Naquela tarde no ensolarado Colorado, nossa intenção era seguirmos para o Pike's Peak [Monte Pike], onde havíamos planejado pegar o trem funicular (a estrada de ferro funicular mais alta do mundo) rumo ao cume de 4.300 metros de altitude. Entretanto, fomos pegos de surpresa... e é aqui que a história começa.
Estávamos indo de carro em direção a Colorado Springs, por uma estrada de mão dupla, quando nos aproximamos de uma curva muito fechada. Então, meu marido Don gritou: “Aquele carro está vindo direto em nossa direção”! Ele rapidamente desviou o carro o quanto pôde para a direita, a fim de evitar uma colisão frontal. Havia um precipício dos dois lados da estrada e somente um estreito acostamento de mais ou menos um metro de largura, que ele usou ao máximo. Entretanto, o carro que vinha em nossa direção colidiu conosco a toda velocidade e arremessou nosso carro para o lado contrário. O carro atravessou as duas pistas e, rompendo a grade de proteção da estrada, rolou pela encosta íngreme do abismo, do outro lado da estrada.
É aqui que a verdadeira história começa. Talvez você já tenha ouvido a expressão: “No mundo, mas não do mundo”. Acho essa a melhor explicação que posso dar a respeito de como me senti naquele momento. Aquilo realmente aconteceu, mas era como se não tivesse acontecido. Simplesmente saímos da posição normal em que nos encontrávamos no lado certo da estrada, para, depois de muitos giros e capotagens, acabarmos no pé da montanha, de cabeça para baixo.
Mais tarde, soubemos que, enquanto permanecíamos lá em baixo, Don e eu havíamos tido pensamentos semelhantes sobre a absoluta totalidade de Deus e sobre o fato de que “os acidentes são desconhecidos a Deus”, como escreveu Mary Baker Eddy em Ciência e Saúde, página 424. Ela continua: “Sob a Providência divina não pode haver acidentes, porquanto na perfeição não há lugar para a imperfeição”.
Don perguntou calmamente: “Você está bem”? Respondi também muito tranqüila: “Estou bem”. Aos poucos, ele conseguiu empurrar o que restava de uma peça de ferragem destruída que estava sobre nós e que um dia havia sido a porta do carro. Conseguimos ficar de pé sobre o console que abriga o câmbio do carro, escalamos até a parte de cima do veículo e saímos. Não sofremos nenhum ferimento, nem tivemos nenhum momento de medo ou desconforto.
O outro carro, também com perda total, ainda estava na estrada. Os veículos que passavam, paravam. As pessoas acorriam para socorrer aqueles passageiros e usavam os celulares para chamar ambulâncias.
De repente, alguém viu nosso carro lá embaixo no pé da montanha e gritou:
“Venham rápido. Há um outro carro. Vamos pegar os corpos!”
“Não, não, aquele era o nosso carro e estamos bem”, dissemos, à medida que subíamos de volta para a estrada.
As pessoas, incrédulas, simplesmente ficaram paradas e perplexas. “Mas, não pode ser. O carro de vocês...”
“Deus é tão bom”, disse eu.
“Deus?” — perguntaram eles.
“Sim, Deus”.
À medida que mais pessoas se juntavam, continuávamos ouvindo vozes excitadas, repetindo: “Foi Deus. Eles estão aqui e estão bem. Foi Deus”. Não havia dúvida, nem indiferença. Apenas a total aceitação daquilo que eles viram com seus próprios olhos e que me ouviram contar.
Quando as ambulâncias chegaram, os paramédicos estavam muito preocupados, não apenas com as pessoas que estavam dentro do carro na estrada, mas também com meu marido e eu. Disseram que estavam certos de que tínhamos ferimentos que ainda não estávamos sentindo e insistiram em que nos sentássemos ao lado da estrada, para que nos examinassem. Explicaram que acidentes dessa magnitude ocupavam os primeiros lugares da lista em seus registros; sua classificação era tão elevada, que eles sabiam que havíamos sofrido ferimentos graves, certamente na parte interna do corpo.
“O homem não é material; ele é espiritual”. Don e eu sabíamos que compreender essas verdades seria o suficiente para nos proteger de seqüelas de todo tipo.
Enquanto nos examinavam de forma detalhada, meu marido e eu orávamos. Minha oração se fundamentava na “exposição científica do ser”, na página 468 de Ciência e Saúde. Ela começa assim: “Não há vida, verdade, inteligência, nem substância na matéria. Tudo é Mente infinita e sua manifestação infinita, porque Deus é Tudo-emtudo”. E termina com a firme certeza de que “o homem não é material; ele é espiritual”. Don e eu sabíamos que compreender essas verdades sobre nosso ser seria suficiente para nos proteger de seqüelas de todo tipo.
