Quando o assunto se refere à honestidade na ética empresarial, freqüentemente nos vêm ao pensamento histórias como a da Enron nos Estados Unidos, a da Parmalat no Brasil, bem como infrações éticas cometidas em outras empresas. Mas, elas não são a exceção, não são a regra, diz Madelon Miles, co-fundadora e presidente da Milestones, Inc., uma empresa com sede na Califórnia, especializada em treinamento de executivos e gerentes seniores, no desenvolvimento de estratégias para a formação de líderes e de equipes de trabalho.
“Quando um executivo sai algemado de um tribunal, isso, por si só, representa uma justificativa para o mito de que o mundo corporativo se constitua em um ambiente sem ética, uma espécie de ninho de serpentes. Pode ser qualquer coisa, menos isso”, diz Madelon. “É um lugar onde as pessoas são testadas diariamente, como também onde a maioria dos executivos repudia a quebra de valores éticos”.
Freqüentemente, a desonestidade assume formas mais simples do que as reportagens nos noticiários sugerem. Madelon faz referência às ações que impedem as pessoas de conseguir empregos ou que as levam à sua imediata demissão, quando são apanhadas ao:
•falsificar currículos.
•usar, deliberadamente, o cartão de crédito da firma para compras pessoais não incluídas em relatório de despesas.
•praticar “furto interno” — furto praticado por funcionários de lojas.
•Não declarar a importância paga a mais em folha de pagamento.
Madelon afirma que mentir em currículos é agora tão comum que acabou se tornando um procedimento padrão, por parte das empresas, a verificação das informações sobre graduações, enquanto que “há cinco anos, esse procedimento seria a exceção, não a regra. As pessoas recorrem muito à mentira, porque acreditam que o ambiente de trabalho seja tão competitivo que, de outra maneira, não conseguiriam ser contratadas”.
Ela cita uma pessoa que desejava se candidatar a um emprego que envolvia a supervisão de várias lojas, uma grande responsabilidade. Para essa candidata “ainda faltavam seis meses para se formar, porém ela colocou em seu currículo que já havia se formado. Tudo o que ela teria de dizer seria: ‘Vou me formar em tal data’. Mas, por ter mentido, eles lhe disseram que ela era inelegível para o cargo”.
Tais resultados podem parecer cruéis, mas chamam a atenção para o minucioso escrutínio pelo qual os candidatos e empregados têm de passar. “As conseqüências no mundo dos negócios são muito reais quando essas coisas ocorrem, como a demissão imediata. Muitos formulários de pedido de emprego que tenho visto recentemente são claros e diretos: ‘Qualquer falsificação resultará em inelegibilidade ou demissão’.”
“Cada um de nós é criado à imagem e semelhança de Deus e viver como essa semelhança é obter um senso intuitivo do que se requer para tomar boas decisões”
Considerando-se essas tentações, o que é considerado útil nesses casos? Madelon diz, sem hesitação e, muito especificamente: “Trechos do primeiro discurso de Mary Baker Eddy proferido n’A Igreja Mãe, em 1895. Ela expõe o que chama de ‘três pontos cardeais’: ‘(1) Um conceito apropriado do pecado; (2) arrependimento; (3) a compreensão do que é o bem’ (Miscellaneous Writings 1883-1896, [Escritos Diversos], p.107).
O que Mary Baker Eddy enfatiza é o que tenho constatado, de forma consistente, em minha própria vida empresarial, ou seja, se você tentar abordar uma situação existente, sem começar do princípio, você não vai muito longe. Portanto, o primeiríssimo lugar para se começar é o estágio do autoconhecimento. Então, você se pergunta: ‘Como posso imaginar que, cometendo um ato desonesto, vou realmente progredir, quando, de fato, isso irá me prejudicar de forma significativa’?”
Madelon observa que muitos executivos, especialmente os mais jovens, talvez não tenham sido criados em lares em que os pais faziam distinções éticas consistentes entre o certo e o errado. O resultado é que eles não têm uma base sólida sobre a qual estabelecer a tomada de suas decisões. Mas, diz ela, se eles estiverem dispostos a considerar a vida a partir de uma perspectiva espiritual e bíblica, começarão a compreender que sua composição ética está fundamentada em algo muito mais significativo do que o ambiente do lar.
“Cada um de nós é criado à imagem e semelhança de Deus e viver como essa semelhança é obter um senso intuitivo do que se requer para tomar boas decisões”, explica ela. “De fato, esse senso, ou seja, a luz do Cristo que Jesus trouxe à humanidade, já reside em cada um de nós”. Madelon descreve essa luz como “um guia interior que levanta uma enorme bandeira vermelha quando estamos para cruzar uma linha que não é correta para nós.
Quando a Sra. Eddy fala sobre autoconhecimento, acho que ela está falando sobre o nível mais profundo de identidade, ou seja, nosso eu espiritual. No fundo, sabemos quando nossos atos são contra o que é espiritualmente correto para nós”.
