Um verdadeiro educador tem muito a ensinar. Não apenas a alunos em uma sala de aula, mas também àqueles que há muito tempo penduraram suas mochilas escolares. Se formos observadores e sábios, também podemos aprender lições de diferentes maneiras.
Um professor escolar, na maioria das vezes, dispensa apresentação, mas para mim, uma simples história diz tudo. Um membro de minha família é uma professora a quem ex-alunos voltam para agradecer, vinte e cinco anos mais tarde, pelo impacto que ela teve em sua vida. Recentemente, um aluno havia se comportado mal em sua classe, mas não parecia se importar. Essa professora lhe disse que sabia que ele era brilhante, mas que, naquele momento, ele não estava lhe dando provas disso. O garoto mudou sua atitude e mostrou a ela o que já possuía o tempo todo. A educadora não o castigou, mas reconheceu as capacidades do menino e teve a expectativa de que ele se mostraria à altura delas. Ele não a decepcionou.
Esse membro da família é uma estudante de Christian Science e, como tal, ela compreende que a substância espiritual inata de toda criança é oriunda diretamente de uma fonte infinita, Deus. As qualidades de pensamento que constituem nossa substância, algumas vezes parecem ofuscadas por uma personalidade indisciplinada, por grandes desafios ou pela falta de disposição de utilizarmos os talentos. Conseqüentemente, a imagem distorcida do homem produzida pelo magnetismo animal ou por uma suposta atividade do mal, opera como um espelho que distorce imagens. Enquanto o original permanece perfeito, o reflexo no espelho aparece deformado. Para corrigir a distorção, é preciso olhar para além do espelho ou de seu filtro, para o homem original. Tanto o professor perceptivo quanto o Cientista Cristão reconhecem que as qualidades incorruptíveis são inerentes a todo filho de Deus, não importando sua idade e, por conseguinte, procuram extrai-las do aluno.
Elevando o padrão
Cristo Jesus, o Mestre supremo, ilustrou isso por meio de várias obras. Ele não baixava o padrão para que outros o alcançassem facilmente. Ao contrário, ele elevava a percepção dos que estavam ao seu redor para que reconhecessem melhor sua capacidade, à medida que compreendiam sua verdadeira identidade à imagem de Deus. Às vezes, a transformação no indivíduo se revelava como uma fé maior, uma expectativa do bem, um reconhecimento do poder de Deus ou revelação de sua própria identidade imaculada. Em todos os casos, Jesus elevava homens e mulheres para que vissem mais claramente sua inseparabilidade de Deus e entendessem que, como disse o Apóstolo Paulo aos Coríntios: “... a nossa suficiência vem de Deus...” (2 Cor. 3:5).
O excelente exemplo de minha parente ilustra dois pontos importantes: Primeiro, o que consideramos verdadeiro para os outros ou para nós mesmos é o que vamos expressar. Portanto, se quisermos reivindicar inteligência, como fez a professora, ou paciência, bom humor e graça, temos de reconhecê-los como parte de nossa consciência. O segundo ponto é que, se alguém não gosta dos traços de caráter de uma outra pessoa, é o próprio conceito desse alguém sobre o homem que precisa ser elevado e purificado, ao invés da outra pessoa. Esse conceito elevado, nutrido com perseverança, aparecerá tanto na própria pessoa como nos outros .
As qualidades de pensamento que constituem nossa substância, algumas vezes parecem ofuscadas por uma personalidade indisciplinada, por grandes desafios ou pela falta de disposição de utilizarmos os talentos.
As vezes, somos tentados a acreditar que temos de mudar o outro e livrá-lo da obscuridade. Mas, se ao invés disso realçarmos o que é correto, o que é bom em nossa própria consciência, a bondade se manifestará na da outra pessoa também.
O exemplo de Jacó
Esses pontos me lembraram da época em que eu, quando jovem, estudei a história bíblica dos irmãos gêmeos, Jacó e Esaú, dois homens em desacordo um com o outro porque Jacó havia usurpado o direito de primogenitura e a bênção paterna de seu irmão mais velho (ver Gênesis capítulos 27 a 32). Com raiva, Esaú ameaçou matar a Jacó; por isso, o irmão mais moço abandonou a pátria de seu pai. Anos mais tarde, quando teve de retornar, temeu pela segurança de toda sua família.
Apesar de sua antiga trapaça, Jacó amava a Deus e buscou Sua orientação. Lutou contra falsos conceitos sobre ele mesmo e seu irmão. De fato, se agarrou a um ponto de vista mais espiritual sobre ambos, até que sentiu em seu coração que era verdadeiro. Uma vez que essa perspectiva mais elevada se tornou seu modelo, afetou diretamente o relacionamento com seu irmão. Na manhã seguinte, ao voltar à terra de seu pai, Jacó foi recebido por Esaú com um abraço!
