Acabávamos de nos mudar para outra cidade. Eu nunca havia sido muito extrovertida, e não sabia como fazer amizades. Os novos colegas foram bonzinhos e eu logo fiquei amiga da Aninha. Íamos ao mesmo clube e tocávamos viola na orquestra da escola. Todo o mundo na oitava série era legal e eu me senti bem com o grupo todo.
Depois, começamos o novo ciclo escolar. No primeiro dia de aula, eu estava petrificada, mas não foi tão ruim. Fiz amizades com meninas que vinham de outros colégios e foi tudo bem. Mas Aninha se distanciou de mim. Eu havia sido colocada numa posição mais importante na orquestra, e ela ficou ressentida. E eu andava bastante com as outras colegas na escola.
Não notei nada de errado, em especial, até que comecei a receber umas cartas anónimas, que apareceram no meu armário no colégio. Quando fui pegar meus livros, antes da aula, esses bilhetes caíram no chão. Fiquei chocadíssima com o que estava escrito neles. Diziam coisas como: "Eu te odeio", "Fica longe de mim", "Você é horrível". De início, fiquei desconcertada. Depois, reconheci a letra de Aninha e fiquei furiosa. O que é que eu tinha feito para merecer esse ódio?
Passei o dia inteiro com raiva. Quando voltei para casa, mostrei os bilhetes para minha mãe. Ela ficou tão chocada quanto eu. E me perguntou o que eu queria fazer. Eu não sabia bem por onde começar, mas sabia que tinha de orar. Mamãe se ofereceu para conversar com a mãe da Aninha, pois elas eram amigas. Isso eu não queria, pois desejava lidar com a situação por meio da oração e não queria que Aninha me odiasse ainda mais.
À medida que eu ia orando e esperando a solução, a primeira idéia que me veio foi o que Cristo Jesus disse, que devemos amar nosso próximo como a nós mesmos. No Evangelho de Mateus ele disse: "Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que com desprezo vos usam e vos perseguem" Conforme a Versão King James(Mateus 5:43, 44). Esses versículos realmente eram apropriados. Fizeram-me perceber que eu tinha de amar a Aninha, apesar de todo o ódio que ela nutria contra mim.
Foi difícil, mas me esforcei por amá-la todas as vezes que eu a via. As vezes era muito difícil, mas eu sabia que Deus nos amava a ambas e que nós duas éramos perfeitas e amadas como Suas filhas.
Um mês depois, decidi perguntar a Aninha se ela havia mandado os bilhetes. Ela disse que sim. Fiquei surpresa por ela tê-lo admitido. Então perguntei por que havia feito isso. Respondeu que não sabia, mas que não me odiava de verdade. Aí mesmo eu entendi que ela havia sido curada e que eu nunca a havia odiado. Começamos a conversar mais vezes e voltamos a ser boas amigas. Nunca mais falamos sobre o que havia acontecido, pois o assunto perdeu a importância.
Há pouco tempo viajamos com a orquestra e ficamos no mesmo quarto. Não houve ciúmes nem inveja. E posso dizer, sinceramente, que prezo muito essa amizade. Aprendi que temos de amar, apesar da maneira como os outros agem. A gente tem de amar.
 
    
