Arauto: Como você começou a dançar?
H: Desde pequena, sempre me interessei por balé. Minha mãe conseguiu um professor maravilhoso para mim e para minha irmã, em nossa pequena cidade. Começamos a dançar e fomos aumentando o núme-ro de aulas, até que cheguei a seis dias de aula por semana com, no mínimo, duas aulas por dia. Aos dez anos, eu já sabia que isso era o que eu dese-java fazer pelo resto da vida.
Arauto: Existem tantas bailarinas jovens e talentosas, que deve haver muita concorrência.
H: É difícil lidar com a concorrência quan-do se é muito jovem. Tive de me relacionar com outras alunas que pareciam dirigir seus senti-mentos de ciúme e ódio a mim. Algumas pas-sagens da Bíblia e de Ciência e Saúde me ajudaram a orar a respeito. Dentre elas posso citar: “Toda arma forjada contra ti não prosperará; toda língua que ousar contra ti em juízo, tu a condenarás...” (Isaías 54:17) e “Revestido com a panóplia do Amor, estás ao abrigo do ódio humano” (Ciência e Saúde, p. 571).
Para mim, isso queria dizer que a minha pro-teção contra o ciúme e o ódio consistia em sentir amor e demonstrar apreço pelas outras bailarinas. Penso que aquelas garotas devem ter começado a perceber que não poderíamos competir por um lugar, porque não existe apenas um lugar. Existe um lugar para cada uma de nós. Ainda tenho de me lembrar disso e reconhecer que Deus ama cada um de nós da mesma forma.
Arauto: Você pode nos dar um exemplo de como a oração a ajudou em todos esses anos de dança?
H: Cerca de dois anos atrás, eu estava me preparando para uma competição internacional de balé na Suíça. Eu já estava treinando há mais ou menos um ano, e planejava viajar para a competição em janeiro. Em dezembro, durante uma aula, caí e me machuquei gravemente. Minha perna ficou muito ferida, a ponto de eu não poder sair da cama por três dias. Eu sabia que em quatro semanas teria de embarcar para participar da competição. O fator tempo parecia muito crítico. Eu havia me preparado, eu havia orado, eu havia treinado. Por que é que isso tinha me acontecido? A oração me ajudou muito durante essa experiência difícil. Orei para perceber o amor de Deus em toda a parte. Orei para compreender que eu nunca havia ficado separada daquele amor nem por um instante e, por isso, não poderia sofrer os efeitos de uma queda.
Arauto: Como você podia estar tão certa disso?
H: Eu já havia tido curas rápidas de braço quebrado, joelho deslocado, bolhas e outros problemas. Terminou o período de aulas do ano e eu fiquei confiante de que a cura iria acontecer. Continuei orando, reconhecendo que Deus estava comigo, e em três dias já estava dançando de novo. Minha professora comentou que nunca me havia visto dançar tão bem, o que é surpreendente, porque eu não havia dançado por cerca de quatro semanas. Mas a preparação mental, a oração, foi mais importante do que a preparação física.
Entretanto, os desafios não pararam por aí. Quando cheguei à competição, fui eliminada na primeira fase. Então me disseram que os juízes haviam-se enganado, e que eu tinha sido eliminada por engano, mas que seria impossível me colocarem de novo na competição. Fiquei arrasada. Quando o júri informou-me sobre isso, pensei no trecho do livro de Josué, que diz: “...não te deixarei, nem te desampararei... Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo por onde quer que andares’ (Josué 1:5,9). Esse pensamento me confortou bastante. Assisti ao restante da competição e orei, até me sentir sinceramente feliz pelos ganhadores, sabendo que havia muitas bênçãos para mim que seriam ainda maiores do que o que a competição tinha a me oferecer.
Voltei para casa e duas semanas depois fiquei sabendo da audição para o Balé Real da Dinamarca. Fui para lá com relutância. Cheguei muito atrasada e nada parecia dar certo. Mas então, depois da apresentação, fui a única escolhida entre cerca de 90 pessoas, para freqüentar o curso de verão promovido por aquela companhia. Ao final desse curso, fui uma das 25 pessoas escolhidas, entre bailarinos de todo o mundo, para fazer um estágio com eles. É para lá que estou indo. Isso foi muito mais do que eu poderia conseguir se tivesse ganhado a competição internacional.
Está escrito em Provérbios: “Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (Provérbios 3: 5,6). Eu posso sempre fazer planos segundo o que acredito seja o melhor, mas estou aprendendo que o que Deus preparou para cada um de nós é muito melhor do que qualquer coisa que possamos ima-ginar.