Essa história me proporcionou um modus operandi para lidar com relacionamentos difíceis e com percepções negativas que eu tenha dos outros. Embora seja tentador culpar uma pessoa ou tachá-la de intolerável, o exemplo de Jacó ilustra os dois elementos essenciais mencionados anteriormente. Ele não tentou mudar Esaú. Ao contrário, ele elevou seu próprio conceito relativo à natureza do homem (a dele em particular) e deixou que esse novo modelo moldasse suas relações com Esaú. Jacó foi forçado a confrontar sua própria desonestidade, por meio da descoberta de sua verdadeira natureza espiritual, o que é válido para todos nós. Portanto, embora parecesse que os gêmeos estivessem prestes a lutar, a verdadeira batalha de Jacó foi com ele mesmo.
Quando nos lembramos de que nosso conceito sobre o homem determina nossa própria experiência, talvez estejamos dispostos a abandonar uma percepção falsa e adotar uma perspectiva espiritual.
De tempos em tempos, muitos de nós lutamos contra uma visão desmoralizada sobre nós mesmos ou outros. Contudo, quando nos lembramos de que nosso conceito sobre o homem determina nossa própria experiência, talvez estejamos dispostos a abandonar uma percepção falsa e adotar uma perspectiva espiritual, que harmoniza a situação. É assim que se realiza a cura de todo tipo de mal, de doenças, ossos quebrados, dificuldades financeiras e problemas de relacionamento.
No final, a perspectiva elevada de Jacó com relação ao homem prevaleceu. Portanto, foi normal para Esaú se adequar a essa nova visão. Jacó não teve de mudar Esaú. O novo modelo que ele formou no pensamento moldou uma nova experiência. A Sra. Eddy explicou esse princípio assim: "O escultor volve-se do mármore para seu modelo, a fim de aperfeiçoar sua concepção. Todos nós somos escultores, que trabalhamos em formas variadas, modelando e cinzelando o pensamento. Qual é o modelo que está diante da mente mortal? Será a imperfeição, a alegria, a tristeza, o pecado, o sofrimento? Aceitaste o modelo mortal? Acaso o estás reproduzindo? Então és perseguido em teu trabalho por escultores viciosos e formas hediondas. Não ouves todo o mundo falar do modelo imperfeito? O mundo põe-no continuamente diante de teus olhos. O resultado é que ficas propenso a seguir esses padrões inferiores, a limitar a obra de tua vida e a adotar na tua experiência o contorno anguloso e a deformidade dos modelos da matéria. Para remediar isso, temos primeiro de olhar para a direção certa, e então seguir esse caminho. Precisamos formar modelos perfeitos no pensamento e contemplá-los continuamente, senão nunca os esculpiremos em vidas sublimes e nobres” (Ciência e Saúde, p. 248). O fato de Jacó ter abandonado sua desonestidade em favor de um modelo mais puro, restaurou o relacionamento harmonioso com seu irmão.
Em sintonia com a idéia verdadeira
Essas lições ainda são relevantes atualmente e não somente nas relações familiares, mas também em uma escala mais abrangente. Não se trata apenas de mascarar falhas de caráter, mas de romper a nuvem de escuridão com a luz que emana diretamente de Deus. Para fazer isso, precisamos olhar além dos limites dos sentidos materiais para perceber a natureza divina de todos. Em outras palavras, devemos considerar qual modelo mantemos no pensamento, porque será o que esculpiremos em nossa vida.
A luz que rompe as trevas do sentido material é o Cristo — a verdadeira idéia de Deus — despontando na consciência, da mesma forma como ocorreu com Jacó. Jesus moldou sua vida de acordo com o modelo perfeito e assim fundamentou a cura. Podemos fazer o mesmo, na medida em que mantivermos o pensamento em sintonia com a idéia verdadeira, o Cristo. Para isso, precisamos olhar profundamente para a natureza espiritual das pessoas, ao invés de aceitar seus defeitos. Ao seguir o exemplo de Jesus, devemos estar atentos à recomendação de Paulo: “...não atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2 Cor. 4:18). Então, o filho criado por Deus, inteligente, saudável, imaculado, completo, será revelado.
Prova prática
Há alguns anos, dei aulas sobre a Bíblia para uma classe em um acampamento de segurança máxima para reabilitação de jovens rapazes. Poucas pessoas da administração do local acreditavam que esses adolescentes, entre dezesseis e dezoito anos de idade, pudessem um dia corrigir seu modo de vida.
