Em que consiste a diferença entre escrever para os periódicos da Ciência Cristã e escrever para outras publicações? O que impele essa atividade? O que a torna possível? Como ajuda o leitor? Como afeta o autor?
Não faz muito tempo, quatro autores que contribuem com regularidade para o Christian Science Journal, bem como para o Christian Science Sentinel e o artigo religioso publicado diariamente em The Christian Science Monitor, debateram o que os levou originalmente a escrever e o que os mantém nessa atividade, mesmo quando seus manuscritos são devolvidos para fins de revisão! e contaram como começaram a escrever e o que aprenderam sobre como escrever e sobre a humildade, a oração e o amor, nos anos que se seguiram.
Como você começou a escrever para os periódicos? O que foi que a impeliu a começar?
Cynthia Howland: Ora, eu me interessei em escrever para os periódicos por puro amor a Deus e à Ciência Cristã e porque eu desejava partilhar algumas das minhas experiências de mãe com os leitores do Sentinel e do Monitor! Foi isso que me fez entrar em ação.
J. Darrow Kirkpatrick: Minha experiência foi um pouquinho diferente. Eu acabava de fazer o Curso Primário de Ciência Cristã e tinha sido Cientista Cristão durante toda a vida, mas no decorrer do curso, nosso professor, pessoa que apóia grandemente nossos periódicos, recomendara que escrevêssemos para os periódicos.
A vida toda eu havia aprendido e ouvido falar sobre a mente mortal. Eu achava que sabia bem o que era a mente mortal. Mas após o curso, dei-me conta, mais vividamente do que nunca, de que não existe mente mortal. Esse tema ficou de certo modo comigo e acho que me trouxe uma sensação de descoberta. Eu estava interessado em expô-lo para ver o que se poderia fazer, a fim de partilhar esse conceito, algo que eu “conhecia” tão bem, mas realmente não conhecia até aquele momento. Assim, esforcei-me para partilhar alguma coisa que eu sabia, mas que acabava de descobrir. E esse foi o meu primeiro artigo.
David C. Kennedy: Eu ia dizer que comecei a escrever em busca de fama e glória, mas penso que não foi bem assim. De qualquer modo, não trouxe fama nem glória. Concordo com o que já foi dito. Foi apenas o amor por uma idéia, o amor pela verdade. Meu primeiro artigo foi “Como deixar que Deus nos cure.” Essa me parecia uma idéia tão boa, que desejei partilhá-la. Aprendi muita coisa, aventurando-me naquele primeiro artigo. Aliás, pensando bem, escrevi quatro artigos antes de encaminhar um deles. E cada um era mais completo do que o anterior, até que, por fim, senti coragem suficiente para submeter um deles à Redação.
Depois de enviar seu primeiro artigo, você aprendeu alguma coisa da resposta recebida dos Redatores?
JDK: Foi uma experiência esplêndida! Acho que com a primeira resposta recebida, aprendi algumas coisas. O mesmo se dá com todos os outros. Humildade é a primeira coisa que se aprende. Mas outra coisa bem prática que aprendi foi a necessidade de usar correlativos, de usar exemplos. Os Redatores deixaram clara a importância de aplicar quaisquer asseverações metafísicas contidas no artigo. E isso continua a ser de grande ajuda para mim.
CH: Bem, aprendi diversas coisas. A primeira coisa que realmente tive de aprender foi humildade. A segunda, foi humildade. E a terceira também foi humildade. A seguir tive de aprender a purificar meus motivos.
Katherine Jane Hildreth: E por falar em "humildade", durante toda a minha vida adulta estive mais ou menos envolvida em escrever. Por isso, quando comecei a escrever meu primeiro artigo, que era quase uma carta dirigida a meu filho, eu repicava em tons claros como um sino no que eu pretendia lhe dizer. Eu sabia como escrever, sabia fazer a divisão por parágrafos, como dar fluência etc. Ora, tive outra vez de aprender humildade. A capacidade humana de unir palavras, como vim a aprender, não é tão importante. Recebi uma amável carta de um Redator. A carta continha tanta ternura e expressava tanta paciência comigo, que pensei: Ora, se eles podem se dar ao trabalho de escrever esta carta, eu também posso, com toda a certeza, pôr de lado meu eu pessoal o suficiente para ser humilde e transmitir essa mensagem de maneira tal, que chegue ao coração de quem a lê. Com isso, aprendi uma boa lição.
