O céu não é o limite. Essa foi a primeira coisa que pensei, quando atendi a um telefonema, à meianoite, de uma jovem amiga, que estava muito aflita.
Jenny estava ligando, em uma situação de emergência, da costa leste dos Estados Unidos. Explicoume que ela e seu irmão estavam ajudando os pais a fazerem alguns reparos no chalé da família, em uma área campestre em Berkshire. Naquela tarde, haviam retirado o beiral do telhado sob um céu ensolarado, mas à noite, o tempo mudara e, por causa da chuva forte que caía, jorrava bastante água entre as paredes internas e externas do chalé. A situação era muito grave, a conexão telefônica estava péssima, as luzes piscavam. Parecia iminente o desmoronamento da parede e a destruição de boa parte do assoalho. Jenny disse que aconteceria um desastre, e que àquela altura, a tensão e a discórdia reinavam na família. Disse-lhe que oraria imediatamente para a situação.
Após desligarmos, me lembrei daquele pensamento: “O céu não é o limite”. Percebi que quando dizemos que o céu é o limite, queremos dizer que nossos padrões já são muito altos. O céu talvez possa estar muito alto, pensei, contudo, ele ainda é um limite. Um limite de que? Daquilo que é possível. Continuei orando para ter as idéias espirituais de que precisava e logo me lembrei de uma maravilhosa promessa da Bíblia: “Quando o inimigo vier como corrente impetuosa, o Espírito do Senhor erguerá um estandarte contra ele” (Isaías 59:19) [conforme a versão King James].
Ao refletir sobre essa afirmação de Isaías, de que um estandarte seria levantado, imaginei um guardachuva, nesse caso, um brilhante céu azul, bem em cima daquele chalé assolado pela chuva. Quando aquela imagem me veio ao pensamento, apeguei-me a ela como uma metáfora viva do amor e da proteção de Deus.
Jenny não telefonou mais naquela noite, mas, ao ligar no final do dia seguinte, relatou algo maravilhoso: a chuva parou vinte minutos depois da nossa conversa telefônica e, na manhã seguinte, surgiram inesperadamente dois jovens que se ofereceram para ajudar no que fosse necessário. Eles trabalharam, juntamente com a família dela, o dia todo. Então, a mãe de Jenny veio ao telefone para me contar sobre o que ela chamou de “o outro milagre”. Disse que, naquela manhã, ao conversar com um vizinho que morava ali por perto, comentou sobre o que havia sido, para sua família, uma parada oportuna da tempestade. Seu vizinho respondeu: “Que incrível! Choveu a noite toda onde moramos”.
Esse incidente me mostrou que jamais devemos ficar desesperados por ter cometido um erro desastroso ou por ser tarde demais para corrigir a situação. A Bíblia nos oferece apoio e a promessa da eterna presença e do poder de Deus: “Acaso, sou Deus apenas de perto, diz o Senhor, e não também de longe? ...porventura, não encho eu os céus e a terra”? (Jeremias 23:23, 24).
Contudo, para muitas pessoas, Deus está longe e é com o Deus de perto que eles querem ter contato. Mas, se a Bíblia diz que Deus enche os céus e a terra, então todas as coisas são possíveis para Ele. A Christian Science ainda revela Deus como o nosso Pai-Mãe, o infinito bem, em quem podemos confiar e amar.
Todavia, o conceito de infinidade não é assim tão fácil de ser assimilado. O Dicionário Webster (Webster's Collegiate Dictionary, 1975) define infinito como: “não sujeito a nenhuma limitação ou determinação externa... não tendo nenhum limite em poder, capacidade, conhecimento ou excelência; ilimitado, eterno, inesgotável; não finito”. Gosto especialmente da parte que diz que o infinito é inesgotável. O infinito não pode se gastar ou sofrer desgaste, ao contrário, infinito significa continuidade, capacidade e conhecimento ilimitados.
A Bíblia menciona: “Disse Deus: Haja luz ... Haja firmamento ... Ajuntem-se as águas debaixo dos céus ... Apareça a porção seca ... Produza a terra relva ... Haja luzeiros no firmamento dos céus ... Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...” (Gênesis, capítulo 1). Nessa revelação espiritual não existe a mínima referência a esforço físico. Além disso, à medida que entendemos que somos seres espirituais e que Deus nos criou sem esforço ou sobrecarga, somos libertados da constante pressão de fazer algo, de estar em outro lugar, de possuir algo mais, de fazer alguma coisa melhor. Quando compreendermos a Deus como a Mente ilimitada e entendermos que somos feitos à Sua exata imagem, começamos a nos sentir menos limitados. De acordo com isso, a Sra. Eddy escreveu: “...o reconhecimento da perfeição do Invisível infinito confere um poder que não pode ser obtido de nenhuma outra forma” (Unity of Good [A Unidade do Bem], p. 7).
