Na última década assisti a várias discussões sobre a cura espiritual, algumas com audiências compostas de médicos e outras do público em geral. Mais e mais essas discussões se distanciam das perguntas sobre a legitimidade da cura espiritual para chegar ao “como” ela ocorre: Qual é a relação entre a mente e o corpo? Como é que um estado mental espiritual e transformado se traduz em efeitos fisiológicos? Obviamente, as respostas a essas perguntas determinarão a prática da cura espiritual de cada indivíduo.
Quando mantemos no pensamento que o espiritual é real, a ação do corpo muda.
Mary Baker Eddy fez esses mesmos tipos de perguntas depois que um discernimento espiritual profundo a curou de ferimentos internos causados por um acidente. Para ela, foi um momento de revelação. Descreveu esse inspirado vislumbre da natureza espiritual da criação como: “...um novo mundo de luz e Vida, um novo universo...” (Retrospecção e Introspecção, p. 27). Mas, não sabia como chegara àquele “novo mundo”, nem como fora curada.
O “como” da cura espiritual levou algum tempo para ela entender. Descobertas profundas aconteceram ao longo do caminho, mas a realidade tangível da criação espiritual sempre foi sua Estrela Polar. Era o ponto fixo pelo qual se norteava, uma realidade imutável para comparar e contrastar com o que ela estava aprendendo em relação aos efeitos da mente humana sobre o corpo.
Mary Baker Eddy aprendeu que a mente humana e o corpo não são entidades separadas, mas uma só, e que o pensamento (muitas vezes inconscientemente) governa e dirige toda ação do corpo. Mas, para ela, a cura tinha de ser mais do que a manipulação de pensamentos e sentimentos humanos a fim de mudar o corpo. Como os homens e as mulheres são seres espirituais, a cura duradoura tinha de se basear em um conhecimento mais profundo da espiritualidade e do relacionamento de cada um com Deus. Ela descobriu que o raciocínio humano é influenciado por uma perspectiva material e errônea da existência. Quando a Sra. Eddy foi curada, ela compreendeu o fato espiritual, a perfeição da criação de Deus, que era o oposto do erro material, e o resultado foi a cura. Mais tarde, em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, o livro que sistematizou sua descoberta, ela escreveu: “A verdade contrária relativa a qualquer doença é necessária para curá-la” (p. 233).
Essas verdades são de importância vital para definir minha prática da cura espiritual, para mantê-la positiva e específica. Encaro cada oportunidade de cura com o desejo de aprender mais sobre o que significa ser a imagem e semelhança espiritual de Deus, e não só para me ver livre de uma doença. É claro que a doença deve ser eliminada e a rejeição dela como ilegítima e isenta do divino é importante. Mas simplesmente enfatizar o que não somos, em nossos esforços para sermos curados, não nos dá, necessariamente, uma compreensão maior de quem somos.
Essa abordagem incompleta deixa um vazio no pensamento, que tende a permitir a permanência ou a volta dos problemas. Jesus descreveu isso na parábola do espírito imundo que foi lançado fora (ver Mateus 12:43–45). Não encontrando um lugar para ir, voltou. Como a “casa” estava vazia, tornou a habitar nela. Para mim, um esforço que simplesmente remove, rejeita ou lança fora um problema, sem colocar uma verdade contrária em seu lugar, é como a casa vazia. Está aberta para que o problema volte.
Mas não há nada a temer na mensagem dessa parábola. A compreensão do ser perfeito e espiritual lança fora, e mantém para fora, todas as percepções errôneas. Se estou com medo, devido a alguma função do corpo, sempre me ajuda lembrar que a percepção material sobre o corpo é uma falsidade. Há uma verdade espiritual que proporciona a boa circulação, a digestão, a assimilação, a eliminação, a ação do coração, dos pulmões, do cérebro, dos nervos e assim por diante. A meu ver, esse fato espiritual é expresso na definição de bem em Ciência e Saúde, que inclui a palavra oniação (p. 587). Com essa definição, é possível compreender que o bem é a única ação e é sempre-presente. A oração que se baseia nesse conceito levará a parte do corpo que está sofrendo à ação correta e ao funcionamento normal. A Mente divina impõe essa lei divina do bem. Ela autoriza e conduz o ritmo de nosso ser e faz com que tudo o que é bom na vida de um indivíduo seja recebido e assimilado de maneira natural e satisfatório. Os originais espirituais de nosso ser são criações de Deus. Estão sempre presentes e expressam a ação do Amor divino, sem falhar. São conhecidos agora mesmo por Deus, em toda sua perfeição.
Mas isso não quer dizer que as pessoas tenham órgãos espirituais. E também não quer dizer que há duas criações, a material e a espiritual, a falsificação e a verdade contrária. Só há uma, a espiritual. A verdade contrária relativa a qualquer problema está sempre presente e se impõe sobre as falsas crenças materiais. Quando mantemos no pensamento que o espiritual é real, a ação do corpo muda, porque o que acreditamos foi elevado a um nível mais alto. Isso tem o efeito de proteger e preservar tudo o que é humanamente útil no funcionamento do corpo e remover tudo o que está errado.
Encontrar a verdade espiritual e contrária ao problema não só dá à nossa prática da cura espiritual um aspecto positivo, como também um aspecto específico. E quanto mais específica a nossa prática, mais eficaz será o nosso trabalho de cura. Afirmações vagas e gerais sobre o amor de Deus dificilmente destruirão dúvidas, crenças e temores específicos.
Qualquer que seja a situação à nossa frente, o poder de cura que habilitou Jesus a fazer suas obras maravilhosas está conosco também. Sempre me sinto encorajado ao pensar na história de Jesus, quando foi ter com dois discípulos entristecidos a caminho de Emaús, três dias depois da crucificação de Jesus (ver Lucas 24:13–35). Estarrecidos pelo que haviam presenciado, o estado mental deles era tal que não o reconheceram. Mas Jesus ficou com eles e persistiu pacientemente, despertando e elevando o pensamento deles até que enxergaram a identidade indestrutível dele.
Em algum momento, todos se encontrarão nesse mesmo caminho espiritual, embora em formas diferentes. É importante lembrar que o mesmo Cristo amoroso e sanador que foi ter com os discípulos no caminho de Emaús está com todos. Essa mensagem-Cristo que vem de Deus, que é contrária à percepção material das coisas, pacientemente persiste em engajar e corrigir o pensamento até que cada indivíduo vê e sente, de forma tangível, que todas as condições necessárias ao bem-estar estão em segurança sob os cuidados de Deus.