DCK: Acho que essa idéia de humildade e esse senso de aventura conjunta entre autores e Redatores é algo que venho aprendendo e do qual às vezes tenho de repetir algumas etapas, passo a passo. Descobri que vale a pena abandonar a idéia de que esse era o meu artigo, mas aceitar que a mensagem vem do Pai. Ao orar a respeito da mensagem, temos não só de confiar a redação ao Pai, mas confiar todo o processo a Ele, inclusive onde e quando vai ser publicado.
JDK: Os Redatores lidam diariamente com assuntos que abrangem o movimento todo, o mundo todo — com contribuições diretamente procedentes do Campo de Ação. A perspectiva que passam para nós, como autores, torna-se vital à medida que procuramos confirmar esse enfoque com nossa inspiração sobre um determinado tópico que estamos expondo.
Algum de vocês gosta realmente de fazer revisão?
KJH: Acho que sim. A primeira vez que recebi uma carta dizendo: “Sim, gostamos da idéia, mas você precisa aprofundar-se mais,” pensei: “Bem, não há outro jeito.” Fiquei tão contente com a paciência demonstrada por essa pessoa, gastando seu tempo para me escrever! Aí pensei em começar tudo de novo. Gosto de costurar, faço roupas, mas não gosto de fazer consertos. Por isso, quando recebi a carta, pensei: “OK, manterei minha abstração”, cerca de trinta ou quarenta palavras que sempre escrevo para mim mesma, indicando o que vou dizer. O resto jogo fora. A seguir coloco de volta aquilo que está certo. Ah, sim, fico contente quando tenho de revisar, pois o resultado líquido é cem por cento melhor do que foi a primeira composição.
CH: Bem, acho que no processo de revisão se obtém um conceito inteiramente novo do que é divertir-se e da alegria que isso traz. Pois, de fato, dá realmente ao autor a oportunidade de se haver mais com esse tópico e consigo mesmo. Isso tudo é gostoso. Você dá uma volta de 180 graus à idéia toda e, assim, obtém novo significado de diversão. E se diverte mesmo. Há muito contentamento em esperar que Deus nos dê a idéia correta ou a palavra certa ou a forma de abordar o tema em questão.
DCK: Há duas coisas, penso eu, que tornam difíceis as revisões. Uma: a impaciência. Você encaminha o artigo, gosta dele e não vê a hora de sua publicação. Mas aí você precisa revisá-lo. Se você é impaciente, isso talvez represente uma luta. Outra: quando um artigo nos diz algo muito especial. Há uns dois anos, quando já devia ter uma idéia melhor sobre como escrever, encaminhei um artigo de que eu gostava muito. Quando o enviei, achei que ele estava realmente maravilhoso. Contudo, minha contribuição me foi devolvida e a essência dos comentários dos Redatores era de que eu não tinha dito as coisas com clareza ou que o assunto não fora bem desenvolvido. Pensei: “Que é isso? Não está claro? Esses Redatores é que não entendem!” Mas foi então que me dei conta de que, se eles não conseguiam entender, os outros também não entenderiam. Terminei tendo de fazer duas revisões daquele artigo e, na segunda vez, a luta foi bem menor. Hoje me sinto grato por ter sido forçado a fazê-las. Não se tratava de desenvolver mais a idéia, neste caso em particular, mas a maneira de expressá-la precisava ser refinada.
Você acha que existe alguma conexão entre escrever e procurar compreender algo ao mesmo tempo?
JDK: Acho que sim. É isso que eu penso quanto a escrever. Para escrever é preciso compreender realmente. Assim, muitas vezes acho que entendo algo, mas quando procuro colocar a idéia no papel, me pergunto se o leitor vai compreender o que escrevi. O ato de escrever nos força a lutar para compreender mais profundamente a idéia em pauta, penso eu.
Alguns autores dizem que não acham necessário esperar que um artigo seja publicado antes de começar a escrever outro. Dizem que o progresso é mais rápido se continuam a escrever. Vocês aprenderam algo nesse sentido? O hábito de escrever sustenta o que se está tentando fazer?
