Skip to main content Skip to search Skip to header Skip to footer
Matéria de capa

Ajudando a reconstruir a nação amada

Da edição de agosto de 2003 dO Arauto da Ciência Cristã


Antes do golpe de 1978 no Afeganistão, a família de Nasrullah Rahmat exportava uva-passa para a Europa e outros mercados. Seus parentes eram descendentes de uma família conhecida por produzir líderes políticos e de negócios. No final de 1979, as forças armadas soviéticas invadiram o Afeganistão e centenas de milhares de seus conterrâneos, e especialmente empresários como a família Rahmat, fugiram da opressão comunista para se refugiar no Paquistão. A família estabeleceu diversas empresas no Paquistão, inclusive uma fábrica de produtos de couro que emprega centenas de refugiados. Ela também oferece cuidados de saúde e escola para os filhos dos trabalhadores. Os comentários de Nasrullah Rahmat revelam um irmão muçulmano que ora, que acredita fervorosamente que a espiritualidade e a educação são essenciais para o renascimento econômico do Afeganistão.

Alguém disse que é um milagre ver 400 afegãos trabalhando juntos em harmonia, num lugar só.

[Rindo] Sim. Os trabalhadores de nossa fábrica representam diversos grupos étnicos. Nós sempre acreditamos nisso. Acreditamos, antes de tudo, na humanidade. Acreditamos que toda a humanidade é igual. E no que diz respeito à fábrica, somos afortunados. Temos os grupos que chegam do Afeganistão ao Paquistão. Cuidamos para que isso aconteça, o que me dá muito prazer. Há uma enorme satisfação em saber que você conseguiu cuidar de todos não por pensar em termos estreitos ou pequenos, mas por pensar em termos mais amplos.

Tive de escapar quando os russos invadiram o Afeganistão, porque todos corríamos perigo de morte. Foi a pior época para o meu país. Então precisamos recomeçar como refugiados no Paquistão. Em 1979 iniciamos a nossa fábrica [em Karachi]. Primeiro produzimos cores para tecidos. Depois começamos a processar tâmaras. Em 1981 ganhamos o prêmio como maior exportador de tâmaras [do Paquistão].

Antes de 1978, nós éramos os maiores exportadores de uva-passa do Afeganistão. Há uns seis meses, recomeçamos nossa empresa de exportação de uva-passa no Afeganistão, exportando para os Estados Unidos, a Grã Bretanha e Alemanha. Uma das melhores coisas que podemos fazer pela economia de nossos país é revitalizar a agricultura do Afeganistão, para que nossos produtos sejam reintroduzidos no sistema econômica.

Começamos nossa fábrica de couro em 1983. O processo inteiro ocorre dentro da fábrica: desde a chegada do couro cru até a produção de casacos e outros acessórios. Já treinamos mais de cinco mil trabalhadores em nosso departamento de costura. Agora temos os melhores costureiros de Candar, no Afeganistão, trabalhando aqui conosco em Karachi. Alguns dos melhores artesãos afegãos estão fazendo casacos aqui.

A maior dificuldade que o Afeganistão enfrenta, honestamente falando, é a fragmentação causada por tantos anos de guerra. A sociedade afegã era bem integrada, mas depois de 23 anos de guerra o país se fragmentou em muitas regiões. E não se consegue promover maior integração devido aos chefes tribais que existem no país todo. Esses chefes estão interessados em dividir o povo [e assim, manter controle].

Na sociedade, as maiores vítimas dos 23 anos de guerra, do analfabetismo e da falta de educação, têm sido as mães e as crianças. Se a mãe não foi à escola, a criança tem um problema fundamental. Começamos a primeira clínica para refugiadas em Peshawar. Essa clínica ainda funciona e cuida de aproximadamente 250 a 300 pacientes por dia. Agora já estabelecemos quatro clínicas para cuidar de mães e filhos no Afeganistão. E estamos planejando mais clínicas no interior desse país, onde há o maior número de necessitadas.

Você tem uma vida muito feliz se a passa fazendo alguma coisa para servir a sociedade.

Toda minha família estudou na Índia. Para nossa felicidade, fomos todos educados, inclusive minha irmã. Este foi o único objetivo de meu pai ao deixar o Afeganistão: educar os filhos. Creio que ele tinha a visão correta. Em Karachi, onde vivo, minha família administrou cinco escolas. Uma escola tinha 900 estudantes, a outra 400. Em Karachi formamos mais ou menos 4.000 estudantes. Nossas escolas aceitavam tanto meninas quanto meninos. Agora que um milhão de refugiados estão voltando para o Afeganistão, sobraram poucas crianças e só temos uma escola.

Minha família e eu acreditamos que um esforço mínimo, se for sincero, pode fazer milagres. Você pode produzir uma enorme mudança!

Nunca sei o que o futuro trará. Mas uma coisa eu sei: você tem uma vida muito feliz se a passa fazendo alguma coisa para servir a sociedade. Se você realmente ajuda as pessoas, do jeito que você puder, terá uma vida feliz. E muita satisfação.

