Sou servidor público estadual há quase trinta anos. No início de minha carreira, participei como sindicalista de uma campanha por melhores salários. Lutávamos pela reestruturação de nosso plano de carreiras, o que dependia da aprovação de uma lei por parlamentares estaduais. Alguns colegas e eu nos encontrávamos nas dependências da Assembléia Legislativa de nosso estado, em busca de contatos diretos com Deputados, para pedir apoio às nossas reivindicações. Ao tentar entrar nas dependências do plenário, fui barrado por um segurança. Dirigi-lhe um olhar de surpresa e, ao mesmo tempo, de inconformismo, pois ao que sabia não era proibido o acesso de pessoas àquele local. Não precisei perguntar porquê. Ele antecipou-se, e desimpedindo nossa passagem, disse: “Vocês vão entrar aí? Querem vender a alma? Então tudo bem, entrem”!
Tomamos a advertência com certo humor e como um desabafo de quem certamente presenciara fatos reprováveis sob o aspecto moral e ético. Idealistas de carteirinha, meus companheiros e eu não nos deixamos intimidar, entramos no plenário e mantivemos contatos com vários parlamentares, certos de que defendíamos reivindicações justas. No final da tarde, saímos aliviados pelo dever cumprido, fazendo piadas por não termos vendido nossa alma.
Hoje, ao me lembrar daquele episódio, percebo ter levado comigo aquela mensagem como uma verdadeira advertência, pois realmente tive, ao longo do tempo, algumas chances de “vender minha alma”. Felizmente não o fiz, e hoje, já na reta de chegada de minha carreira funcional, vejo com alívio e satisfação o quanto as “vantagens” do passado poderiam ter representado um enorme peso na consciência, a ser carregado até o resto de meus dias.
Desde que me tornei Cientista Cristão, há seis anos, passei a perceber com maior nitidez que só o caminho da espiritualidade pode libertar o homem das armadilhas e laços materiais. Aquele que começa a trilhá-lo adquire uma nova consciência, uma nova percepção de seus problemas, sejam eles financeiros, afetivos ou profissionais.
Quando tomo conhecimento de escândalos de corrupção, envolvendo políticos e governantes pelo mundo afora, minha anterior perplexidade agora cede lugar a uma reflexão mais serena e verdadeira, sob o ponto de vista do sentido espiritual.
A corrupção é apenas mais um produto da mente mortal, um efeito do erro, ou seja, uma falsa crença em valores equivocados, no egoísmo, na ganância e na falta de respeito para com o próximo. Mas, tem o poder de escravizar os que sucumbem, como bem disse Pedro: “...eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor” (2 Pedro 2).
Esses pobres escravos do erro e da corrupção, cegos pela busca do prazer e do poder, vivem agora mesmo seu inferno interior, atormentados por toda sorte de temores – um deles o pesadelo de verem suas imagens de homens respeitáveis expostas à execração pública, escravizados que estão pelo próprio cenário ilusório em que vivem.
Só o caminho da espiritualidade pode libertar o homem das armadilhas e laços materiais. Aquele que começa a trilhá-lo adquire uma nova consciência, uma nova percepção de seus problemas
Mary Baker Eddy, no seu livro Ciência e Saúde, afirma: “A condescendência para com motivos e propósitos maus faz de qualquer homem, que esteja acima do tipo mais baixo da espécie humana, um sofredor desesperançado. A Ciência Cristã ordena ao homem que domine as propensões — que reprima com a bondade o ódio, que vença com a castidade a luxúria, com a caridade a vingança, e que com a honestidade derrote a falsidade” (p. 405).
Podemos, então, orar por esses filhos pródigos, declarando-os não excluídos do poder do Amor que, aqui ou no além, cumprirá a promessa: “...a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Romanos 8).