Certo dia, os rapazes e eu ficamos a sós em uma sala de reuniões. Fiquei junto ao canto da mesa, perto do quadro negro. Todos os rapazes se sentaram próximos a um dos lados da mesa, exceto um, que se sentou do outro lado. Estávamos absorvidos em uma conversa muito animada quando o rapaz, que havia se sentado sozinho, começou a chamar a atenção para ele. No início, pensei que fosse um incidente, mas, à medida que a aula prosseguia, a situação se tornava mais agressiva, até que não pude mais ignorá-la. Gentilmente, sem nenhum comentário, liberei-o para que voltasse ao dormitório.
A caminho de casa, orei profunda e sinceramente para perceber a pureza daquele rapaz, apesar do ocorrido. Fui tentada a deixar que essa experiência obscurecesse minha visão sobre ele, mas eu sabia que o erro “havia se exposto a si mesmo” para ser curado. Examinei meu pensamento para ver se eu estava julgando o jovem por aquela experiência ou vendo a idéia-Cristo nele. Reconheci que esse rapaz havia assistido às aulas voluntariamente durante meses e que a verdade que discutíamos permanecia com ele. Ele fazia perguntas inteligentes, portanto, eu sabia que sua compreensão estava progredindo. Mais importante ainda, reconheci que, como ele era nascido do Espírito, não da matéria, nenhuma história mortal poderia interferir na expressão de sua verdadeira natureza. Além disso, esperava que o poder do Cristo em minha consciência beneficiasse a todos sobre os quais repousassem meus pensamentos, inclusive o rapaz.
Durante várias semanas, esse jovem não retornou à aula, portanto, orei para expressar mais o Cristo. Continuei a avaliar se algo no meu conceito sobre o homem, particularmente sobre esse rapaz, necessitava ser elevado. Percebi que uma indignação autojustificada, a raiva e o fato de me sentir ofendida anuviavam a questão; portanto, esforcei-me para não dar nenhum espaço a essas emoções em meu pensamento. Procurei substituí-las pelo reconhecimento de que todos têm a capacidade de ter: “...o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus...” (Filip. 2:5), como nos encorajou o Apóstolo Paulo. Também reconheci que a Mente do Cristo, que é Deus, precisa se expressar, não importando o que os sentidos materiais apresentem em contrário. Em outras palavras, mantive uma postura mental para ver o Cristo expresso, tanto naquele jovem como em mim, como filhos de Deus.
Nossa vigilância incessante para trazer todo pensamento em linha com o modelo do Cristo traz grandes benefícios para nós e para toda a humanidade.
Uma vida transformada
Na quarta-feira que antecedeu ao Dia de Ação de Graças, primeiro parecia que não haveria aula devido às atividades do feriado no acampamento. Então, quando comecei a juntar minhas coisas, aquele rapaz apareceu por ali. Como a sala de reuniões havia sido reservada para um grupo maior de pessoas naquele dia, fomos para uma sala fechada, a sós. Não havia nenhum segurança e seria difícil conseguir ajuda, caso eu necessitasse. Portanto, decidi me volver a Deus e ao Seu Cristo, tal como o fez Jacó.
Ficou logo evidente que ocorrera uma enorme mudança. Não mais amargurado, intratável, nem arrogante, o rapaz estava alegre, humilde e pronto para pedir perdão. Falamos pouco sobre o ocorrido, mas não havia necessidade. Ao contrário, descobrimos as qualidades divinas às quais ele aspirava, procuramos saber como o Cristo opera em nossa vida e examinamos nosso pensamento para elevar mais o conceito sobre quem cada um de nós é.
Após assistir a várias outras aulas de Bíblia, esse rapaz recebeu um cargo de responsabilidade no acampamento. Ele nunca fora bem sucedido nas tarefas que lhe eram designadas, devido à sua agressividade. Agora, fazia um excelente trabalho, com grande entusiasmo, o que lhe permitiu obter sua liberdade. Muitos no acampamento perceberam a transformação. Poucos, inclusive os psicólogos, conseguiam explicá-la. No dia anterior àquele em que seria solto, esse jovem pediu para me ver uma última vez. Seus olhos expressavam a gratidão que tinha em seu coração. Sua vida jamais seria a mesma.
As verdades espirituais são importantes, não apenas com relação à maneira como nos relacionamos individualmente com pessoas, mas com o mundo todo. Algumas vezes, a visão de homens e mulheres na televisão — a de um lobista, ou de um executivo que age de acordo com suas regras antiéticas, terroristas que seqüestram cidadãos inocentes, ditadores, pais despreparados, comerciantes de escravos — tende a nos impressionar. O exemplo que dei talvez responda à questão sobre o impacto que podemos ter nesses acontecimentos. Paulo exortou os Coríntios a: “...destruir fortalezas; anulando nós, sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo...” (2 Cor. 10:5). Nossa vigilância incessante para trazer todo pensamento em linha com o modelo do Cristo traz grandes benefícios para nós e para toda a humanidade.
