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Enfrentemos a corrupção com “a ética do altruísmo”

Da edição de abril de 1991 dO Arauto da Ciência Cristã


Na luta em prol da ética nos negócios e no governo, as batalhas importantes são, muitas vezes, modestas, em vez de dramáticas. Essas lutas discretas do dia-a-dia acontecem na vida dos indivíduos que procuram resistir às pressões, tentando perceber e fazer o que é correto. No entanto, as pequenas vitórias também contam. Conforme o mostra este “Perfil,” elas podem resultar em fortalecimento e purificação das instituições e comunidades.

Durante quatro anos, a advogada ora entrevistada trabalhou como juíza em um tipo de tribunal estadual de contas, nos Estados Unidos. Nesta entrevista, a ex-juíza narra como o discernimento espiritual a ajudou nos detalhes da tomada de decisões e a auxiliou a manter um padrão ético elevado. Devido à natureza do trabalho descrito, o nome da entrevistada não é publicado.

A Sra. poderia mencionar alguns de seus encargos como juíza?

Era de minha responsabilidade rever os atos dos órgãos estaduais que recebiam verbas federais, verbas para novos projetos de vulto, bem como fundos para a construção de benfeitorias e a aquisição de equipamento novo para instalações já existentes. Eu conduzia audiências administrativas que tinham a ver com o departamento estadual que estava autorizado, por seu governo, a aplicar as verbas.

Por exemplo: havia um plano estadual de saúde que atribuía ao juiz decisões objetivas quanto à necessidade, ou não, de mais camas hospitalares para determinada instituição, ou se algum outro equipamento importante se fazia necessário.

Será que nos pode dizer como sua atitude influiu nesse trabalho como juíza?

Eu fazia o máximo esforço para que reinasse justiça, para ser realmente misericordiosa em minhas ações. Precisava conhecer os fatos, discernir a verdade e, se houvesse uma profunda necessidade humana a ser suprida, que o fosse. Se existisse alguma necessidade, ela deveria ser atendida com compaixão. Se não houvesse a necessidade, certamente não seria justo permitir alocar verbas para instalações desnecessárias e o contribuinte ter de pagar por algo que não seria usado.

Não existe fórmula na Ciência Cristã
Christian Science (kris´tiann sai´ennss) e, para mim, não existe fórmula para viver. Você ora para ser inspirado. E há um bem coletivo que resulta do discernimento e do aprendizado a nível individual de como expressar mais espiritualidade, como ser mais humilde e como ser uma força para o bem no mundo.

Se humildemente procuramos a orientação de Deus, então a vontade humana é subordinada à lei divina e vemos claramente qual o caminho a seguir. A lei divina de amar nosso próximo como a nós mesmos governa nossa experiência e a vontade humana se subordina a esse fato. Isso faz parte do que eu chamo ética do altruísmo, a ética de procurar livrar-nos da vontade cega, obstinada, que acredita que só existe a minha maneira de ver e de fazer as coisas. Talvez não saibamos qual é a vontade de Deus de momento a momento, mas simplesmente abrimos nosso pensamento e nossa oração para que sejamos guiados em cada desafio.

Quais são alguns dos desafios do ponto de vista ético, que a Sra. enfrentou como juíza?

As duas experiências a seguir mostram quais podem ser os desafios no campo da ética. Num caso, eu tinha de rever o financiamento de um projeto que envolvia vários milhões de dólares. Um alto funcionário de uma companhia internacional procurou-me antes da audiência e tentou, com sutileza, subornar-me. Foi sutil o suficiente para não dizer diretamente: “Deixe-me recompensá-la.” Mas não resta a menor dúvida de que foi uma tentativa de influenciar minha decisão a favor do projeto, mencionando uma quantia bastante elevada em dinheiro.

Primeiro pensei que estivesse brincando. Silenciei-o com uma risada, fui em frente e conduzi a audiência. Naquele caso, neguei o pedido porque não estava de acordo com o plano e as diretrizes do estado.

A proteção que advém da integridade e do fato de se viver de acordo absoluto com nosso mais elevado senso de justiça é fundamental. Em cada um desses recursos legais, desde o primeiro deles, orei para ser governada pela Mente, Deus, à medida que escrevia as razões jurídicas de minha sentença.

No governo anterior, as solicitações de financiamento haviam sido avaliadas, muitas vezes, por critérios políticos e nós estávamos procurando desvinculá-las da política e colocar o mérito da questão acima de tudo. Nesse caso específico, senti que devia elaborar um parecer extenso. Muitas vezes, os financiamentos haviam sido concedidos ou negados com apenas um parágrafo. Os advogados até questionaram esse fato, mais tarde. Disseram: “Por que a Sra. se deu ao trabalho de elaborar um parecer tão longo e completo?” Disse-lhes que me parecia ser a melhor proteção para todos.