Passei por uma experiência que mostra a verdade dessa afirmação. Ainda moro na casa para onde minha família se mudou há muitos anos. Embora, virtualmente, sem nenhum projeto paisagístico, a propriedade foi abençoada com belos carvalhos, um dos quais estava crescendo ao longo da entrada de nossa casa. Semeamos plantas rasteiras, pois conforme nos aconselharam, brotariam ou sobreviveriam debaixo daquele carvalho. Entretanto, fiquei perplexa ao descobrir, alguns anos mais tarde, que uma extensa área havia sucumbido a um fungo proveniente do carvalho. Enquanto olhava para aquele parasita de aparência desagradável, pensei: “Chame isso bom”! Chamá-lo bom? De onde veio esse pensamento? Levei algum tempo para compreender que aquelas palavras refletiam esta frase de Ciência e Saúde: “Tudo é Mente infinita e sua manifestação infinita...” (p. 468).
“... à medida que entendemos que somos seres espirituais e que Deus nos criou sem esforço ou sobrecarga, somos libertados da constante pressão de fazer algo, de estar em outro lugar, de possuir algo mais, de fazer alguma coisa melhor.”
Parada ali no jardim, naquela manhã, passei bastante tempo ponderando sobre aquela afirmação de Ciência e Saúde e entendi que, entre outras coisas, é uma profunda confirmação do resumo bíblico da criação: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom...” (Gênesis 1:31).
Após concluir minha reflexão, olhei novamente para os fungos, reconhecendo que ali mesmo onde esses parasitas se apresentavam, na realidade, somente a perfeição espiritual estava presente. Uma vez mais reconheci que aquela plantação era boa. Então, voltei a trabalhar no jardim e não pensei mais sobre o incidente. Alguns dias mais tarde, quando trabalhava em uma outra parte do jardim, me lembrei repentinamente das plantinhas rasteiras. Fui até a área que tinha sido afetada e, para minha grande alegria, descobri que somente erva saudável e folhas verdes viçosas cresciam no lugar, ou seja, apenas a beleza da santidade.
Mais tarde, descobri que meu raciocínio se baseava em um trecho dos escritos da Sra. Eddy: “Os métodos dEle proclamam a beleza da santidade, e Sua sabedoria, com seus múltiplos aspectos, brilha através do mundo visível em vislumbres das verdades eternas” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883-1896, p. 363)
No entanto, muitas vezes nos perguntamos: “Como é possível olhar para aquilo que está bem à minha frente, com aparência negativa ou ruim, e dizer que não é nada”? Há alguns anos, vi uma caricatura na revista The New Yorker que ilustrou a verdadeira razão pela qual nos fazemos tais perguntas. A caricatura mostrava duas borboletas voando e uma dizendo à outra: “Certo, agora você é uma borboleta, mas ainda pensa como lagarta”.
Da mesma forma, podemos nos perguntar: “qual versão da realidade estamos aceitando, a material ou a espiritual”? Essa é uma pergunta importante, porque se não estivermos conscientemente incluindo o mundo em nosso entendimento da criação espiritual, o mundo nos incluirá em sua crença sobre uma criação material. Então, talvez pensemos que nos esforçamos para nos ver como espirituais e perfeitos, embora vivendo em um mundo material. Isso não é fácil! A serpente, no jardim do Éden de hoje, não nos tenta com maçãs, mas o faz com fungos, terremotos, comidas gordurosas, guerras, furacões e doenças.
A caricatura mostrava duas borboletas voando e uma dizendo à outra: “Certo, agora você é uma borboleta, mas ainda pensa como lagarta”.
A Christian Science liberta a humanidade do domínio da matéria e da mortalidade. Portanto, precisamos fazer segundo Isaías nos instruiu: “Alarga o espaço da tua tenda; estenda-se o toldo da tua habitação, e não o impeças; alonga as tuas cordas e firma bem as tuas estacas. Porque transbordarás para a direita e para a esquerda...” (Isaías 54:2, 3).
É isso apenas um vago contra-senso? Não, é absolutamente possível. Voltando, por um momento, à minha experiência com os fungos. Poderia a criação de Deus — Sua expressão — incluir algo que Deus não inclui? Impossível. Portanto, ao me recusar a reconhecer qualquer coisa contrária ao bem, eu estava, na verdade, afirmando a perfeição spiritual e infinita do universo.
Podemos começar a ver que nós, como seres infinitos, incluímos o universo nos nossos pensamentos — um universo que percebemos como galáxias e baleias, meteoros e sinfonias de Mozart, leões e cordeiros, clube da costura e aulas de dança, montanhas do Himalaia e quadros de Rembrandt ... e sempre, o conceito do nosso próprio ser infinito. Podemos nos ver conforme Ciência e Saúde explica: “O homem reflete a infinidade, e esse reflexo é a verdadeira idéia de Deus” (p. 258).
