Na realidade divina, os opostos nunca coexistem nem se assimilam. Só existe o bem, só a perfeição, só a alegria e a harmonia. Contudo, os sentidos corpóreos falsamente pretendem mostrar que há opostos necessariamente existindo juntos, habitando lado a lado. Assim, tal dualismo interpreta a própria natureza daquilo a que se chama existência mortal. Ao dualismo acompanha a confusão, o caos, todo o inferno de se aceitar a presunção espúria de que a vida existe na matéria.
Pode-se, porém, provar irreal o dualismo, pois é ele a antítese da unidade de tudo o que é divino. E é esta unidade o que expressa a verdadeira essência da realidade — um Deus, Eu Sou o Que Sou, uma causa, um bem, o Tudo-em-tudo, um criador e Sua criação infinita.
A Ciência Cristã ensina que não existe lugar, no reino de Deus, para algo dessemelhante de Deus, pois Deus é Espírito ilimitado e é totalmente bom. Não há lugar, na infinidade, para o que é finito, não há oportunidade, na onipotência, para um poder oposto. Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy declara: “É tão impossível misturares o Espírito com a matéria, como é impossível misturares o fogo com a geada.” Ciência e Saúde, pp. 72–73.
A noção equivocada de que o Espírito e a matéria são em essência uma só coisa, e a crença ainda mais sutil de que se unem numa espécie de aliança ordenada ou permitida por Deus, constituem, como o explica a Ciência Cristã, o panteísmo. Neste, presume-se que a matéria seja inteligente e que a criação se origine na matéria, dependendo literalmente da existência de qualidades contrárias entre si. Esse dualismo do panteísmo se equivoca quanto à verdadeira substância e origem da vida, e está, portanto, na base de muita discórdia na experiência humana. Ciência e Saúde menciona a informação errada oferecida pelos sentidos físicos, e declara: “Esses sentidos indicam a crença humana geral de que a vida, a substância e a inteligência são uma concordância da matéria com o Espírito. Isso é panteísmo e traz dentro de si as sementes de todo o erro.” Ibid., p. 294.
Uma referência bibliográfica apresenta a interpretação convencional do panteísmo como “um ponto de vista que considera o mundo [físico], apesar de sua aparente diversidade, como ‘realmente’ uma unidade, e unidade de tamanha qualidade espiritual que merece o nome ‘Deus’. Nesse sentido, para o panteísta, Deus e o mundo [físico] são idênticos e todos os seres finitos existentes são partes, ‘modalidades’, ou manifestações, de Deus.”
A definição prossegue: “O panteísmo difere do teísmo ao não dar lugar à transcendência de Deus....” E salienta que o problema básico que atormenta toda crença panteísta é sua incapacidade de “explicar particularidades como o tempo, o mal, o erro, a ignorância”. Esses elementos parecem ser parte do universo físico, mas deles não se pode dizer que “caracterizam um Deus perfeito e eterno ao qual, do ponto de vista panteísta, o universo, ainda assim, é idêntico” Collier’s Encyclopedia (Nova Iorque: Macmillan Publishing Company, Inc., 1981), XVIII, 393..
O panteísmo, assim com o politeísmo, era freqüente na religião, na filosofia e na mitologia da Grécia antiga. Na Bíblia lemos que, quando o Apóstolo Paulo estava em Atenas esperando por Silas e Timóteo, “o seu espírito se revoltava, em face da idolatria dominante na cidade” Atos 17:16..
Atenas, naquele período da história, foi descrita como uma cidade que havia perdido muito de seu esplendor anterior, mas que ainda assim continuava a ser um centro mundial de onde emanavam as idéias, a arte, a filosofia e a religião. Sua célebre universidade continuava a atrair estudantes e pensadores mesmo de todo o Império Romano. Paulo, contudo, tendo sido educado na religião israelita, provavelmente não se deixara impressionar pelas meras virtudes arquitetônicas ou pela beleza dos muitos templos, santuários e estátuas religiosas. Ao contrário, já foi observado que Paulo estava mais propenso a não dar valor algum à idolatria simbolizada nas estruturas físicas, e a sentir-se “horrorizado diante da superstição que representavam” J. R. Dummelow, The One-Volume Bible Commentary (Nova Iorque: The Macmillan Co., 1936), p. 841..
Devido a suas próprias observações, Paulo sentiu-se impelido a pregar — a dissertar “na sinagoga ... e na praça todos os dias”. A Bíblia nos diz que “alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele” e lhe pediram que explicasse sua “nova doutrina” Atos 17:17–19..
A filosofia epicurista ensinava em parte que o prazer é a mais elevada representação do bem e a meta mais importante a ser atingida, na vida. Estimulava uma religião desvinculada e contemplativa onde os prazeres intelectuais deviam ser obtidos pela contemplação da vida ideal dos deuses.
Em essência, os estóicos eram panteístas estritos. Acreditavam que a única realidade é material, e que a matéria passiva é animada pela razão divina, ou Logos, o qual permeia todas as coisas no reino físico. Os estóicos consideravam a razão divina como a essência do mundo material.