Aconteceu que o funcionário da empresa que tentara me “subornar” levou o caso a todas as instâncias superiores, até a suprema corte estadual, e esta manteve minha decisão. Se eu não tivesse elaborado um parecer tão extenso, a corte suprema estadual poderia não ter tido provas suficientes das minhas razões ou elementos suficientes para avaliar o porquê daquela conclusão a que eu chegara. Como se vê, foi uma grande proteção.

A Sra. disse que lhe foi oferecido suborno, o que obviamente não representou tentação alguma. Por que não?

Uma de minhas expressões preferidas diz que sempre temos de nos colocar na pele dos outros. Para mim, essa é apenas outra maneira de afirmar a Regra Áurea, que Jesus nos ensinou: “Tudo quanto. .. quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles.” Eu não gostaria de ser vítima de calúnia, falsidade ou fraude. Conseqüentemente não quero que meus semelhantes passem por isso.

Entendo que integridade é permitir que o Princípio, Deus, governe nossa experiência, é ceder à vontade de Deus e não ficar manipulando. Quantas vezes nosso ego assume a direção, a vontade própria se adianta e pressiona e, com isso, penso eu, vem a tentação de não dizermos a verdade, porque poderia não ser de “nosso” interesse. Mas para mim não há dúvida a esse respeito. A integridade faz parte do pendor espiritual, faz parte do ato de amar. Sem dúvida, foi por isso que o dinheiro não teve preponderância sobre minha obediência ao Princípio.

O que é que dá o discernimento para decidir corretamente, para fazer uma escolha de padrão ético elevado, especialmente quando poderia haver a tentação de se usar o cargo para tirar vantagem pessoal?

Existe outra expressão: “Se não temos rumo, então qualquer caminho serve.” Penso que, como Cientistas Cristãos, ao tentar seguir o Cristo, sempre temos um rumo: caminhamos rumo ao Espírito. O que estamos tentando fazer em nossa experiência é abraçar a santidade e a Verdade; abraçar o poder do Amor divino e da pureza divina. É isso o que estamos tentando fazer centenas de vezes ao dia, desafiando a aparência do mal, desafiando as mentiras, o ódio e a vingança que se apresentam e, em vez disso, ver o homem como Deus o criou, espiritual, inocente e íntegro. Esse é o rumo que nos esforçamos para seguir. Nessa direção é que andamos.

Quando seguimos o Cristo, volvemo-nos para o Espírito. Espiritualizamos nossa consciência, nosso pensamento e nossa vida. Isso nos protege, nos mantém no caminho do Princípio, que é a causa primária, o único criador, e nos ajuda a perceber em maior grau a criação de Deus, o homem perfeito criado por Deus, o homem que Cristo Jesus via.

Muitas vezes, penso em termos bem simples, como nesta Bem-aventurança contida na Bíblia: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.” Creio que somos fartos, quando procuramos a justiça. A integridade é recompensada. Somos tocados por aquele poder onipotente que tem uma recompensa segura, um resultado claro, que nada pode destruir.

Penso na parábola em que Jesus fala em separar o joio do trigo. Quando oro, e por oração entendo uma busca da orientação de Deus, procuro alinhar minha forma de pensar com os pensamentos orientados por Deus, com a santidade, a justiça, a verdade, a bondade, atributos esses que desejo apresentar ao meu próximo, atributos esses que são uma exemplificação de Deus. Vemos Deus na bondade, vemos a Verdade na veracidade. Assim, obviamente, à medida que procuramos ser bons e sinceros, manifestamos o poder de Deus em nossas ações. Isso faz parte do que chamo processo de espiritualização.

Quando estou cheia de ódio, ansiando por vingança e tomada de medo, não posso ajudar os outros, porque meu pensamento está centralizado no ego e não está alicerçado em Deus, o Princípio. Esse estado de espírito não ajuda meu próximo. Se meu empenho estiver voltado para Deus, meu pensamento será mais espiritual. O bom disso é que posso ajudar meu próximo e a mim mesma. Esse esforço faz com que estejamos mais conscientes do Cristo, que nos habilita a separar o joio do trigo, o bem do mal, para que saibamos o que colher. Temos assim maior discernimento espiritual e não colhemos algo errado.

A Sra. mencionou um outro exemplo de sua atividade como juíza.

Era um caso muito político e estava em evidência. Um grande aliado de nosso governo havia solicitado financiamento. Mas o governo que me havia nomeado, nunca, de maneira alguma, havia tentado influenciar minhas decisões. Mesmo assim, era óbvio que teria gostado que esse grupo em particular obtivesse uma decisão favorável, que se concedessem os recursos para seu projeto.

