Comecei a beber aos vinte anos e continuei durante os quinze anos seguintes, até metade da década de 1980. Nessa época, bebia diariamente, principalmente após o trabalho. Cheguei ao ponto de não poder ir a nenhum lugar, nem mesmo visitar minha família, a menos que levasse uma garrafa de bebida comigo.
Em reuniões sociais, beber havia se transformado em uma fonte diária de desenvoltura e coragem, o que usualmente me levava à embriaguez. Além disso, como qualquer um que já tenha se apoiado na bebida sabe, suas promessas são falsas, pois, ao invés da almejada desenvoltura e autoconfiança, a bebida só me trazia repugnância de mim mesma e fraqueza de caráter.
Aceitei o rótulo de “alcoólatra” como parte da minha imagem, ou seja, uma caracterização que assumi sem pensar, uma vez que um de meus pais havia sido alcoólatra. Desejei ardentemente fazer algo a respeito desse vício destrutivo, mas minha dependência era tão grande, que não acreditava que pudesse parar.
Logo minha carreira e minhas finanças entraram em colapso. Quando falharam todos os meus esforços para conseguir um emprego, como envio de currículos, entrevistas em agências de emprego e respostas a anúncios de trabalho, volvi-me a um livro que havia recebido de presente alguns anos antes.
Recorrer ao Ciência e Saúde, o livro-texto da Ciência Cristã, não foi apenas um ato de desespero. Para mim, ele já havia demonstrado ser um livro que cumpre suas promessas. Suas mensagens, a respeito do poder e da boa-vontade de Deus, sempre disponíveis, haviam me curado de problemas físicos e de relacionamentos no passado. Embora ainda não acreditasse que alguma coisa pudesse me auxiliar a respeito do problema da bebida, sentia-me confiante de que esse livro poderia me ajudar com o problema financeiro.
Mal sabia eu que, enquanto o Ciência e Saúde me ajudava a abrir o pensamento e perceber as oportunidades de emprego sob uma perspectiva espiritual, ele também interviria em meu vício de beber.
Esta pergunta poderosa no livro chamou minha atenção: “Que probabilidade de vida tem o homem?” (Ciência e Saúde, p. 191). Surpreendida, meu pensamento começou a tomar um novo rumo. Sobre o que estava fundamentando fundamentando minha atual situação e as oportunidades futuras? Seria eu a filha de um pai alcoólatra, com uma baixa auto-estima, sabotando minha própria carreira? Seria minha auto-estima o resultado de uma história familiar imperfeita e das escolhas pessoais que havia feito, ao longo do caminho?
Sem dúvida, até bem pouco tempo atrás, minha resposta para tudo isso teria sido um sonoro “sim”. Mas agora, as idéias contidas em Ciência e Saúde haviam me guiado à identidade mencionada no livro do Gênesis, na Bíblia: a de que eu era a imagem e semelhança de Deus (ver Gênesis 1:26).
Esta frase de Ciência e Saúde me tocou profundamente: “...temos primeiro de volver nosso olhar para a direção certa, e então seguir esse caminho. Precisamos formar modelos perfeitos no pensamento e contemplá-los continuamente, senão nunca os esculpiremos em vidas sublimes e nobres” (p. 248).
A compreensão de que poderia aceitar um novo modelo para minha identidade, fundamentado na perfeição foi, pouco a pouco, transformando meu pensamento. O fato de que sou realmente criada à imagem perfeita de Deus, inocente e sempre útil, começou a substituir alguns dos conceitos negativos que tinha sobre mim mesma.
Passei a ver-me, e também a toda a humanidade, como tendo um único Pai divino, uma única fonte de individualidade. Aceitar que todos os filhos de Deus são, em certo grau, tão perfeitos como nosso Pai divino, Deus, teve um efeito surpreendente. Comecei a perder meu desejo por bebidas alcoólicas.
Parei de beber por vários meses até certa noite, quando visitei uns amigos com os quais costumava beber em reuniões sociais. Embora tivesse aceitado minha bebida habitual, coloquei o copo na mesa ao lado e o deixei ali por algumas horas, tomando, ocasionalmente, um pequeno gole. Quando finalmente esvaziei o copo, levantei-me, servi-me de uma outra dose e estava a ponto de me reunir de novo aos meus amigos. Contudo, ao invés de fazer isso, senti-me impelida a ir à cozinha.
Lembro-me de ter ficado ali parada, sozinha, por alguns momentos, apoiada na pia. Um sentimento indescritível de paz e confiança tomou conta de mim. Sentia-me completa, como se estivesse voltando para casa. Não me sentia fraca nem carente, mas completa e livre.
Então, simplesmente despejei a bebida no ralo da pia, enchi meu copo com refrigerante e voltei para os meus amigos. Desde aquele momento, nunca mais desejei nem tomei nenhuma bebida alcoólica.
Ao relembrar essa transformação, reconheço a sensação de paz que senti na cozinha como o Cristo, a mensagem espiritual do amor de Deus para cada um de nós, a qual revelou de forma gradual minha identidade espiritual à medida que estudava as idéias contidas em Ciência e Saúde.
Continuei lendo Ciência e Saúde e desfrutando da minha recém-encontrada libertação da dependência do álcool. Dentro de pouco tempo, minha situação de trabalho também se resolveu. Consegui um emprego em uma profissão inteiramente nova e, depois de alguns anos como assistente de redação de um jornal, o gerente pediu-me que assumisse a tarefa de escrever alguns artigos e logo me tornei uma colunista profissional.
Quando relembro essa época, acho que uma intervenção espiritual fechou a porta de uma profissão e, aos poucos, abriu outra. Contudo, o mais importante foi que iniciei minha jornada para o descobrimento do meu próprio valor como filha de Deus e os falsos rótulos foram eliminados de forma natural. De fato, passei a usufruir a verdadeira desenvoltura e autoconfiança, que alguns poderiam chamar de: “a paz de Deus” e que a Bíblia completa: “...excede todo o entendimento“ (Filipenses 4:7).