Sua motivação vem de seu íntimo, de sua religião, de seu estudo do Alcorão?

Sim, sim! O que eu acredito é muito simples, Warren. Acredito no Todo-poderoso e, depois, na humanidade. E acreditar na humanidade quer dizer que você só melhora se suas ações melhorarem. Você não progride com palavras, mas com ações. E é o que está dentro que faz você melhorar e não o que está por fora.

Eu creio que só o amor faz você progredir, porque o amor é a maior coisa que Deus criou. É a coisa mais importante em todo o universo e é a base de toda religião. As pessoas que interpretam mal a religião são pessoas que não sabem que o amor é a base da religião. Se a religião não estiver baseada no amor — se alguma coisa estiver baseada no ódio — é um conceito falso. A religião de uma pessoa deveria levá-la ao amor e ao amor por toda a humanidade.

Isso me faz lembrar do que disse o profeta judeu, Malaquias: “Não temos nós todos o mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus?”

Com certeza. Se você consultar o profeta Moisés, que a paz seja com ele, e o profeta Jesus, que a paz seja com ele, basicamente é tudo a mesma coisa. Toda religião é um submeter-se a Deus. Toda divisão é criada para promover o interesse próprio. Se você realmente crê e conhece a Deus, nunca poderá machucar ninguém! Nunca. Tenho ótimos amigos judeus e ótimos amigos cristãos. Acredito que todos temos a mesma origem.

Pelo que vejo, Hamid Kharzi, líder do governo provisório do Afeganistão, acredita nessas mesmas coisas.

Creio que sim. Acredito que ele sente o que eu sinto, porque o conheço há muitos anos. É da mesma região que eu. É um homem maravilhoso. Oramos para que ele tenha sucesso em seu novo cargo. Oramos para que todas as pessoas alcancem a liberdade e para ver que o mal, sob qualquer forma, não se imponha ali.

O Sr. vê a chegada do progresso como resultado do poder da lei, ao invés do poder da tribo, do chefe ou da personalidade?

Isso requer muito esforço. Primeiro, se você não recebeu uma formação educacional, esse é o primeiro inimigo. E o segundo inimigo é o homem em si, cujos maiores inimigos são a cobiça e o resto da bagagem que carrega, o ego e a inveja.

O Afeganistão tem uma chance muito boa de sair unido disso tudo, especialmente com a ajuda estrangeira que está recebendo. Vejo muita expectativa e tenho a esperança de que as coisas irão melhorar; à medida que o poder da lei se fortalecer, os chefes tribais se enfraquecerão. E é necessário que se enfraqueçam, pois não estão interessados no progresso do país. Só têm em vista seus próprios interesses.

O Afeganistão ainda tem muitos problemas que não podem ser solucionados em um dia ou em um ano. Isso leva tempo. Mas as pessoas já começam a ser tolerantes. A tolerância é a coisa mais importante para qualquer sociedade. Lentamente, estamos avançando rumo à liberdade de imprensa, permitindo que as pessoas critiquem o que está errado, permitindo que as pessoas não falem mais a linguagem das armas de fogo, que falem umas com as outras, que resolvam os problemas por meio de conversas.

A melhor coisa que está acontecendo no Afeganistão agora é o interesse de muitas pessoas pela educação. Há uns trinta ou quarenta anos, quando as pessoas queriam que seus filhos fossem educados, não se permitia que as crianças fossem à escola. O clero se opunha à educação acadêmica. Mas agora as pessoas nas cidades, nos vilarejos, todos querem receber educação. Essa é uma grande mudança. E o impacto será enorme nos anos vindouros.

Agora as escolas não têm espaço suficiente. Os alunos se sentam no chão. Não há mesas, mas todos vão à escola. Esse é um sinal muito positivo para qualquer país, quando os próprios cidadãos se entusiasmam e se esforçam para estudar.

O Sr. também acredita ser possível ao Afeganistão ter uma sociedade moderna sem abandonar seus valores espirituais?

Sim. É preciso o melhor de cada um desses dois elementos, porque a espiritualidade proporcionará paz e a sociedade moderna, progresso. Os dois são necessários. Você aprende a viver em paz com as pessoas à sua volta. Você se torna mais tolerante.

A parte espiritual permite que as pessoas sejam mais compreensivas com o que os demais pensam. A educação dá mais paz e uma compreensão melhor do mundo. O fundamental é o que disse Jesus Cristo — que a paz seja com ele: “Aja com eles como você espera que eles ajam com você”.

Para conhecer mais conteúdo como este, convidamos você a se inscrever para receber as notificações semanais do Arauto. Você receberá artigos, gravações em áudio e anúncios diretamente via WhatsApp ou e-mail.

Inscreva-se

Mais nesta edição / agosto de 2003

A missão dO Arauto da Ciência Cristã 

“...anunciar a atividade e disponibilidade universal da Verdade...”

                                                                                        Mary Baker Eddy

Conheça melhor o Arauto e sua missão.