KJH: Sim, é isso mesmo. Aliás, gosto de estar sempre trabalhando num artigo, por isso quando encaminho um, ponho-me a pensar em outro artigo. E eles me ocorrem de muitas maneiras diferentes.
É muito útil a disciplina de fazer um esboço, escrevendo umas trinta a quarenta palavras sobre o que se pretende dizer.
JDK: Acho que a inspiração vem em horas diversas e é bom continuar a trabalhar. Tenho uma cadernetinha que carrego sempre comigo. Já me vi a fazer anotações, até andando de barco ou de trem.
DCK: Escrever é como uma ferramenta. Constatei que, se paro de escrever por algum tempo, sinto-me enferrujado e aí fica um pouco mais difícil recomeçar. Não é impossível, mas ajuda muito continuar a escrever.
Quando escrevem, vocês pensam no leitor? Em caso positivo, como pensam no leitor? Ou acham que escrever é um esforço solitário, entre você e Deus?
KJH: Claro que penso no leitor. Alguém já disse: “Escrevemos para louvar a Deus, em prol do leitor.” Guardo em mente alguma pessoa, enquanto escrevo. No meu primeiro artigo, eu estava literalmente escrevendo para meu filho adolescente. Desde essa ocasião, tenho sempre alguém em mente — um paciente, um parente, um amigo, eu mesma — para quem estou escrevendo esse artigo polindo-o, perscrutando-o, escavando-o, às vezes sentindo-me ansiosa por capturar a idéia. O leitor está sempre em meu pensamento.
JDK: Concordo também com o que foi dito. Às vezes tenho uma idéia e é uma idéia maravilhosa. Começo a colocá-la no papel e me dou conta de que tenho de pensar em quem vai ler o que escrevo. Geralmente me vem ao pensamento alguém que o vai ler. Mas de vez em quando o leitor não salta ao meus olhos. E é de bom alvitre, quando isso acontece, dizer: “Ora, talvez este assunto seja apenas entre mim e Deus.” E daí prossigo e exploro outros tópicos sobre os quais escrever.
CH: O leitor é parte integrante da idéia completa do artigo ou ensaio. Envolver com afeto o leitor desde o começo, faz parte da demonstração de inteireza de seu artigo.
DCK: Nesse sentido, penso muitas vezes numa coisa: Conscientemente procuro amar cada vez mais o leitor, enquanto escrevo. Será que, em vez de almejar a ajudar o leitor, eu me ponho a desfrutar, eu mesmo, do texto, do jeito como está fluindo? Venho orando a respeito disso cada vez mais.
Vocês oram sobre o que estão escrevendo? Como é essa oração? Quais os resultados obtidos? Poderiam contar algumas das experiências reais provenientes disso?
KJH: De saída, não fiz da oração uma fórmula, mas gosto de começar com este belo conceito: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” E isso me ajuda a deixar de lado o sentimento pessoal de responsabilidade. E minha oração é de que eu seja uma testemunha transparente: Pai, “que queres que eu faça”? A seguir oro para escutar cuidadosamente a mensagem, a mensagem pura, puríssima. Trata-se de uma oração constante, todo o processo de escrever é uma oração e cada trecho que escrevo é em resposta à oração. Logo, o artigo completo é o resultado da oração, sem tirar nem pôr.
CH: Muitas vezes, todas as frases são orações, uma por uma, sabendo que a atividade de escrever é uma das “tarefas infinitas da verdade”. A Sra. Eddy diz-nos em Ciência e Saúde: “Ao contemplar as tarefas infinitas da verdade, paramos — ficamos atentos a Deus.” Eu paro, faço muitas pausas, enquanto fico atenta a Deus, e o resultado é o rompimento das barragens de palavras empilhadas que não dizem coisa alguma. As pausas simplesmente destroem aquelas barragens. A verdade então fica livre para escrever por si só, poderíamos dizer.
Vocês recebem cartas dos leitores ou têm com eles alguma outra forma de contato a respeito de seus artigos?
