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O Arauto começa, a partir desta edição, uma série de nove artigos sobre as bem-aventuranças. Neste mês, vamos examinar as bênçãos bíblicas, de forma abrangente. Os próximos artigos irão analisar cada uma das bem-aventuranças e sua relevância para o mundo do século XXI.

As bem-aventuranças

Não se preocupe, seja feliz!

Da edição de julho de 2005 dO Arauto da Ciência Cristã


Peça a qualquer leitor da Bíblia para repetir os dez mandamentos e, muito provavelmente, ele se lembrará da maioria deles ou de todos, de cor. Por outro lado, as regras espirituais para a verdadeira felicidade, também conhecidas como as bem-aventuranças, muitas vezes são pouco conhecidas. Contudo, esses mesmo princípios constam da abertura do sermão mais lembrado de Jesus, o Sermão do Monte. Além disso, a Fundadora desta revista, Mary Baker Eddy, valorizava de tal maneira o significado desses princípios, que os incluiu no currículo fundamental para os alunos da Escola Dominical (Ver Manual d' A Igreja Mãe, pp. 62-63).

As declarações radicais feitas por Jesus, quase que exigem, como acompanhamento, um alerta em contrapartida, dizendo: “Cuidado! Se seguidas como prescritas, elas podem virar o mundo de cabeça para baixo”. Quase tudo que Jesus falou ou fez, parecia contradizer os pontos de vista culturais aceitos em sua época, resultando, mais freqüentemente do que se imagina, em convulsões sociais e religiosas.

Seus comentários sobre o que constitui a verdadeira felicidade e a satisfação na vida não são nenhuma exceção. No Evangelho de Lucas, no Novo Testamento, Jesus define o pobre, o que chora, o faminto e o desprezado, como “feliz” (ver Lucas 6). O Evangelho de Mateus faz adaptações e acréscimos a essa lista e o resultado é uma série de nove declarações curtas, cada uma começando com a promessa de felicidade (ver Mateus 5).

Comumente conhecidas hoje como as bem-aventuranças, esses preceitos não apenas redefinem a felicidade, mas mostram que cada pessoa tem a capacidade natural de vivenciá-la. Natural porque, conforme os preceitos sugerem, a verdadeira felicidade provém de Deus; entretanto, as bem-aventuranças não nos dão muitas informações sobre o que a humanidade precisa fazer para se tornar superficialmente feliz, mas sim, o que Deus faz para estabelecer o fundamento da felicidade espiritual, a felicidade que perdura.

Em primeiro lugar, é importante mencionar que, embora alguns leitores da Bíblia possam não associar o tema felicidade com as bem-aventuranças, essa interpretação gira em torno da tradução de uma palavra do Novo Testamento. A palavra grega Makarios é traduzida de forma diferente em vàrios versículos e versões da Bíblia. Aparece como “abençoado” e “bem-aventurado”. Entretanto, também é traduzida como “feliz” em outras partes do Novo Testamento. Em várias versões, porém, a palavra Makarios é traduzida como “feliz”, mesmo nas bem-aventuranças. Mas, ao invés de uma felicidade temporal, instável, que depende de fastores externos, makarios implica uma felicidade espiritual, que resulta do relacionamento entre benfeitor e beneficiário, a saber, Deus e Sua criação (ver The Sermon on the Mount [O Sermão do Monte], de Carl Vaught, Albany, New York, State University of New York Press, 1986, p. 14).

Se as bem-aventuranças tivessem a intenção de dizer à humanidade o que é preciso fazer para ser feliz, então elas provavelmente incluiriam alguma instrução ao longo de suas linhas. Mas esse não é o caso. Não existe nenhuma menção da necessidade de se trabalhar ou implorar por tal dádiva. As bem-aventuranças consideram que a felicidade seja simplesmente o efeito inevitável do nosso relacionamento com um Deus que alimenta o faminto, consola o que chora, cuida do perseguido e supre necessitado, conforme consta das próprias bem-aventuranças.

As bem-aventuranças consideram que a felicidade seja simplesmente o efeito inevitável do nosso relacionamento com Deus

As bem-aventuranças começam com uma afirmação, a saber, a felicidade inerente a todo aquele que se volve a Deus por ajuda. Essas pessoas são chamadas de “humildes de espírito”. É interessante notar que a palavra grega traduzida como humilde”, na primeira bem-aventurança, é também a palavra para “mendigo”. Aqui, Jesus está claramente abençoando aqueles que mendigam, não por felicidade humana, mas por algo muito mais elevado, ou seja, pelo Espírito, ou Deus. The New English Bible (A Nova Bíblia Inglesa) capta a essência da primeira bem-aventurança: “Quão abençoados são aqueles que sabem como necessitam de Deus; deles é o Reino dos Céus” (ver Mateus 5).