Foi nessa arena de politeísmo e panteísmo que Paulo introduziu sua “nova doutrina”, isto é, o evangelho do cristianismo, a verdade viva que Cristo Jesus trouxera à humanidade. Levantando-se no Areópago, Paulo respondeu aos gregos. Disse-lhes: “Senhores atenienses!... passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer, é precisamente aquele que eu vos anuncio.” E Paulo continuou a pregar aos atenienses dizendo que Deus “não habita em santuários feitos por mãos humanas” Atos 17:22–24..
Nem pode tampouco Deus, que é o Espírito ilimitável, habitar num assim chamado universo físico. Deus não habita na terra, em santuários terrestres, em corpos materiais. Como o revela a Ciência Cristã, a idéia espiritual, o homem e o universo, universo este inteiramente espiritual, estão incluídos na Mente infinita, Deus, e refletem somente o Espírito. A Mente jamais penetra na matéria, e esta jamais está incluída no Espírito. Assim, de acordo com a Ciência Cristã, a matéria está excluída da realidade. De fato, não está em lugar algum e nada é. A única realidade é Deus e Sua criação espiritual.
No entanto, apesar da verdade incontestável das palavras de Paulo, observamos que, muito antes dos dias dos antigos gregos, e, mesmo, até os nossos tempos, o panteísmo corrompeu as teorias humanas acerca da natureza da vida e da realidade. Porventura não vem a ser uma espécie de panteísmo contemporâneo o que pretende deificar as leis físicas, argumentando que a vida está sob o controle dos genes, que a vida pode estar geneticamente defeituosa em alguns casos, enquanto em outros casos o código genético pode ser programado para melhorar a qualidade e o potencial da vida? Acaso não será uma continuação das crenças do panteísmo o que argumenta que à matéria foi outorgado por Deus o poder de curar a doença, mas que ela tem, de alguma forma, também o poder de causar a doença?
Sempre que se admite que o poder pode estar dividido entre o Espírito e a matéria, ou que ambos estão em uníssono, o sentido corpóreo está propondo as pretensões do panteísmo. E, até que este seja expulso do pensamento humano, a humanidade não conseguirá encontrar paz duradoura e verdadeira harmonia. Tendo-se o panteísmo na raiz de grande parte do pensamento humano, como se poderá terminar o conflito entre nações e povos, ou proporcionar-se plena igualdade entre homens e mulheres, ou conseguir liberdade para todos, ou chegar ao fim do sofrimento e do pecado?
Existe, porém, a possibilidade de uma solução. Reside na compreensão científica do Primeiro Mandamento e fidelidade completa a ele. Quando o ponderamos com cuidado, vemos que este mandamento supremo fornece o antídoto para o veneno do panteísmo, pois ter um Deus, o Espírito divino, significa não ter, em absoluto, algum outro. Isto é fundamental àquilo que Paulo procurou dar aos atenienses no Areópago.
A crença de que o Espírito e a matéria se misturam é, em essência, a crença de que há mais de um Deus. Se o Espírito compartilha poder com a matéria, então existem muitos deuses. E, se existem muitos deuses, não há paz, há caos. O grande mandamento de nosso Pai é, porém: “Não terás outros deuses diante de mim.” Êxodo 20:3. E, quando não temos outros deuses, não acreditamos no panteísmo, nem nos governam divindades panteístas — deuses da matéria; ídolos; egoísmo em prazeres, metas ou desejos; superstições.
Ao refutarmos o panteísmo, a confiança que temos na verdade de que existe só um Deus, supremo, e Sua criação espiritual, não arrasa a humanidade nem a nossa identidade. Ao contrário, liberta a humanidade da escravidão imposta por crenças e práticas panteístas. Tal confiança revela-nos, ainda, o terno amparo do amor de Deus, rodeando a cada um de nós, como foi demonstrado na vida de Cristo Jesus. Jesus andou entre os homens, todavia estava de tal modo dotado do Cristo, sua natureza divina, que todo o seu ministério fez-se constante reprovação ao panteísmo. O Mestre adorava, servia e glorificava um só Deus, o Espírito divino, e assim curou a doença e salvou do pecado, baseado somente no Espírito.
Escreve a Sra. Eddy: “O Primeiro Mandamento é meu texto favorito. Demonstra a Ciência Cristã. Inculca a tri-unidade de Deus, Espírito. Mente; significa que o homem não terá outro espírito ou outra mente senão Deus, o bem eterno, e que todos os homens terão uma única e a mesma Mente. O Princípio divino do Primeiro Mandamento é a base da Ciência do ser, pela qual o homem demonstra saúde, santidade e vida eterna. Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações; constitui a fraternidade dos homens; põe fim às guerras; cumpre o preceito das Escrituras: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’; aniquila a idolatria pagã e a cristã — tudo o que está errado nos códigos sociais, civis, criminais, políticos e religiosos; estabelece a igualdade dos sexos; anula a maldição sobre o homem, e não deixa nada que possa pecar, sofrer, ser punido ou destruído.” Ciência e Saúde, p. 340.
À medida que colocamos nossa maneira de pensar e de viver de acordo com o Primeiro Mandamento, excluímos o panteísmo. Unimo-nos ao sagrado desígnio de Deus para toda a criação. Compreendemos que a suposta maldição da crença mortal sobre o homem anula-se em nossa própria vida. E toda a terra sente os benefícios.
 
    
