Certa noite, sem nenhuma razão aparente, desmaiei. Quando recobrei a consciência, alguns instantes após, eu estava no chão e sentia-me bem diferente de quando desperto do sono. Aquela sensação normal de continuidade não se fazia presente. Em lugar dela, havia confusão e medo.
Como Cientista Cristão volvo-me com confiança à oração, toda vez que minha harmonia é interrompida. Por isso, orei.
Bem, meu nariz afinal ficou curado (na queda, bati no chão primeiro com o nariz). A cura, porém, daquela amedrontadora sensação de vazio total, exigiu-me mais alguns dias de oração. Senti-me muito grato, sem dúvida alguma, por essa cura, permanente, mas o que aprendi sobre a natureza de meu verdadeiro ser, por meio de minhas orações, teve significado bem maior para mim.
Sendo cristão, havia muito eu aceitara, em Deus, o autor de meu verdadeiro ser. Na Ciência Cristã um sinônimo para o termo criador é “Mente”. Por isso, afirmei que a Mente eterna, ou o Espírito, criou a mim e a todos como seus descendentes espirituais. Porque é Mente, Deus se manifesta em inteligência, consciência e ação ininterruptas. Esta ação e consciência supremas são refletidas pelo homem individual, que é idéia espiritual e indestrutível da Mente.
Os mortais são falsificações da idéia de Deus, porque a consciência material ou vida material é apensas um conceito falso e discordante, desprovido de inteligência ou realidade. Pela oração, afastamo-nos de situações desarmoniosas e amedrontadoras, pois afirmamos e compreendemos que aquilo que Deus sabe do homem — sua segurança e perfeição espiritual — é verdadeiro. Quaisquer aparências em contrário são quadros irreais, conceitos errôneos dos mortais.
Graças a outras provas de cura pela Ciência Cristã, eu havia até certo ponto aprendido que, entendendo nosso status imortal e imaterial, podemos ver a irrealidade da discórdia. Esta Ciência ensina que toda realidade é espiritualmente mental, nunca material. A Sra. Eddy escreve no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde: “A Mente é o Eu Sou, ou a infinidade. A Mente nunca entra no finito. A inteligência nunca passa para a não-inteligência, ou a matéria.” Ciência e Saúde, p. 336.
Apesar de que eu aceitasse literalmente a verdade dessa afirmação e de outras semelhantes, ainda assim, de certa forma, eu estava acreditando em dois estados de consciência: o material e o espiritual. A onisciência pura e perfeita da Mente divina parecia-me por demais elevada e transcendental. O que eu considerava a minha pequena consciência material, ordenadamente alicerçada nos cinco sentidos, parecia compor todo o meu mundo. Que choque foi, então, recobrar a consciência e constatar que essa pequena “mente” se fora! Para onde, porém? E onde estivera “eu” durante aqueles instantes?
Eu fora forçado a ver a continuidade do verdadeiro ser, ou consciência. Deus, a Mente, nunca está ausente, porque Deus é a Verdade eterna que a si mesma se sustenta. Esta Mente inclui autoconhecimento divino, inteligência perfeita. Deus nunca poderia, por uma fração de segundo sequer, expressar ignorância — ficar “sem saber” — pois Deus sabe tudo perpetuamente. As Escrituras dizem, a respeito da santa cidade de Deus: “Nela não haverá noite.” Apoc. 21:25.
O homem, a idéia de Deus, é a expressão da Mente. O homem não está, portanto, à mercê de uma mente mortal espúria, que vai e volta de acordo com circunstâncias humanas, tais como desmaios, coma, perda de memória ou senilidade. Para curar tais situações faz-se necessário um conceito mais claro da Mente verdadeira.
Livrarmo-nos da crença dualística de que a criação é uma mistura de matéria e Espírito é exigência divina. Na realidade, a Mente está se auto-afirmando universalmente, e isto pode ser percebido pela consciência humana. No Gênesis, na alegoria de Adão e Eva, lemos: “E chamou o Senhor Deus ao homem, e lhe perguntou: Onde estás?” Gênesis 3:9. De certa forma, se me fazia a mesma pergunta: Acreditava eu que a mente podia estar na matéria, ou reconhecia que o Espírito, a consciência divina, é a única Mente?
Se as experiências que promovem nosso despertar do sonho de haver vida na matéria nos parecem difíceis, isto indica apenas que a Verdade nos está forçando a fazer uma escolha consciente entre uma Mente só e muitas outras mentes. Acreditarmos em ter uma consciência material particular não só representa séria limitação às nossas realizações e felicidade humanas, mas também nega nossa semelhança divina inata. Jesus destacou enfaticamente esse ponto. Declarou: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” Mateus 6:24. A consciência dualística não pode proporcionar cura. Ter uma Mente única e nela apoiar-se faz-se exigência radical.
A consciência de Mente e idéia, Pai e filho, deve ser uma só. Nisto reside a verdadeira reconciliação, ou unificação, do homem, com Deus, como Seu reflexo. Esta unidade divina, esta inseparabilidade, esta consciência governante, protetora e sustentadora, do Amor, é a verdadeira dádiva da vida eterna. Ciência e Saúde declara: “Deus, a Vida, a Verdade e o Amor fazem imperecível o homem. A Mente imortal, que tudo governa, tem que ser reconhecida como suprema, tanto no assim chamado reino físico, como no espiritual.” Ciência e Saúde. p. 427.
O reconhecer continuamente em Deus a nossa verdadeira Vida e inteligência, a nossa verdadeira consciência, nos libertará progressivamente do sentido mortal e suas limitações. A Sra. Eddy escreve: “A matéria não é verdadeiramente consciente; e o erro mortal, chamado mente, não é semelhante a Deus.” Unity of Good, pp. 45–46. Falsas sugestões de hereditariedade, memória fraca, fragilidade, dor material e cicatrizes emocionais precisam ceder ao toque da graça de Deus. É possível demonstrar que o nosso sentido espiritual natural, baseado na Mente, é supremo e inextinguível, e esta verdade trará à luz a lei da harmonia divina.
Asseverar que a Mente divina é a realidade de nosso ser, e aceitar esta verdade, livra-nos do temor de que nossa consciência nos possa ser arrebatada, deixando-nos num vácuo. A Mente divina é sempre a nossa Mente; a consciência divina é o bem eterno, substancial e invariável, o que é corroborado pelas palavras do pai, na parábola do filho pródigo relatada por Jesus: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu.” Lucas 15:31.
Perante esta única consciência, que não se exaure e que é Deus, a Mente, não há a possibilidade de haver — ou de ter alguma vez havido — outra consciência que conhece o pecado, a doença e a morte.
Identificarmo-nos, perseverantes, com a única Mente, destrói, portanto, progressivamente o erro mortal, material. Esta identificação espiritual consciente harmoniza a experiência humana com a verdade da espiritualidade, integridade e perfeição do homem.
Cultivarmos o conceito de continuidade do ser dá ímpeto ao nosso discipulado cristão, fornecendo-nos base imutável para nossa liberdade e alegria.
 
    
