-nos a aceitar a visão errada de ser mortal o homem e de estar ele sujeito a forças físicas destruidoras — acidentes, inundações, fome, terrorismo. Em vez disso, podemos afirmar o controle inteligente da Mente sobre o universo. Podemos ver aqueles envolvidos num desastre como sendo realmente idéias espirituais, imortais, sustentadas e protegidas pelas forças da Mente. E essas forças não podem incluir nenhum elemento destruidor ou aflitivo. O livro de Jó tem o seguinte a dizer sobre Deus e Seu governo do universo: “Ele é grande em poder, porém não perverte o juízo e a plenitude da justiça.” Jó 37:23;
Apliquemos agora a seqüência desse raciocínio a alguma das forças utilizadas pela tecnologia moderna. Tomemos, por exemplo, as que são consideradas as forças naturais mais fortes de todas — as forças nucleares que sustentam a estrutura atômica. O emprego de energia nuclear para gerar eletricidade está rodeado de controvérsia. Recente acidente numa usina geradora de energia nuclear nos Estados Unidos aumentou essa controvérsia, acrescentando muito calor ao debate, que já se tornou emocional, entre os proponentes e os oponentes da energia nuclear. Argumentos conflitantes — citando, de um lado, a “crise de energia” e, de outro lado, receios de mais acidentes nucleares, bem como os problemas decorrentes do lixo radioativo e dos danos ambientais — levaram a uma confrontação tensa que nada tem a ver com uma análise racional do problema.
Ora, o que realmente perturba nesse debate é que todo ele se baseia numa afirmação errônea da existência. Essa asserção é a de que as forças aglutinantes do universo são materiais e que elas estão fora do alcance do controle da inteligência divina. Serão estas as forças sobre as quais andamos?
Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy escreve: “A adesão, a coesão e a atração são propriedades da Mente.” Ciência e Saúde, p. 124; Ora, a adesão, a coesão e a atração são todas elas atributos indicados pelas energias nucleares. No entanto, o trecho que acabamos de citar deixa claro que elas pertencem à Mente divina, Deus. E este vislumbre pode conduzir o pensamento ao longo de diretrizes que resolverão os vários problemas a elas relacionados. Pois, de fato, a controvérsia toda relativa à energia nuclear é sinal de que a humanidade está procurando sabedoria — sabedoria que transcenda o mero conhecimento fatual, sabedoria para compreender de modo acertado essas forças formidáveis e utilizá-las eficazmente.
A Sra. Eddy, no seu artigo intitulado “Ciência e Filosofia”, caracteriza da seguinte maneira a Ciência Cristã: “Não é procura de sabedoria, ela é sabedoria: é a mão direita de Deus empalmando o universo — todo tempo, espaço, imortalidade, pensamento, extensão, causa e efeito; e constitui e governa toda identidade, individualidade, lei e poder.” Miscellaneous Writings, p. 364. Como é reconfortante começar a compreender essa afirmação. Nessa base segura podemos abandonar a vontade, a dúvida e o medo humanos. Podemos afirmar que as forças da Mente são, de fato, as únicas forças que realmente existem. E também podemos saber que, independente das marés mutáveis das opiniões humanas, a sabedoria divina tem de, inevitavelmente, prevalecer.
