Eu havia chegado à cidade de Kano, na Nigéria, para iniciar meu roteiro de palestras, que deveria começar em Kaduna. Meus companheiros de viagem estavam entusiasmados com nosso itinerário, pois faríamos o percurso atá Kaduna por uma nova rodovia, que tornava a viagem muito mais fácil. Por isso, freqüentemente, comentávamos sobre as condições da estrada. Perguntei-lhes: “Vocês oraram para ter uma nova estrada?”
“Sim”, responderam. “Com certeza”.
Não pude deixar de imaginar, em voz alta, se eles haviam feito a conexão entre suas orações para a melhoria do país e essa bela rodovia nova. Meu objetivo não era saber quem merecia o crédito por esse exemplo de progresso, mas sim enaltecer a evidência do bem, de um governo trabalhando para atender às necessidades de seu povo.
Enaltecer o bem?
Em países como a Zâmbia, onde morei por muitos anos, poderia parecer natural concentrar a atenção em tudo, menos nisso. Ali, um bom governo não apenas parecia ser um paradoxo, mas, muitas vezes, um sonho fora de alcance. O país tem enfrentado corrupção generalizada, pobreza, opressão — a lista não tem fim. O governo tem feito o melhor que pode para tentar controlar essas coisas, mas é uma tarefa monumental.
Sob tais circunstâncias, é fácil se sentir confundido por tudo o que está errado e pelas dificuldades de se tentar consertar as coisas. O cinismo, a desilusão, até mesmo uma tendência a desmerecer o progresso, se transformam em respostas típicas.
Contudo, várias vezes tenho constatado que a gratidão pelo que é bom e correto não é uma tentativa de desculpar os desafios que um país enfrenta, minimizando-os. Ao contrário, ela se constrói sobre algo fundamental, a saber, que Deus, que é Tudo, é completamente bom. Portanto, o que é natural não é o retrocesso, mas o progresso. Esperar encontrar algo de bom no governo torna-se, então, uma questão de ver a Deus, que é Princípio, em ação, ao invés de manter uma atitude ingênua ou um otimismo infundado.
É a disposição de reconhecer o bem que causa o estado mental de ser genuinamente grato.
A gratidão pode começar com algo simples como, por exemplo, a beleza no rosto das pessoas, uma igreja que se reúne para orar pelo país e alguns sinais visíveis de progresso. Mas, é a disposição de reconhecer o bem que causa o estado mental de ser genuinamente grato. Tal atitude implica sentir-se profundamente consciente do cuidado de Deus, uma convicção de que o bem, que é visível, é apenas um exemplo do amor de Deus. Além disso, o que faz a gratidão? Ela nos ajuda a desenvolver uma aptidão para vivenciar mais amor, a nos tornarmos tão convictos da ação de Deus, que sentimentos de futilidade e de desânimo finalmente desaparecem.
As soluções não são impossíveis, não importa quão enraizada a situação possa parecer.
Há muitos anos, antes de o apartheid (regime de segregação racial) ter desmoronado na África do Sul, meu marido e eu, ambos cidadãos americanos, costumávamos viajar toda semana de Lesotho a Bloemfontein, na África do Sul, para ir à igreja. Nunca sabíamos o que íamos encontrar na fronteira. Alguns domingos, a recepção era educada, até cordial. Mas, freqüentemente, éramos parados e questionados e, às vezes, nos era negada a entrada no país. Nesses casos, minha confiança em Deus e minha gratidão pelo que Ele já estava fazendo, impediam-me de ficar frustrada. Esse estado de espírito era o que eu descreveria como domínio interior, ou seja, como sendo governada por Deus e por nada mais. Em uma situação política complicada, quando parecia que não havia nada que eu pudesse fazer, descobri que podia encontrar a paz e manter a calma confiança de que Deus estava no controle, independentemente de como as coisas pareciam estar.
Certo domingo, parecia que novamente não nos seria permitido cruzar a fronteira. Contudo, comecei a orar para saber que Deus estava governando. De repente, senti que deveria perguntar ao guarda da fronteira: “O que o senhor quer que eu faça?” A atmosfera mudou instantaneamente. Foi como se os guardas soubessem que eu não via uma barreira entre nós e que podíamos trabalhar juntos. Depois disso, descobrimos uma solução que funcionava para eles e nos permitia cruzar a fronteira.
Exemplos como esse e outros que tenho visto ao longo dos anos me proporcionam a confiança de que as soluções não são impossíveis, não importa quão enraizada a situação possa parecer. Volver-nos a Deus, enaltecendo o que é positivo e progressivo, é uma forma poderosa de trazer o governo de Deus à luz. Além do mais, esse governo é sempre bom.
