Uma estrada sinuosa nas montanhas da Serra Nevada, na Califórnia, ladeada por altos pinheiros e que levava em direção à nossa cabana, mostrou-se valiosa em auxiliar-me a demonstrar certa verdade metafísica.
No princípio, sempre que saía da cabana, visando dirigir-me à vila mais próxima, eu me voltava invariavelmente para a direção errada. Costumava pensar: “A vila fica nesta direção, sei que fica.” Mas, logicamente, nunca acertava! Só depois de permitir à razão superar a ilusão é que eu tomava a direção correta. Aquela direção ainda me parece a errada, mas não me deixo mais enganar pelas aparências. Agora sei o caminho porque o comprovei muitas vezes.
Sem dúvida, a humanidade está sendo constantemente tentada a confiar no sentido físico, a esperar da matéria alguma indicação quanto ao passo seguinte a dar. Mas a matéria, ou melhor, a mente mortal, nunca é digna de confiança, pareçam seus indícios bons ou maus. Se a pessoa não está alerta às sugestões dessa mente carnal, pode ela deixar temporariamente de vislumbrar a direção terna e infalível de Deus: “Quando te desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele.” Isaías 30:21.
Em nossa experiência, todos nós atingimos um ponto em que precisamos nos volver com confiança inabalável ao Pai que “perdoa todas as tuas iniqüidades;” que “sara todas as tuas enfermidades” Salmos 103:3.. E, algumas vezes, isto precisa ser feito face a profundo desespero, quando o caminho parece destituído de conforto humano, quando todos os meios de auxílio material falharam, um a um.
Para mim, o momento de volver-me de todo o coração a Deus ocorreu há cerca de dois anos, quando perdemos uma de nossas filhas num acidente automobilístico. Meu mundo tornou-se em cinzas. A princípio, eu não era capaz nem mesmo de orar — na verdade, por um curto período de tempo, eu não o desejava. Sentia-me traída pelo mesmo Deus a quem eu sempre me volvia em momentos de necessidade e por quem aquelas necessidades sempre haviam sido satisfeitas.
Ainda que eu obviamente não conseguisse percebê-lo naquela época, dessa experiência viria o amanhecer de um sentido espiritual mais profundo do que tudo o que eu jamais experimentara antes. Quando todas as indicações terrestres apontam na direção errada, o indivíduo é finalmente forçado a desviar o olhar para o alto, acima da matéria com suas ilusões e mentiras. Aí então, e somente então, estamos completamente prontos para admitir na consciência as mensagens de conforto celestial.
No livro Ciência e Saúde de autoria de nossa Líder, a Sra. Eddy, lemos: “As rajadas gélidas da terra podem desarraigar as flores dos afetos e espalhá-las aos ventos; mas essa ruptura dos laços carnais serve para unir o pensamento mais estreitamente a Deus, pois o Amor sustenta o coração em luta, até que este cesse de suspirar por causa do mundo e comece a estender as asas rumo ao céu.” Ciência e Saúde, p. 57.
Mesmo o Mestre do cristianismo, Cristo Jesus, teve de enfrentar traição e desilusão, ao abandonar, um após o outro, todos os meios de auxílio materiais, todo conforto pessoal. Mas as agonias da crucificação levaram-no às glórias da ressurreição. Todo desejo de se volver à matéria em busca de consolo foi substituído pela compreensão jubilosa de que ele estava então, como sempre tinha estado e para sempre estaria, com seu Pai.
É de vital importância, na procura da “senda do sentido à Alma” Ver Hinário da Ciência Cristã, n° 64., que o sentido espiritual seja desenvolvido de maneira crescente. Isto é obtido pela negação constante das reivindicações limitadoras do sentido físico e pela substituição de cada uma delas pelos fatos ilimitados do Espírito. Freqüentemente é necessário substituir especificamente cada mentira da mente mortal pela verdade. Ainda que os sentidos finitos possam argumentar ruidosamente em contrário, não ponhamos nunca em dúvida o fato de que existe uma verdade incontestável que nos cabe apreender e manter.
As pretensões de separação e perda devem ser expostas como nada pelo grande fato do cuidado contínuo e carinhoso de Deus por Suas idéias — cuidado que já existia antes do início do sonho da existência mortal e que se estende por toda a eternidade. A sugestão mentirosa de que somos mortais frágeis, quer pais, quer filhos, vivendo sempre na iminência de um desastre, deve ser destruída pela convicção sempre crescente de que Deus, que é Pai-Mãe, não necessita de ajuda a fim de manter Sua criação espiritual. Por ser Deus a Vida onipotente e por sermos nós a verdadeira expressão dessa Vida, é que isso ocorre. O livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, lembra-nos: “As verdades da Ciência divina devem ser admitidas — muito embora a prova relativa a essas verdades não seja sustentada pelo mal, pela matéria ou pelo sentido material — porque a prova de que Deus e o homem coexistem é plenamente sustentada pelo sentido espiritual.” Ciência e Saúde, p. 471.
A paz profunda que começa a se estabelecer em nossa consciência quando deixamos “de suspirar por causa do mundo” não pode ser destruída pela matéria, porque não está baseada na matéria. Esta paz baseia-se em conseguirmos ao menos um vislumbre do novo céu e da nova terra, que S. João anteviu através do sentido espiritual, quando estava exilado na ilha de Patmos.
Serei sempre grata pela lição da estrada nas montanhas. Tão certamente como vim a reconhecer o caminho correto a seguir, mesmo quando os sentidos físicos pareciam indicar que era outra a direção, todos podemos vir a confiar no conforto, na direção e na ajuda de Deus. Essa confiança requer o sentido espiritual, não o material. E o sentido espiritual é tão fidedigno quanto nosso Deus, que é Princípio; tão consolador quanto nosso Deus, que é Amor; tão perene quanto nosso Deus, que é Vida eterna.