Novamente, elaborei um longo parecer e levei muito tempo simplesmente orando, porque tanto o sim como o não poderiam ser corretos. Era claro que a decisão exigia amor, porque as necessidades da comunidade deviam ser atendidas. Mas fazer a comunidade pagar por algo que está além de suas necessidades e, no fim das contas, é sempre a comunidade quem paga, está errado.

Novamente, tentei expressar uma combinação de Amor e Princípio no que estava fazendo e procurei me pautar nisso. Veio-me o pensamento claro de que o financiamento deveria ser negado. Nessa e em outras ocasiões em que os projetos não preenchiam os requisitos para justificar sua necessidade, neguei grandes financiamentos a alguns projetos de vulto de várias companhias, mesmo que os diretores tivessem contribuído com grandes somas ao nosso governo.

Alguns anos depois de ter tomado essa decisão, soube que o governo anterior, não aquele em que eu servira, havia sido implicado em casos duvidosos no processo decisório daquele departamento em particular. Houvera conflitos de interesse e favoritismo. Chegara a existir um grupo que mantinha uma “associação” velada e clandestina com funcionários estaduais de alto escalão. Os membros desse grupo, bem como os funcionários estaduais, foram subseqüentemente indiciados pelo governo federal, por suas atividades. As alegações sugeriam que milhões de dólares haviam sido gastos em tráfico de influências.

Durante o julgamento, houve um esforço tático por parte da defesa, para mostrar que durante o governo em que eu servira também tinha havido favoritismo. No entanto, no julgamento não foi apresentada nenhuma prova escrita nem testemunho que o comprovasse. As tentativas de comprovar esse favoritismo fracassaram porque tínhamos em arquivo extensos pareceres por escrito, bem elaborados, com base em fatos e em leis, para todas as nossas decisões. Os documentos exprimiam claramente decisões contrárias a projetos de aliados políticos de nosso governo. Ficou comprovado que o desejo sincero de ater-se ao Princípio divino e de obedecer às leis existentes, foi uma proteção completa para aqueles que eram inocentes.

Anteriormente, falei da proteção que a inocência confere. A história bíblica que me vem à mente é a de Daniel na cova dos leões. Ele passou por tudo aquilo, esteve na cova dos leões e o rei Dario foi vê-lo para saber se Deus o havia salvado dos leões. A primeira coisa que Daniel fez foi saudar Dario tal como se devia saudar um rei. Para mim, esse gesto indica que ele expressou o devido respeito no momento correto. É importante obedecer às regras existentes, mas também existe uma lei superior. Ao obedecer a essa lei superior, como Daniel o fez, cumpriu-se essa lei, como o próprio Daniel declarou: “Foi achada em mim inocência.” Foi a inocência que havia nele que o protegeu dos animais ferozes.

Temos essa proteção contra os maus pensamentos e os maus propósitos dos outros. A Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy, escreve em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Os pensamentos e propósitos maus não têm maior alcance, nem fazem maior dano, do que nossa crença permite. Os maus pensamentos, a cobiça e os propósitos maliciosos não podem ir, como o pólen errante, de uma para outra mente humana e ali achar alojamento sem despertar suspeitas, se a virtude e a verdade formam forte defesa.”

Quão importante é que a virtude e a verdade construam essa forte defesa. Mas é preciso construir. É preciso oração e fortalecimento metafísico verdadeiro para saber que não estamos sujeitos a mentes diferentes e a influências errôneas.

Como obtemos esse fortalecimento?

Através da oração, sabendo o que é Deus e o que é o homem. Sabendo que Deus é o criador e a causa primária e que todos nós somos, em verdade, Sua manifestação perfeita. À medida que oramos e começamos a perceber espiritualmente nossa verdadeira identidade, somos protegidos, colocamo-nos sob a forte defesa da Verdade, do Princípio, Deus. Para mim, a totalidade da Ciência do Cristianismo se resume no todo-poder de Deus, a Mente, que recompensa a retidão. Com essa recompensa vem o conhecimento de que Deus é a causa única, o único criador de todo o bem, e de que não há poder nem força capaz de destruir o bem que é parte inerente do homem, assim como a honestidade e a retidão.

Com uma Mente só, compreendemos a lei divina de amar nosso próximo como a nós mesmos. Não há divergências, mas sim o reconhecimento de que em qualquer situação existe apenas uma Mente amorosa, decidindo, governando e cuidando de cada situação, de nossa comunidade, de nosso país, do mundo e do universo.

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