Sou servidor público estadual há quase trinta anos. No início de minha carreira, participei como sindicalista de uma campanha por melhores salários. Lutávamos pela reestruturação de nosso plano de carreiras, o que dependia da aprovação de uma lei por parlamentares estaduais. Alguns colegas e eu nos encontrávamos nas dependências da Assembléia Legislativa de nosso estado, em busca de contatos diretos com Deputados, para pedir apoio às nossas reivindicações. Ao tentar entrar nas dependências do plenário, fui barrado por um segurança. Dirigi-lhe um olhar de surpresa e, ao mesmo tempo, de inconformismo, pois ao que sabia não era proibido o acesso de pessoas àquele local. Não precisei perguntar porquê. Ele antecipou-se, e desimpedindo nossa passagem, disse: “Vocês vão entrar aí? Querem vender a alma? Então tudo bem, entrem”!
Tomamos a advertência com certo humor e como um desabafo de quem certamente presenciara fatos reprováveis sob o aspecto moral e ético. Idealistas de carteirinha, meus companheiros e eu não nos deixamos intimidar, entramos no plenário e mantivemos contatos com vários parlamentares, certos de que defendíamos reivindicações justas. No final da tarde, saímos aliviados pelo dever cumprido, fazendo piadas por não termos vendido nossa alma.
Hoje, ao me lembrar daquele episódio, percebo ter levado comigo aquela mensagem como uma verdadeira advertência, pois realmente tive, ao longo do tempo, algumas chances de “vender minha alma”. Felizmente não o fiz, e hoje, já na reta de chegada de minha carreira funcional, vejo com alívio e satisfação o quanto as “vantagens” do passado poderiam ter representado um enorme peso na consciência, a ser carregado até o resto de meus dias.
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