Meu Amigo Contava-Me quantas dificuldades enfrentava este ano. Sentia-se forçado pelas circunstâncias, ou talvez por Deus (não tinha certeza) a renunciar a muita coisa. Decidira ser necessário demitir-se de um trabalho do qual gostava, mudar o jeito de viver, deixar de lado algumas atividades com que se sentia realizado. Disse que havia sacrificado tantas coisas durante o ano, mas que em troca não vira nada de bom. Teria valido a pena? Teria tido alguma importância? Sua vida iria, alguma vez, melhorar?
Muitos de nós provavelmente entendemos a situação desse homem. É difícil aceitar que renunciamos a algo importante em nossa vida e não ver nenhum resultado bom advindo daí. Há, todavia, um modo de encarar os sacrifícios desde um ponto de vista mais espiritual, que na verdade o relaciona com o progresso e com as bênçãos que Deus já concedeu à Sua criação, um modo que transforma o sentimento de perda em ganho genuíno.
É importante reconhecer que jamais é exigência de Deus que renunciemos a algo realmente bom. A Ciência Cristã explica que Deus é quem nos dá todo o bem, e não quem nos retira a alegria, ou a esperança, ou a paz. Deus, o Amor infinito e a Vida divina, cria e mantém tudo o que é bom no homem, tudo o que traz verdadeira satisfação e progresso. O puro Amor não destrói o bem; nem descuida Deus, a Mente divina, onipotente, de preservar o bem que Ele estabelece e as bênçãos que Ele concede a Seus filhos.
O que a lei de Deus requer de nós, ao desenvolvermos a nossa salvação e crescermos em graça, não é a dissolução dos elementos mais nobres e enriquecedores de nossa vida, mas uma superação de qualquer coisa abrigada no pensamento e que limita nossa conceituação da realidade divina. A lei de Deus requer a renúncia a tudo que degrada a pureza e a alegria da vida, a tudo que materializa e, assim, corrompe nossos valores e ideais, a tudo que procura afastar-nos de Deus e denegrir todo o bem que já se expressa em nosso ser verdadeiro. A lei de Deus exige que abandonemos tudo o que prejudica nossa compreensão e expressão de quem na verdade somos como a manifestação espiritual, a muito amada imagem e semelhança, de nosso Criador.
Essa forma de sacrifício é realmente sacrifício próprio, é abandonar um falso eu, ou ego. Significa desistir da vontade pessoal, de metas pessoais, de conceitos pessoalmente entretidos quanto ao que é certo e desejável em nossa vida. Significa, outrossim, deixar de crer que temos uma mente e inteligência separadas de Deus, ou que conduzimos nossas experiências independentemente de Sua vontade e orientação divinas.
Talvez seja essa deposição consciente da voluntariosidade e de um modo de vida egotista, ao invés da revogação do bem verdadeiro, o que o Salmista aponta no Antigo Testamento, quando expressa assim o que Deus espera de nós: “... não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.” Salmos 51:16, 17.
A palavra em hebraico para sacrifício significa, ali, literalmente “matança”. Sem dúvida o Deus do amor universal não requer que nossa vida ou nosso bem sejam mortos sobre o altar das concepções errôneas acerca da Divindade, ou das interpretações falsas do lugar que ocupamos no Seu propósito divino. Devemos, porém, estar dispostos e prontos para suprimir toda percepção egoísta, autodestrutiva ou censurável sobre quem somos. Quando cedemos à ação redentora do Cristo, a Verdade, na consciência, aprendemos a ser humildes e a ter o coração contrito. Ficamos, na verdade, livres dos limites auto-impostos com relação ao bem. Encontramos paz verdadeira e alegria genuína. Vemos a promessa e as bênçãos de nossa identidade verdadeira, a agora e sempre perfeita imagem de Deus.
Quando cedemos à ação redentora do Cristo, a Verdade, na consciência, aprendemos a ser humildes e a ter o coração contrito. Encontramos paz verdadeira e alegria genuína.