KJH: Sim. Isso aconteceu com um artigo que deu mais trabalho, exigiu mais oração, com o qual tive uma luta maior. (Foi preciso revisá-lo duas vezes — e isso significa que o escrevi inteiramente três vezes.) A carta mais terna e comovedora eu a recebi de uma senhora inglesa. Ela mencionou ter sido curada por esse artigo. Ao ler a carta, vieram-me lágrimas aos olhos. Eu já havia recebido cartas antes dessa, mas nesse caso o fato estava intimamente ligado à humildade que me fora preciso demonstrar para fazer a árdua segunda revisão. E, evidentemente, esse amor lhe fora transmitido, de alguma forma, e lhe abrira o pensamento para que recebesse a cura.
Existe hoje, como nunca antes, uma enorme sede da alma por coisas espirituais. Até certo ponto, o mundo inteiro começou a buscar os valores espirituais. Em décadas recentes, as pessoas parecem ter sido sacudidas pelo negrume do materialismo e estão em busca de espiritualidade — às vezes com sabedoria, às vezes sem ela. Mas lançam-se a essa busca de diferentes maneiras. Na capa de um número recente do Sentinel aparecia: “Se você está atravessando o deserto, a água passa a ter novo significado! Na atual crise de valores, muitas pessoas estão como nunca, sedentas de significados mais profundos!”
Por isso, se você fornece a água viva por que as pessoas anseiam, certifique-se de que a irão procurar e a haverão de encontrar.
Isso exige muito de nós. Não existe jeito de atendermos a essa imensa necessidade sem realmente passar por aquilo que necessitamos passar, a fim de dispor de água viva para dar. Isso significa purificação, batismo — naqueles estágios profundos que a Sra. Eddy descreve.
Vê-se que as palavras apenas não satisfazem aos anseios da alma. Aliás nada há de pior, quando se está profundamente perturbado, do que o sentimento de que tudo não passa de “palavras”. Assim, a pior coisa que nos pode acontecer é nos tornarmos um grupo de cunhadores de verbosidade — em que tudo soa como sendo a mesma coisa, todos os episódios narrados e diálogos importantes parecem ser intercambiáveis.
Mas palavras que foram vividas haverão de satisfazer à alma sedenta — palavras que brotam de nosso mais profundo desejo de ouvir a Deus e de registrar apenas o que a Mente impele seja registrado. Portanto, esse tipo de redação a que nos estamos referindo é de natureza essencialmente espiritual. Não pode ser algo construído humanamente, não pode ser a junção de palavras, feita com sagacidade, mas deve ser sempre algo que purifique o coração e esteja atento a Deus, deixando que se faça a Sua vontade — e é isso que dá às nossas palavras a propriedade de curar, o que as torna diferentes de outras palavras.
O que mais bastaria? Como ousaríamos abordar a alma faminta e sedenta da humanidade, oferecendo-lhe apenas palavras ou mero talento ou aptidão humana? Não nos atreveríamos a enfrentar uma necessidade física de cura com um senso de nossa própria importância ou a mera habilidade de expressar verbalmente a letra da Ciência.
No livro Christian Science in Germany de autoria de Frances Thurber Seal, encontra-se um trecho em que a Sra. Seal, uma das praticistas que foi pioneira da prática da Ciência Cristã na Alemanha, diz sobre suas primeiras curas notáveis “... E sabia que não era nada existente em mim, o que me permitira realizar essas obras. Só o Próprio Deus poderia ter dissipado essas trevas terríveis.” Precisamos medir nossos escritos para os periódicos religiosos, recorrendo a um padrão similar a esse.
De uma palestra proferida por um Redator numa reunião reunião de trabalho para autores
Existe um trecho no livro de Isaías com o qual todos nós, autores, nos identificamos. É aquele em que o profeta escreve: “Então disse eu: Ai de mim! Estou perdido! porque sou homem de lábios impuros, habito no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! Então um dos serafins voou para mim trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca, e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniqüidade foi tirada, e perdoado o teu pecado. Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim” (Isaías 6:5—8).
Quando cada um de vocês ouvir a voz de Deus, dizendo: “Escreve!” fazemos votos de que ninguém diga: “Estou por demais ocupado” ou “Não tenho nada a dizer”, mas, recordando como é realmente feito o trabalho, responda: “Eis-me aqui, Senhor; que estás fazendo, Senhor? Que estás concedendo, que deve ser dito?”
Comentários sobre uma reunião de trabalho para autores
