Paulo era meu herói! Eu me comovia com sua alegria em Cristo, sua energia na divulgação do evangelho, seu apoio às igrejas que estavam se empenhando para se formar.
Contudo, quando passei a estudar a Bíblia com outros estudantes que tinham formação religiosa diversa da minha, meu apreço por Paulo começou a ser questionado. O que me parecia mais difícil era relacionar a orientação de Paulo sobre como as mulheres deveriam comportar-se nas igrejas e na sociedade, com sua teologia. Eu conhecia os textos que recomendavam que as mulheres cobrissem a cabeça e não falassem nas igrejas, entre outras coisas. Como essas recomendações não interferiam na minha vida religiosa ou social, eu simplesmente as ignorava. Entretanto, nesse novo cenário em que eu me encontrava, não podia ignorá-las, porque eu estava tomando conhecimento de situações em que mulheres que desejavam muito assumir um papel mais ativo no ministério em suas igrejas, tinham sido impedidas de fazê-lo, com base nas cartas de Paulo. Uma interpretação radical das cartas de Paulo impunha esse papel de submissão às mulheres, na família e na sociedade. Intimamente eu comentava: “Que absurdo!”, e passava para a análise de outros textos bíblicos. Finalmente percebi que, como havia ignorado as questões relacionadas com a condição da mulher nos escritos de Paulo, eu agora estava ignorando todos os seus escritos. Eles traziam um excesso de complicações, sendo que a questão relacionada com a condição feminina era apenas uma delas.
Para poder emitir um julgamento realista a respeito de Paulo, eu tive de compreender sua concepção do mundo, seu mundo interior, a visão de realidade que determinava seu comportamento moral e que definia sua maneira de viver e trabalhar no mundo exterior. Quando Paulo encontrou o Cristo no seu caminho para Damasco, sua concepção do mundo sofreu uma reviravolta de 180 graus! Será possível imaginar tudo o que aconteceu no íntimo daquele homem que, de uma maneira tão repentina, passou de adversário a defensor do Cristo? O relato bíblico não menciona como Paulo se sentiu, nem a mudança que esse acontecimento provocou em seu relacionamento com a família, com religiosos e com a comunidade. Tudo o que sabemos é o que inferimos de sua carta aos Filipenses, ou seja, que o que ele considerava “lucro” em seu entusiasmo para ser um bom hebreu, ele passou a considerar “perda” por Cristo (ver Filipenses 3:1-8).
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