Há uns dois anos um dos discos da tabela britânica de êxitos incluía uma canção chamada “Basta dizer não.” Al Grogoni e George McMahon, “Just say no” (London: BBC Enterprises, Ltd, 1986). Era interpretada pelo elenco de Grange Hill, uma popular série semanal de televisão, que relatava os desafios confrontados pelos estudantes de um típico liceu urbano da Grã-Bretanha (uma escola secundária estadual para estudantes entre onze e dezoito anos). Os intérpretes dessa série receberam rasgados elogios pelo seu desempenho numa campanha anti-droga britânica. Sua mensagem era que podemos ser suficientemente espertos e fortes para dizer não à droga.
Essa canção deu-me muito em que pensar — muito além da mensagem anti-droga. Aprender quando dizer não, é uma lição fundamental para todos nós. Geralmente afastamo-nos, para não ser atingidos, de algo que é obviamente perigoso ou destrutivo. Mas aprender a distinguir entre aquilo que proporciona uma sensação boa e aquilo que é verdadeiramente bom, requer mais do que instinto natural, requer percepção e força espiritual.
Quando Cristo Jesus preveniu contra os lobos vestidos de ovelhas, não estaria ele a alertar-nos para as sutis artimanhas do erro? Muitas vezes, justamente aquilo que se nos afigura fascinante e estimulante, é na realidade perigoso e não nos é vantajoso. Aprendemos muito com Jesus a detectar tais enganos.
A Bíblia descreve uma ocasião, no início de seu ministério, quando ele foi três vezes tentado no deserto. Ver Mateus 4:1-11. Jesus havia permanecido sozinho no deserto, jejuando e orando, quando lhe sobrevieram tentações demoníacas disfarçadas de inocentes e atrativas ofertas. Ele as rejeitou, uma a uma. Finalmente, quando lhe foi sugerido que podia ter todo o poder e a glória do mundo apenas por se prostrar e adorar o tentador, Jesus replicou: “Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto.” Esse encontro de Jesus ilustrou como lidar com sugestões malignas de forma positiva e efetiva, quando compreendemos que Deus é a única fonte do bem e o único poder. A Bíblia diz-nos que após a repreensão de Jesus, “o deixou o diabo, e eis que vieram anjos, e o serviam.”
O domínio expressado por Jesus era espiritual e exemplificava o poder e a graça de Deus. Era diametralmente o oposto da força de vontade humana. De suas demonstrações do poder espiritual, Jesus disse: “O Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz.” E ele também declarou: “Eu nada posso fazer de mim mesmo.” João 5:19, 30. O domínio de Jesus era o resultado de ele refletir, sem precisar de esforço, a Deus, a única Mente divina.
Esse domínio espiritual, tão óbvio em Cristo Jesus, é inerente à natureza real de cada um. Na realidade não somos vítimas indefesas face às pressões do materialismo. Somos todos filhos de um Deus único. A compreensão desse fato dá-nos habilidade e sabedoria para dizer não ao mal de qualquer espécie. É no entanto importante que façamos a distinção entre o que verdadeiramente somos, o homem de Deus, feito à Sua imagem e semelhança, e o falso conceito do homem, comumente aceito como sendo a realidade. O homem espiritual de Deus nunca esteve sujeito a nada a não ser o bem. Jesus provou que esse conceito do homem era um fato, e sua vida e suas obras curativas proclamam o homem perfeito criado por Deus. Devido ao fato de Jesus não aceitar nenhum outro conceito do homem a não ser o que Deus lhe mostrava, ele curava não apenas os pecadores mas também os doentes. É esse reconhecimento da genuína identidade espiritual do homem, tal como é explicada pela Ciência CristãChristian Science (kris´tiann sai´ennss), que nos permite, ao leitor e a mim, expressar maior domínio, outorgado por Deus, sobre o mal. Podemos, cada vez mais, reconhecer as tentações como estas realmente são — vazias e destituídas de poder.
A Ciência Cristã é radical em sua maneira de encarar o mal. Baseando-se em Deus como o bem infinito e todo inclusivo, esta Ciência assinala a impossibilidade de existir outra fonte de poder. No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy escreve: “O mal não é coisa, não é mente, nem é poder. Tal como se manifesta no gênero humano, representa uma mentira, o nada pretendendo ser algo — representa luxúria, desonestidade, egoísmo, inveja, hipocrisia, calúnia, ódio, roubo, adultério, assassínio, demência, loucura, inanidade, diabo, inferno, com todos os etcéteras que essa palavra inclui.” Ciência e Saúde, p. 330.
