Alegria, reuniões familiares, presentes, confraternização entre amigos, calma contemplação, renovação religiosa, essas são algumas das expectativas e sentimentos que acompanham a proximidade do Natal para o mundo cristão. De fato, em algumas regiões do mundo não-cristão, o Natal evoca muitas dessas mesmas imagens. Contudo, o Natal comemora o evento mais importante da história do mundo para todos os habitantes dele, a saber, o nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Hoje, esquadrinhamos os céus para podermos descobrir se existem outros seres no universo, Pesquisamos a origem da vida e enviamos sondas ao espaço para estudar os planetas, a fim de entendermos o que os formou e de que elementos eles são constituídos. Contudo, o evento que celebramos no Natal, e que ocorreu há mais de dois mil anos, aprofunda exatamente essas questões. Ele deita por terra os conceitos e o raciocínio materiais e pulveriza toda a teoria de matéria solidificada. Por quê? Porque Jesus nasceu de uma virgem.
Essa experiência única, que fora profetizada séculos antes, revisa todas as teorias de causação e geração. Ela traz a eterna mensagem do Natal, de que homens e mulheres têm uma fonte espiritual; que sua verdadeira origem não está em um óvulo nem em um espermatozóide; que seu desenvolvimento humano pode transcender as limitações da carne; e que eles, ou seja, homens e mulheres, podem destruir os grilhões escravizadores do pecado, da doença e, até mesmo, da própria morte.
Não há muitos registros da vida de Jesus, até ele iniciar sua vida pública e realizar exatamente todas aquelas coisas que apontam para o cumprimento da profecia. Ele curava todo tipo de doenças, acalmava tempestades, alimentava multidões, libertava pessoas da escravização a hábitos pecaminosos, ressuscitava moribundos e mortos. Isso fez com que muitas pessoas o ouvissem e passassem a seguir a nova doutrina que ele ensinava. Certa vez, ele falou com uma mulher que viera até uma fonte pegar água e revelou a ela sua missão especial. Mais tarde, ela comentou com os outros "Será este, porventura, o Cristo?" (João 4:29). Em um ímpeto de clareza espiritual, o discípulo Pedro disse: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mateus 16:16).
Contudo, a maioria das pessoas se afastava de Jesus, rejeitava-o e ignorava-o. Como explicar a objeção por parte das pessoas, de que ele era o Messias prometido, diante de provas tão evidentes? Isso só pode ser explicado pelo ódio extremo à verdade, que tentou matar o menino Jesus e que seguiu seus passos ao longo de todo seu ministério de cura. Esse ódio se tornou tão intenso, que culminou na traição, falsa acusação, em um julgamento injusto e uma execução brutal. Esse ódio tinha como objetivo ser a rejeição final à mensagem de Natal de libertação e salvação universal.
Os presentes dos Reis Magos, hoje em dia podem ser traduzidos em orações, que vêem cada indivíduo como o descendente de Deus, abrigado pela solicitude do Amor e acompanhado pelo cálido e terno abraço da Alma.
Entretanto, a mensagem de Natal continua a ser revelada, porque foi ainda mais iluminada pela ressurreição de Jesus e cumprida por meio de sua ascensão. De fato, o Natal e a Páscoa estão irrevogavelmente ligados em uma gloriosa profecia e seu cumprimento. A mensagem universal de Natal (a inocência pré-natal de homens e mulheres e de toda a criação), a mensagem da ressurreição (a continuidade do nosso progresso na expressão eterna da Vida) e a mensagem da ascensão (a união eterna de Deus com Sua criação) constituem um único acorde sinfônico. Uma parte desse acorde não pode ser separada das outras partes, e não pode ser plenamente compreendida sem as demais partes. Os discípulos de Jesus operaram algumas curas enquanto estavam com ele. Entretanto, eles não atingiram a plenitude de sua missão até que, depois da ascensão de Jesus, receberam o Espírito santo (identificado por Mary Baker Eddy como a Ciência Divina) e compreenderam que o Princípio divino, não a personalidade, realizava as poderosas obras do Salvador.
O próprio Jesus explicou esse belo e sinfônico acorde. Certa vez, ele disse: "...antes que Abraão existisse, EU SOU" (João 8:58). O fato de Jesus aparecer cerca de dezoito séculos após Abraão (o pai da nação israelita), indica que sua verdadeira natureza como a expressão atemporal da luz e da glória de Deus, nunca teve começo. Em outra ocasião, ele disse: "E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século" (Mateus 28:20). Aqui ele indicava que sua verdadeira natureza nunca terá fim. Essa natureza atemporal é o Cristo, a presença e o poder de Deus. É a glória e a manifestação de Deus que encontra, nos conforta e nos cura em nossa jornada diária rumo ao Espírito. O Cristo sempre existiu, embora nem sempre tenha sido compreendido. Ele antecedeu a Jesus, que foi a plena representação humana do Cristo, em cumprimento da profecia bíblica (ver Lucas 4:16-19). Jesus disse: "Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o mundo e vou para o Pai" (João 16:28). Essa é a mensagem de Natal completa da vida como Espírito, sem começo nem fim.
Essa mensagem é muito individual. Ouvimos o chamado do Natal que nos diz que cada um de nós veio do Pai; que carne e sangue (DNA, hereditariedade, meio-ambiente, cultura, educação, condições físicas) não podem nos moldar, limitar, nem mesmo nos ajudar. O Natal nos diz que a criação da Mente divina, toda-inteligente, é tão pura e livre como sua fonte, porque a Mente divina sempre presente se conhece a si mesma e à sua própria totalidade. O resultado desse conhecimento são os filhos e as filhas de Deus. A imagem e semelhança do Amor divino participa da natureza do Amor e é boa e livre. A Ciência Cristã mostra claramente a mensagem do Natal e mostra que uma compreensão da nossa verdadeira fonte espiritual nos liberta das limitações da carne.