Uma salutar esperança em Deus é também expressada nas três bem-aventuranças seguintes, em que os que choram são receptivos ao consolo de Deus, o manso reconhece a Deus como a fonte da verdadeira bondade e os que almejam justiça anseiam ter um relacionamento verdadeiro com Deus. A ênfase dessas quatro primeiras bem-aventuranças de se volver a Deus, remete ao Primeiro Mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim” (ver Êxodo 20). Contudo, as bem-aventuranças oferecem uma abordagem diferente daquela dos mandamentos. Ao invés de proibir atos errados, as bem-aventuranças proclamam ações corretas. Ao invés de ordenar à humanidade que diga não a outros deuses, as bem-aventuranças começam por proclamar a alegria dos que dizem sim ao único Deus, todo abrangente.

As bem-aventuranças são virtualmente livres de mandamentos. Somente no versículo final é que aparecem algumas formas de verbos no imperativo. Mas, mesmo esses verbos soam mais como promessas do que como mandamentos. É dito aos perseguidos: “Regozijai-vos e exultai” (ver Mateus 5). Muito semelhante aos salmistas hebreus que manifestavam louvor em meio à dor e esperança em meio ao sofrimento, as bem-aventuranças declaram que podemos nos regozijar mesmo em face à perseguição. Por quê? Porque Deus nos sustentará em tempos difíceis que trazem o necessário crescimento e, em última análise, a libertação dessa perseguição.

Mas, tudo isso não quer dizer que as bem-aventuranças recomendam que as pessoas apenas fiquem sentadas sorrindo. Exige-se que elas façam algo. De fato, enquanto cada uma das primeiras quatro bem-aventuranças terminam abençoando aqueles que anseiam por justiça, da quinta à nona bem-aventurança, há uma promessa de bênçãos aos que expressarem retidão em suas ações, ou seja, àqueles que demonstrarem misericórdia, àqueles que forem sinceros em sua devoção a Deus, àqueles que promoverem a paz e àqueles que agirem tão corretamente que provocarão perseguições. Dessa maneira, essas últimas bem-aventuranças nos induzem, não somente a desejar a retidão, mas a expressá-la.

O provedor das bem-aventuranças personificou, ele mesmo, a retidão da qual falava. Ao invés de meramente oferecer essas afirmações como teorias abstratas, Jesus colocou seus ensinamentos em prática, trazendo sustento ao faminto e consolo aos que choravam. Por meio de suas ações, aqueles que rogavam a Deus vivenciaram o toque transformador dEle. Jesus fez dos excluídos de sua época a prioridade de seu ministério, indo ao encontro dos leprosos intocáveis e comendo com pessoas consideradas pecadoras, tais como prostitutas e coletores de impostos. Antes de expor publicamente uma única bem-aventurança, ele já havia curado multidões.

Portanto, qual é a base para viver essas bem-aventuranças? Talvez possamos considerá-las não tanto como uma lista de princípios morais a ser seguida, mas como uma espécie de mapa espiritual. A promessa do reino de Deus como já presente, que aparece na primeira bem-aventurança, dá o tom para as promessas no tempo futuro e que se seguem, isto é, porque Deus reina, o faminto será alimentado e o que chora se alegrará. Isso permite que consideremos essas afirmações como uma espécie de constituição para um governo divino (“Bible and Ethics: An Ecclesial and Liturgical Interpretation”, The Journal of Religious Ethics, spring 1990, p. 140). Essa constituição começa com uma declaração de dependência de Deus, uma dependência que nos desperta para a aurora do reino de Deus em nossa vida. Ela dá ensejo à nossa ação ética e restaura nosso relacionamento com Deus e com a humanidade. Além disso, é a base da retidão.

O ponto mais radical sobre as bem-aventuranças, talvez não seja a inversão das noções geralmente mantidas sobre a felicidade, ou seja, a idéia de que a felicidade pertença não ao poderoso, ao orgulhoso e ao popular, mas sim ao misericordioso, ao que chora e ao manso ou humilde. Ao contrário, é a idéia de que a fonte dessa felicidade, o reino de Deus, já está aqui. Talvez a promessa, que tanto inicia como termina a lista de afirmações, seja a declaração mais radical de todas: “...porque vosso é o reino de Deus” (ver Lucas 6). Nada consegue ser mais revolucionário do que isso.

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