O termo usado em Ciência e Saúde para classificar a soma total do mal é magnetismo animal. Refere-se à suposta atração, ou inclianção do materialismo, isto é, da crença num poder oposto ao bem. Os enganos impostos pelo magnetismo animal tanto confrontam um cristão devoto, como quem nem se intitula cristão. Excluindo a espiritualidade, o magnetismo animal pretende que a matéria seja a base da vida inteligente e o criador de muitas mentes. Sua pretensa atração e assim chamado controle fazem-se sentir através dos canais dos sentidos materiais.
O magnetismo animal pode tomar a forma de escravidão a substâncias tais como a droga ou o álcool. Evidencia-se numa personalidade magneticamente encantadora ou tiranicamente aterrorizadora ou então numa fascinação mórbida com a doença ou pavor a ela. Pode surgir disfarçado de amor quando de fato é possessividade ou atração sensual; vangloria-se de ser liberdade de escolha — “experimenta isto; não faz mal a ninguém” — quando de fato está a convidar seu interlocutor a tornar-se sua vítima. Assemelha-se à lei, quando na realidade não representa lei alguma e não tem nenhum poder.
Assim como Jesus denunciou a tentação de adorar o mal, também hoje a Ciência Cristã denuncia o mal, o magnetismo animal. Emma Easton Newman, pioneira do movimento da Ciência Cristã e aluna da Sra. Eddy, descreveu assim uma lição aprendida de sua professora, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã: “Um dia, depois de anunciar que o tema da lição desse dia seria o magnetismo animal, ela disse: ‘Hoje traremos à tona um tema, a fim de afundá-lo para sempre no silêncio.’ Nessa altura isso impressionou-me profundamente, e permaneceu comigo o pensamento de que, pela lucidez e sintetização dessa declaração sobre aquilo que pretende ser poder mas que na realidade não é, essa frase não poderia ter sido mais exata: ‘Hoje traremos à tona um tema, a fim de afundá-lo para sempre no silêncio.’ ” We Knew Mary Baker Eddy (Boston: The Christian Science Publishing Society, 1979), p. 94.
Temos de reconhecer que o mal começa por uma sugestão, e que nossa luta com ele é fundamentalmente mental. Mas o mal não tem poder real e só pode existir se o aceitarmos, por medo ou por condescendência, quer seja por ignorância ou intencionalmente. Sua única pretensa existência é uma falsa assunção e esta desaparece quando substituída pela Verdade.
Ao aprender a distinguir entre o que é verdadeiro e aquilo que apenas parece verdadeiro, precisamos estar alerta e vigilantes acerca do que aceitamos no pensamento. Devemos, porém, evitar a tendência de atacar as idéias de outrem somente por não concordarmos com elas. O seguinte incidente ilustra singelamente essa necessidade. Minha filha adolescente regressou à casa, da escola, queixando-se de um resfriado e de uma distensão muscular. Enquanto a escutava com afeto e depois ao confortá-la, neguei em silêncio a validade de algo cuja finalidade fosse ferir o filho de Deus. Contou-me então que uma colega tinha febre do feno e começou a descrever com minúcia todos os sintomas.
Nessa altura pensei em alguma coisa que não parecesse um sermão. E disse com simplicidade: “Bem, tu já sabes que há imensas coisas a que temos de dizer ‘não’!” Ela apanhou imediatamente a idéia e respondeu: “Ah, sim, tal como no disco ‘Basta dizer não.’ ” E afastou-se entoando alegremente a canção. Foi o fim da nossa conversa, e na manhã seguinte o resfriado e a distensão muscular estavam curados.
Jesus avisou seus discípulos: “Sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.” Mateus 10:16. Agir continuamente baseados no amor desprendido, habilita-nos a diferenciar entre o que é inofensivo e o que é prejudicial. (Fazer a nós próprios perguntas tais como “Gostaria que isto acontecesse comigo, ou a algum ser querido?” ou “Será que acho mesmo que meus motivos são desinteressados?” poderá ser muito elucidativo.) Se formos honestos para conosco, poderemos discernir as tentações atrativas mas enganosas, e teremos sabedoria suficiente para reconhecer que uma mentira não tem justificação nem direito de resposta.
A verdade contida no Primeiro Mandamento — de que há um só Deus, uma só fonte do bem abundante — tem poder para destruir todas as fases do mal, quer sob a forma de doença, quer de pecado. Permanecer com essa verdade e traduzi-la em obras na nossa vida diária é a prática da Ciência Cristã, que traz progresso e liberdade espirituais.
Há uma quantidade imensurável de bem ao qual podemos dizer “sim”. Aprender a dizer “não” àquilo que não nos beneficia, nem ao nosso próximo, abre nosso pensamento e amplia nossa experiência com esse bem ilimitável e sua felicidade duradoura, satisfação genuína e realização.