A certa altura, a paramédica que me examinava disse-me que havia detectado um problema de pressão arterial e eu lhe respondi que esse problema não existia. O medidor de pressão simplesmente refletia a agitação daquele momento. Ela sugeriu que havia outros problemas além desse e disse que no final teríamos de ir para um hospital. Don e eu continuamos a orar. Então, educadamente, pedimos àquela mulher que tirasse novamente a minha pressão. Ela assim o fez e, poucos minutos mais tarde, inverteu seu diagnóstico e concordou que tudo estava bem.
Em seguida, os paramédicos nos perguntaram qual era nosso histórico médico. Dissemos que éramos Cientistas Cristãos. Eles perguntaram a quais medicamentos nós éramos alérgicos. Respondemos que, honestamente, não tínhamos nenhum histórico médico. Quando declinamos o convite para acompanhá-los ao hospital, ligaram para um médico e lhe disseram que estávamos “muito determinados” a não receber nenhum tratamento médico. O médico ordenou que, se assinássemos um termo de responsabilidade de que estávamos recusando toda assistência médica, isentando-os de qualquer responsabilidade, aceitariam nossa decisão.
Assinamos o documento e a paramédica, que havia me examinado e, até aquele ponto, havia cumprido seu dever, inclinou-se e cochichou em meu ouvido: “Se eu fosse você, teria feito exatamente o que fez”. Quando expressamos preocupação a respeito das pessoas no outro carro, ficamos sabendo que eles haviam sido removidos por uma ambulância a um hospital perto dali e que ainda não havia nenhuma notícia disponível sobre o estado deles.
Alguns minutos mais tarde, o serviço de guincho chegou para levar nosso carro para um pátio de ferro velho. O motorista gentilmente nos ofereceu uma carona. Aceitamos e pedimos que nos deixasse em uma lanchonete, de onde ligaríamos para uma locadora de carros.
Quando chegamos à lanchonete, as pessoas que estavam lá dentro correram para a janela a fim de verem as ferragens de nosso carro. Quando descemos do caminhão, nos perguntaram se havíamos participado do acidente. Ficaram perplexos quando lhes contamos que havíamos estado no centro do acidente, mas que estávamos perfeitamente bem porque Deus havia nos protegido.
Pedimos desculpas àquelas pessoas por termos interrompido o tráfego durante várias horas, e um homem apenas sorriu e disse que teria esperado uma semana inteira para ver alguém sair vivo de um acidente como aquele. Algum tempo depois, um casal se ofereceu para nos dar uma carona até Colorado Springs. Não era o caminho deles, mas acharam que era o mínimo que poderiam fazer por nós, depois do que havíamos passado.
Na manhã seguinte, ainda seria possível tomar aquele trem funicular para Pike's Peak, mas, ao invés disso, decidimos ir a uma Igreja da Ciência Cristã. A montanha Pike's Peak oferece uma vista extraordinária, porém optamos pelo que considerávamos uma vista mais elevada.
Ao compartilhar nossa história com as pessoas na igreja, um senhor veio até nós e perguntou: “Vocês estavam na estrada ontem à tarde, por volta das duas horas”?
“Sim”, respondemos. “Foi exatamente a hora e o local em que o acidente aconteceu.”
Ele nos contou que estava na mesma estrada, naquela hora e havia recebido uma mensagem angelical para orar por segurança. Ele orou imediatamente, muito embora se lembrasse de ter pensado que não havia nenhuma condição atmosférica desfavorável ou qualquer outra razão para orar naquela hora.
À medida que o homem falava, lembrei-me de alguns versos de um de meus hinos favoritos:
“Deus sabe quais os anjos Seus
Nos podem confortar,
E logo os vai mandar”
(Hinário da Ciência Cristã, 9)
Acho que, naquela tarde no Colorado, havia mais do que apenas alguns anjos na estrada.
Desde aquela ocasião, nos determinamos a não questionar o porquê daquele acidente ter acontecido. Ao invés disso, decidimos nos concentrar em nossa gratidão pela absoluta proteção de Deus naquele dia. Quase que diariamente, descobrimo-nos pensando: “O Deus, que salvou vidas naquela tarde, salvará você e outros, continuamente, não importa o que estejam fazendo”.
Don e eu concordamos em voltar a Pike's Peak em outra ocasião para ver aquela famosa vista.