O conceito que temos de estarmos ligados à matéria como nossa origem tem de ser derrubado. À medida que compreendermos que o nosso ser verdadeiro está sempre conectado pela lei divina à nossa fonte criadora, a Mente divina, nossa individualidade como filhos e filhas de Deus se tornará evidente. Então, começamos a nos desprender de tendências e traços negativos de caráter. Conseqüentemente, da mesma maneira, a doença se desvanece quando passamos a encará-la como separada do nosso ser verdadeiro. O Apóstolo Paulo disse: “... se alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Coríntios 5:17).
Isso é explicado sucintamente por Mary Baker Eddy em seul-ivro Miscellaneous Writings, onde ela escreveu: “Os mortais perderão seu senso de mortalidade – desconforto, doença, pecado e morte – na proporção em que adquirirem o senso da preexistência espiritual do homem como filho de Deus; como descendentes do bem e não do oposto de Deus, – o mal, ou um homem decaído” (p. 181).
Há alguns anos, eu servia como capelão no Exército Americano. Um oficial de alta patente me perguntou se eu poderia fazer uma visita a ele e sua esposa. Ao chegar em sua casa, eles me levaram para ver seus filhos gêmeos, que tinham pouco mais de um ano de idade. Um deles estava começando a dar seus primeiros passos pelo quarto. O outro não podia andar, pois tinha a coluna encurvada, as costas arqueadas e não conseguia erguer a cabeça dos ombros. O nascimento dessa criança havia sido muito difícil e disseram à família que os instrumentos utilizados durante o parto haviam causado o defeito. Os médicos do exército haviam dito que a criança provavelmente nunca andaria e que sempre ficaria curvada. Os pais me perguntaram se eu poderia orar pela criança e respondi que o faria com prazer.
Ficou claro para mim que eu precisava elevar meu pensamento acima do falso conceito a respeito desse menino como um mortal biológico preso a uma camisa de força de limitações físicas. Orei para perceber, isto é, para compreender a preexistência da criança, ou sua eterna coexistência com seu Pai-Mãe Deus, sua verdadeira fonte. Essa perfeita preexistência foi a mensagem de Natal que Jesus nos deu, ao orar, nas derradeiras horas de seu ministério, quando fez referência à sua própria identidade: “E, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (João 17:5). Essa glória mostrou a radiante realidade do ser verdadeiro, como jamais encapsulado na matéria. Quando compreendi mais claramente que essa criança não era descendente da carne, mas do Espírito, sabia que ela não poderia estar sujeita às leis materiais de acidente. Não eram músculos e nervos que a sustentavam, mas a Mente divina que apoiava sua própria expressão perfeita.
A mensagem de Natal da criação espiritual trouxe com ela novamente o efeito exteriorizado de “paz na terra, entre os homens...” (Lucas 2:14) e, nesse caso, a cura. Em duas semanas, a criança estava bem. Suas costas se endireitaram, sua cabeça estava levantada e começara a aprender a andar. A última notícia que tive dele é que tem um metro e noventa e cinco centímetros de altura e somente se curva para passar pela porta!
O Natal nos diz que a criação da Mente divina, toda-inteligente, é tão pura e livre como sua fonte, porque a Mente divina, sempre presente se conhece a si mesma e à sua própria totalidade.
A mensagem de alegria e promessa do Natal clama a cada um de nós nestes tempos difíceis, quando o sofrimento parece tão predominante, quando vítimas de furacões, enchentes, terremotos, guerras estão por toda parte e quando epidemias ameaçam milhões de pessoas. Não devemos negligenciar os presentes dos Reis Magos (ouro, incenso e mirra), que hoje em dia podem ser traduzidos em orações que vêem cada indivíduo como o descendente de Deus, alimentado pelo Espírito divino, abrigado pela solicitude protetora do Amor e acompanhado pelo cálido e terno abraço da Alma.
O sofrimento momentâneo diante do que parece ser um poder oposto a Deus, come evidenciado pela crucificação de Jesus, exige coragem e força espiritual. Quais os fardos da carne que podemos trocar pelas dádivas da Vida, da Verdade e do Amor? Podemos compreender nossa pureza preexistente e vivenciá-la o melhor possível em nossa vida diária, mesmo diante da adversidade?
A cruz é o emblema do cristianismo. Ela representa sacrifício, amor, abnegação e traz consigo uma coroa de vitória. Uma parte de um poema escrito pela Sra. Eddy declara: “Beijando a cruz, melhor eu vou o mundo ver” (Poems [Poemas], p. 12). Descobri que, quando humildemente “beijo a cruz”, ou seja, luto contra as pretensões da matéria e me esforço em renunciar às características que não estão centradas em Deus, a cruz verdadeiramente se torna uma coroa de vitória e de autoridade espiritual.
Naquele acorde sinfônico, demonstrado pela vida de Jesus, a união contínua do homem com Deus é a mesma que a de seu ser preexistente. Ele não começa nem finda. Ele existe, porque Deus existe! Jesus disse: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mateus 5:48). Deus perfeito, homem perfeito. Causa perfeita, efeito perfeito. Agora e para sempre. Essa é a mensagem de Natal, sua profecia e seu cumprimento.