A Sra. Eddy, que descobriu as leis de Deus e sua aplicação científica a qualquer fase da experiência humana, escreve extensamente sobre o tema sacrifícios. Em um livreto a que intitulou Não e Sim, a Sra. Eddy apresenta algumas perguntas sobre Ciência Cristã que lhe pareceram necessitar de atenção específica a fim de dar ao público a clara compreensão do que esta Ciência ensina. Ela escreve sobre serem “uma” em Deus “a teologia e a medicina de Jesus”, e constata ter sido essa a base das curas que Jesus efetuava e, conseqüentemente, a base das curas pela Ciência Cristã.Não e Sim, p. 1. A Sra. Eddy escreve também sobre o incomparável sacrifício do próprio Salvador em favor da humanidade: “O sacrifício de Jesus ocupa um lugar proeminente entre o sacrifício físico e a aflição humana.” Na frase seguinte, ela afirma: “A glória da vida humana consiste em vencer a doença, o pecado e a morte.” Ela esclarece, ainda, que o sacrifício de Jesus implicava estender essa “glória” a toda a humanidade.Ibidem, pp. 33–34.
Tanto a teologia como as obras intensamente curativas de Jesus confirmavam o que o Salmista havia vislumbrado sobre a natureza amorosa de Deus, e sobre o sacrifício como a sensação redentora de desligar-se de um falso ego, de orgulho, de vontade própria. Consideremos o colóquio do Mestre com um escriba humilde, que escutava, atento, às respostas inspiradas que Jesus dava a um grupo de líderes religiosos conhecidos como saduceus. Ver Marcos 12:18–34. Os saduceus aparentemente pretendiam apanhá-lo em alguma contradição teológica e, assim, desdenhar de seu ministério. Jesus estava, porém, falando claramente a verdade sobre Deus, e isso não podia ser contestado.
O escriba, ao ouvir as palavras de Jesus, dirigiu-lhe uma pergunta sincera: “Qual é o principal de todos os mandamentos?”
Jesus lhe responde, não apenas com o grande mandamento de haver um só Deus que devemos amar intensamente, mas também com um segundo mandamento. “O segundo,” diz Jesus, é: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.”
O escriba comove-se com o espírito e a verdade das palavras do Mestre. “Muito bem, Mestre,” apóia-o, “e com verdade disseste que ele é o único, e não há outro senão ele; e que amar a Deus de todo o coração, de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios.”
Jesus, por sua vez, sem dúvida reconhece no escriba “um coração contrito”, pois o relato do Novo Testamento diz-nos: “Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus.”
Eis aí uma conexão clara entre a bênção de Deus, o progresso espiritual e o sacrifício do eu, um desprender-se de desejos egotistas e do amor próprio. O amor a Deus e ao próximo, dado sem coerção, abre as janelas de nossa consciência e de nosso coração, para recebermos o Seu reino e darmos testemunho do grande bem que Deus derrama sobre nossa vida neste exato momento. A Sra. Eddy oferece este alento simples e direto: “O sacrifício do eu é a estrada real para o céu.” Não e Sim, p. 33.
Compreender o que é o reino de Deus, a realidade de Deus, entender, mediante maior humildade e purificação do pensamento, a promessa, a presença e o poder do bem divino que estão aqui, agora, é verdadeiro progresso, um progresso que jamais é etéreo. É um progresso que jamais se processa só na mente humana, mas é, ao invés, a lei de Deus, a prova de Sua graça. Afeta todos os aspectos de nossa vida; eleva, espiritualiza, renova, abençoa, tudo que fazemos. É este progresso em compreensão espiritual, manifestado em corações tornados humildes e puros, e em vidas sadias, que responde se “teria valido a pena” e se tem importância.
A vida alguma vez irá melhorar? Todo marco do amor e da graça divinos no caminho por essa “estrada real para o céu” nos assegura que sim. Sacrifícios, bênçãos e progresso são inseparáveis. Revelam a perfeição divina que sempre constituiu, de fato, a nossa identidade verdadeira como o reflexo de Deus.
 
    