Um barco não pode navegar por muito tempo sem um leme. Da mesma forma, não podemos ser bem-sucedidos em nossas carreiras, sem que tenhamos um conhecimento de Deus e de nossa relação com Ele.
Como exemplo, Madelon cita casos em que as pessoas usaram cartões de crédito para compras pessoais. “A primeira vez que isso acontece, a pessoa pode tentar se justificar, quando descoberta, dizendo: ‘Sabia que era errado, mas eu realmente precisava comprar isso’”. O problema é que não se trata de um erro inocente, como quando alguém, inadvertidamente, usa o cartão errado. O problema é quando a pessoa, ao não ser descoberta pela primeira vez, continua a usar o cartão de crédito da empresa para compras pessoais. Madelon diz: “No momento em que isso é descoberto, a maioria das empresas com as quais trabalhamos, considera o fato como um motivo para demissão imediata. Portanto, aquela despesa de R$80,00 no cartão de crédito da empresa, pode descarrilar uma carreira”.
Mesmo que uma pessoa tenha passado por uma experiência assim, o segundo estágio a que Mary Baker Eddy se refere como “arrependimento”, oferece a oportunidade de uma reviravolta. “Esse segundo estágio proporciona esperança a todos nós”, observa Madelon. “A seguir, o terceiro estágio é quando você realmente compreende o que é o bem. Ao passar pelos primeiros dois estágios, compreendemos que o bem não é algo que se encontra fora de nós, pelo qual temos de lutar para conseguir — o bem é quem e o que você realmente é. Esse bem está no âmago de seu ser porque você é espiritual”.
Ao longo da estrada rumo a um comportamento ético, Madelon nos aconselha a ter paciência e compaixão com nossos companheiros de viagem, inclusive com nós mesmos. “O autoconhecimento real é aquele que é espiritualmente verdadeiro, não o que se apresenta humanamente. A situação humana pode descrever alguém como moral ou eticamente fraco, mas somos a semelhança ou a representação de Deus”. Isso não justifica o mau comportamento, mas, em realidade, capacita a pessoa a se afastar do mal e a levar uma vida honesta.
“Se desejarmos orar pela conduta ética em organizações, podemos reconhecer que todos temos enraizado em nossa composição espiritual, nosso ‘DNA espiritual’, por assim dizer, o que é certo e o que é errado. A Mente infinita, Deus, está nos comunicando isso a cada momento e compete a nós ouvir essa voz e ceder a ela”.
Considerando-se a complexidade do mundo profissional nos dias de hoje, há algumas dicas que Madelon Miles daria a alguém que está se lançando em uma carreira dentro de uma empresa:
“Primeiramente, eu diria que é preciso saber como defender seu próprio pensamento. Não somente existe uma mentalidade de ‘mariavai-com-as-outras’ nas empresas, quando as pessoas podem, sem pensar, fazer o que os outros fazem mesmo que não seja muito correto, como também existem miríades de sugestões sutis que nos vêm diariamente ao pensamento e que não são impelidas por Deus. Precisamos discernir entre as mensagens espirituais provenientes de Deus, a Mente única, e aquelas que surgem do que a Sra. Eddy chamou de ‘mente mortal’, ou seja, mensagens que sugerem que lapsos morais não têm muita importância.
Em segundo lugar, é preciso ser muito claro a respeito dos próprios limites éticos antes de entrar em situações tentadoras. Considerando-se todas as áreas cinzentas no ambiente de trabalho, o que você, com certeza, faria ou não? Isso é o que chamaria de ‘preparação ética’.
Talvez você possa imaginar vários cenários e se perguntar o que faria em cada um deles. Por exemplo, você tem direito a um desconto para empregados na loja de sua empresa e sua amiga lhe pede para comprar um artigo porque você tem direito a um desconto e ela, não. Você faria isso? Por que sim ou por que não? Com que freqüência? Seria conveniente perguntar: ‘Como poderia ser tentado e o que faria?’ Talvez nós não conversemos muito sobre essa espécie de ensaio ético, preocupando-nos antecipadamente com situações que poderiam ser ambíguas, mas isso talvez possa ajudar a evitar infrações éticas, no futuro”.
Voltando à imagem do Cristo como um guia para o comportamento ético, Madelon conclui dizendo: “Um barco não pode navegar por muito tempo sem um leme — aquela peça de madeira ou metal montada na popa para dirigir ou influenciar seu curso. Semelhantemente, não podemos ser bem-sucedidos em nossas carreiras, sem que tenhamos um conhecimento de Deus e de nossa relação com Ele. Esse conhecimento direciona nosso curso, nos estabiliza em meio aos exigentes ventos éticos e nos traz a salvo para um porto de paz, por meio da honestidade”.
