Despertei com um sobressalto, sentindo-me atordoada. Minha rede, atada precariamente às vigas do barco, balançava freneticamente de um lado para o outro, pela violência das ondas.
Eu era passageira em um barco que viajava por um afluente do rio Amazonas, nas profundezas da floresta tropical brasileira. Tanto os habitantes como os turistas mencionavam com freqüência que esse tipo de viagem era perigoso. Ouvira falar de embarcações como a minha, apanhadas em tempestades torrenciais, nas quais pessoas perderam a vida. Entretanto, nessa região que é uma bacia hidrográfica e não possui infra-estrutura adequada, os barcos são o meio de transporte mais eficiente e comum.
Em momento algum havia me importado com os possíveis perigos daquele tipo de transporte. Como estudante do segundo ano da faculdade, estava entusiasmada por viajar em uma terra distante dos Estados Unidos, na companhia de bons amigos. Além disso, todo mundo viajava dessa forma. Mas agora, em meio àquela tempestade, o medo me dominou.
A água agitava com muita força nossa velha embarcação de dois andares e uns 20 metros de comprimento. O convés aberto do primeiro andar, onde eu dormia, tinha apenas uma frágil balaustrada na borda do barco, que protegia das águas do rio cerca de 40 passageiros. No andar acima do meu, outros viajantes dormiam em beliches, dentro de pequenas cabines.
O barulho era ensurdecedor, com a chuva caindo torrencialmente ao meu redor, as ondas se chocando contra o barco e trovoadas no céu. Era como se os céus tivessem se aberto, derramando tudo sobre nosso pequeno barco. À medida que a embarcação sacudia de um lado para o outro de forma violenta, os membros da tripulação corriam e tropeçavam uns nos outros, para cobrir com lonas os lados abertos do barco.
Os outros passageiros próximos a mim, agora acordados pela tempestade e o tumulto, expressavam medo e apreensão.
Comecei a me sentir muito enjoada e percebi que os outros passageiros e meus amigos se sentiam da mesma forma. Contudo, naquele momento de total desespero, sabia que podia encontrar paz e calma em meio àquela tempestade e me libertar do medo.
Sempre que estou em dificuldades ou doente, volvo-me a Deus em oração e encontro conforto e segurança. Estava certa de que dessa vez não seria diferente. Sabia que Deus estava ali mesmo comigo, exatamente como Ele sempre está. Pensei imediatamente nos dois primeiros versículos do Salmo 46, que sei de cor: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Portanto, não temeremos...”
Naquele momento, vi claramente que Deus, que é a própria Vida, é superior à todas as coisas, inclusive ás forças da natureza, o medo e o enjôo. Senti-me calma novamente.
Mesmo enquanto estava naquela agonia, sentindo-me enjoada e dominada pela terrível tempestade à minha volta, apeguei-me à imensidão da presença e do poder de Deus e à promessa daquele Salmo: “Sim, Deus é socorro bem presente”, pensei. “Nada tenho a temer”.
Decidi ir ao convés superior, onde eu poderia ficar só e continuar minhas orações, em relativa paz.
Sabia que o resto do Salmo que mencionei, incluía também o poder que Deus tem sobre o mar: “Portanto, não temeremos... ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam”. “Na verdade, o poder de Deus é todo-abrangente”, pensei. Naquele momento, pude sentir Sua presença e tive a certeza de que Ele estava protegendo a todos no barco. Esses pensamentos consoladores e divinos foram o meu refúgio naquela tormenta.
Também comecei a recitar a Oração do Senhor, que Cristo Jesus ensinou aos seus seguidores e que eu havia memorizado. Essa oração enfatiza o poder e a glória de Deus. Pensei no sentido espiritual dessa oração que Mary Baker Eddy deu no livro Ciência e Saúde e que, em parte, diz: “...Deus é infinito, todo poder, todo Vida, Verdade, Amor; está acima de tudo, e é Tudo” (p. 17). Naquele momento, vi claramente que Deus, que é a própria Vida, é superior a todas as coisas, inclusive às forças da natureza, ao medo e ao enjôo. Senti-me calma novamente.
O enjôo também passou e me juntei aos outros passageiros no convés de baixo. Logo a tempestade cessou e o barco começou a se estabilizar. Notei que as pessoas se acalmaram. Uma amiga, que havia estado muito assustada, aproximou-se e sentou na rede comigo. Senti que ela começava a relaxar. Regozijamo-nos na paz daquele momento.
Desfrutei o resto da minha viagem de barco e não houve mais nenhuma tempestade. Desembarquei com a profunda convicção da eficácia da oração. Deus com certeza é “socorro bem presente nas tribulações”.
