Estive em Israel durante vários dias em abril de 2000, trabalhando num filme de curta metragem que mostrava alguns dos lugares por onde Jesus passou naquela região. Como só tínhamos cerca de uma semana para rodar as cenas que constavam do roteiro do filme, eu estava sempre examinando o mapa e procurando a paisagem para a nossa próxima cena. Eu e a equipe de filmagem geralmente saíamos das rotas muito utilizadas, e procurávamos aquelas paisagens que estão por toda parte na Terra Santa: muros milenares, rebanhos de ovelhas pastando em vales distantes, o crepúsculo no deserto ondulado da Judéia, a luz do sol sobre o Mar da Galiléia. Eu estava encantado com a terra e com o seu povo e ficava admirado pelo fato de nunca ter visitado aquela parte do mundo antes.
Mas voltemos para a realidade atual em Israel. Por toda parte aonde íamos, havia lembranças de conflitos não resolvidos, conflitos latentes, prontos para virem à tona. Jovens soldados israelenses, armados com rifles automáticos, ficavam postados junto às barricadas e nas esquinas. Havia um forte esquema de segurança dentro e em volta da Cidade Velha de Jerusalém. Ouvíamos o barulho dos tiros de artilharia proveniente dos exercícios militares realizados nas Colinas de Golã. E havia olhares de suspeita, cortantes como facas, entre grupos étnicos, próximos aos postos de controle de segurança e nas fronteiras.
No solo dessa região tiveram origem três das maiores tradições religiosas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Porém, nesse lugar, é a guerra e não a paz que tem sido a norma, há muitos e muitos anos. Não pude deixar de pensar: Será que algum dia um “processo de paz” genuíno vai se instalar aqui? E, alguns dias após a minha chegada ao país, eu passei a sentir uma decepção cada vez maior com respeito a uma outra coisa. Até onde eu pude observar, não havia nenhum vestígio de prova física de que um homem chamado Jesus havia um dia vivido ali ou feito as coisas que a Bíblia diz que ele fez.
Inúmeras escavações arqueológicas e manuscritos históricos da Terra Santa apresentam provas da existéncia de outros líderes e de movimentos sociais e políticos importantes do ponto de vista histórico. Mas o nome e a história de Jesus não estão entre eles. Dessa forma, como podemos ter certeza de que Jesus e os ensinamentos dele não foram inventados?
Certa dia, no final da tarde, recebi a resposta a essa pergunta. Nosso carro seguia velozmente por uma rodovia da Galiléia. Da minha janela, pude ver algo extraordinário acontecendo no céu. Paramos no acostamento da estrada, armamos a câmera apressadamente e começamos a filmar. Raios de luz, que faziam lembrar uma cena de um filme de Hollywood sobre Moisés e os Dez Mandamentos, cortavam o céu escuro. As colinas verdes e o vale resplandeciam iluminados pelos raios solares. Um espectro vívido de cores que incluíam tons de roxo, vermelho e dourado se espalhavam como aquarelas pinceladas no céu, formando uma paisagem reluzente. Essa cena fazia com que eu mantivesse meus olhos voltados para cima, e se tornava cada vez mais impressionante à medida que o sol ia se escondendo atrás da linha do horizonte.
Enquanto estava ali, maravilhado, esta mensagem veio claramente ao meu pensamento: “Você não encontrará na terra as respostas que procura. Olhe para cima! Você sabe que Jesus andou por essas colinas, curou doentes e alimentou multidões. E você sabe disso não porque o nome dele está gravado em pedra em algum lugar, mas porque a mensagem que ele transmitiu transcendeu o tempo e ainda está aqui, falando ao seu coração, 2.000 anos depois”.
Esses pensamentos não duraram mais do que alguns segundos, mas eu fiquei me lembrando dessa mensagem durante o resto da viagem, e ela me tem servido de apoio em muitas ocasiões desde esse dia. Com efeito, foi apenas recentemente, quando estava assistindo assistindo a um culto na igreja, a milhares de quilômetros das colinas da Galiléia, que comecei a compreender o verdadeiro significado dela. Tratava-se de uma reunião de oração numa pequena cidade do estado de Massachusetts, nos Estados Unidos, realizada após a trágica notícia de outro ataque terrorista com a explosão de uma bomba em Jerusalém. O culto começou com um versículo dos Salmos: “Orai pela paz de Jerusalém!” (Salmos 122:6).
E mais tarde ouvimos: “E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis...” (Mateus 24:6). “Ora, ao começarem estas cousas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima” (Lucas 21:28).
Novamente a mensagem que eu havia ouvido em Israel: “Olhe para cima”. Agora eu a estava ouvindo em seu contexto completo. Eram palavras bíblicas com raízes profundas. Palavras que poderiam nos remeter não somente aos próprios ensinamentos de Jesus, mas à mensagem eterna do Cristo, que tem falado à humanidade em todas as épocas e, com efeito, em todas as grandes tradições religiosas.
O sol ia se escondendo atrásda linha do horizonte. Maravilhado, veio esta mensagem ao meu pensamento: “Você não encontrará na terra as respostas que procura. Olhe para cima!”
E existem muito mais palavras que transcendem essas grandes religiões:
“Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos parentes chegados” (Gênesis 13:8) — palavras de reconciliação pronunciadas por Abraão, que é reverenciado igualmente por judeus, muçulmanos e cristãos, como patriarca de suas religiões.
“Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor”, palavras de Moisés, um homem reverenciado por todas as três religiões como profeta e legislador, em Levítico 19:18.
“Não temos nós todos o mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus? Por que seremos desleais uns para com os outros, profanando a aliança de nossos pais?” (Malaq. 2:10) — palavras de Malaquias, um profeta cujas palavras têm desafiado e encorajado judeus, muçulmanos e cristãos há séculos.
“Como queries que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles”, palavras de Jesus conhecidas como “a Regra Áurea” (Lucas 6:31), um código inspirado para o comportamento humano que possui contrapartida nos ensinamentos morais do judaísmo e do islamismo. Essa mesma idéia aparece nesta orientação do Talmude judaico, atribuído a Hillel: “O que te é odioso, não o faça para o teu próximo. Essa é a essência da Torá; o resto são comentários”. E neste trecho da Suna islâmica (uma coleção dos ensinamentos do Profeta): “Nenhum de vós é um crente até desejar para o vosso irmão aquilo que desejais para vós mesmos”.
O que todas essas mensagens nos revelam é que nós, a família da humanidade, temos muito em comum. Todos nós temos um Pai-Mãe, Deus, que inscreveu a verdade e o amor em nossas naturezas de uma forma tão indelével quanto nos versículos da Torá, do Alcorão e da Bíblia.
Quando “olhamos para cima”, para nosso Pai comum, a separação que há entre nós desaparece. Nós vislumbramos um “irmão” ou uma “irmã” na pessoa que está ao nosso lado na calçada, ou nos rostos que vemos no noticiário da televisão. E nos sentimos impelidos a agir, uns para com os outros com amor, misericórdia e justiça.
A partir dessa perspectiva, a paz no Oriente Médio não é somente possível, ela é inevitável. Mesmo em face de um terrível conflito, a paz pode se manifestar quando os corações cedem, um a um, à realidade de que temos uma única e sagrada origem.
