Mais do que ensinar a superar, a Ciência Cristã mostra uma saída do pesar, da desolação e da morte. Isso se aplica a todos nós. Somos criados por Deus, que é a própria Vida divina.
Em sua principal obra, a teóloga e sanadora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy, explicou: “O homem é imortal, e o corpo não pode morrer porque a matéria não tem vida a entregar. Os conceitos humanos denominados matéria, morte, moléstia, doença e pecado, são tudo o que pode ser destruído” (Ciência e Saúde, p. 426). A oração, que substitui a noção humana da nossa vulnerabilidade por uma compreensão maior da realidade espiritual, traz à luz o fato de que nós e nossos entes queridos somos imortais e livres de risco.
A fim de prevenir ou superar o pesar, temos de compreender que a morte é uma ilusão. Torneime ciente disso, de uma forma mais profunda, durante um vôo transatlântico. Fui acordada de um profundo sono pela turbulência, que logo se transformou em fortes solavancos e comecei a ouvir ruídos estranhos vindos do avião. Vireime para a janela, quando uma senhora idosa, sentada ao meu lado, disse para a filha, que estava sentada atrás nós, que as luzes da asa estavam totalmente apagadas. Houve mais ruídos estranhos e o ambiente ficou impregnado pelo medo. Então, o avião desceu repentinamente. Imaginei que estávamos próximos da Islândia, fazendo uma aterrissagem de emergência, mas o avião estava fora de controle. Tive a impressão de que descíamos rápido demais. Tudo estava caótico à minha volta. Fechei meus olhos firmemente e senti a intensa atraçāo da gravidade.
Enquanto orava, três coisas me vieram subitamente ao pensamento: primeiro, que Deus era minha Vida; portanto, minha expressão individual de vida, consciência, e identidade eram eternas. Em seguida, esperava que meu marido e minha filha não fossem dominados pelo pesar desnecessário; senti-me feliz por ter-lhes dito muitas vezes que os amava, porque essa expressão de amor dura para sempre. Por último, pensei na primeira linha da Oração do Senhor: “Pai nosso que estás nos céus”, e compreendi que, a despeito das circunstâncias, minha família, eu, e todos a bordo do avião, já estávamos no céu, ou seja, na consciência espiritual do bem. Estávamos a salvo com Deus. Não importava como essa situação acabasse, nada mudaria esse fato eterno.
Então, abri os olhos. A senhora idosa estava na verdade, não ao meu lado, mas sentada no assento atrás de mim ao lado da filha, lendo um livro. Meu próprio colega de poltrona estava cochilando. O avião seguia em frente, de forma firme e suave. Levei alguns momentos para perceber que estivera dormindo o tempo todo. A turbulência, os ruídos, e o intenso medo haviam sido apenas parte de um sonho.
Essa experiência se tornou para mim uma ilustração profunda da ilusão da morte. “A morte nada mais é senão outra fase do sonho de que a existência possa ser material”, diz Ciência e Saúde. “Nada pode interferir na harmonia do ser, ou pôr termo à existência do homem na Ciência” (p. 427). Minha experiência de “quase-morte” tinha sido um sonho. Contudo, ao contrário dos meus costumeiros sonhos efêmeros, esse tinha sido tão real que o que permaneceu comigo, não foi o medo, mas os três pontos da minha oração.
A Ciência Cristã proporciona a percepção da verdade espiritual que nos arma para derrotarmos, por meio da compreensão espiritual, o que o Apóstolo Paulo chamou de “o último inimigo”. As Escrituras apontam para a eternidade e a segurança encontradas em Deus, que é a Vida divina: “Bendizei, ó povos, o nosso Deus; fazei ouvir a voz do seu louvor; o que preserva com vida a nossa alma e não permite que nos resvalem os pés” (Salmos 66:8, 9). Tendo em vista que refletimos a Vida que é Deus, nosso verdadeiro ser é espiritual e indestrutível. A verdadeira identidade é completamente espiritual, nunca está em risco de morrer ou desaparecer. Pelo contrário, a matéria é tanto destrutiva quanto passível de destruição, o que a impede de ter qualquer parte na totalidade da Vida. O corpo material não é o detentor ou controlador da vida. A Ciência Cristã demonstra que: “Os mortais têm noção muito imperfeita do homem espiritual e do alcance infinito do pensamento desse homem. A ele pertence a Vida eterna. Já que o homem nunca nasceu e jamais morre, serlhe-ia impossível, sob o governo de Deus na Ciência eterna, decair de sua origem elevada” (Ciência e Saúde, p. 258).
Mortalidade se refere à limitação, destrutibilidade, dor, pecado, doença, vulnerabilidade, tristeza e morte. Por não ser o estado ou condição real do homem, a mortalidade envolve uma perspectiva limitada da humanidade, a qual surge do equívoco de que Deus seja o autor de uma criação imperfeita e finita. A ilusão mortal deturpa nossa existência indestrutível como a imagem de Deus (ver Gênesis 1:27). Nossa existência real é um reflexo espiritual da suavidade, da compaixão e da força do Amor divino; a substância, a presença, a alegria e a vitalidade da Vida divina; a inteligência, o sustento, a inocência, e a invulnerabilidade da Mente divina.
Portanto, o senso material de que nossa vida termina na morte é, do começo ao fim, uma visão limitada da nossa verdadeira expressão ininterrupta da Vida, que é Deus.
A Ciência Cristã revela a capacidade que a humanidade tem de emergir do sonho da morte. Ela ensina a oração que vê além da ilusão material da existência, repleta de começos e fins, para perceber a Vida divina como tudo aquilo que podemos manifestar. Essa é a compreensão que acaba com o pesar.
Lembro-me de um dia em particular, logo após o falecimento do meu primeiro marido. Geralmente, quando dirigia, sentia-me livre para me entregar aos sentimentos de tristeza e solidão.
Conseqüentemente, muitas vezes tinha a privacidade para chorar enquanto dirigia pela estrada, sem que ninguém me incomodasse ou tentasse ajudar. Quando passamos pelas profundas águas do luto, palavras compassivas e sinceras, não importa quão bem-intencionadas, podem, às vezes, ser difíceis de aceitar, sobretudo quando estamos questionando nossa própria fé em Deus. Contudo, nossa tristeza chega a tal ponto que ansiamos deixar para trás o medo, a dor, ou lembranças pungentes, para sentir o bem que não pode realmente ser perdido. Nesses momentos, o Cristo, a mensagem divina do bem que provém de Deus, pode tocar o coração, com conforto e cura duradouros.
Naquele dia, à medida que me deixava envolver naquela névoa cheia de dor que já me era familiar, um terno pensamento me veio à mente: certamente podia chorar se quisesse. Porém, era hora de lidar com a crença de que a morte havia assumido o controle da minha vida. Isso não era um apelo para simplesmente me reanimar. Para mim, foi um momento decisivo. Era um convite para abandonar o sonho da morte como um ponto final para a vida e o amor, para mim e para todo mundo.
Compreendi que poderia continuar a chorar se quisesse. Aliás, realmente chorei. Entretanto, quando as lágrimas secaram, percebi que essa seria a última vez que o faria. Estava disposta a “crescer”, a ser despertada para a realidade de que Deus é a Vida e, por isso, a existência do meu marido e a minha são indestrutíveis. Não precisava mais acalentar a ilusão de que ele perdera a vida e eu o amor. A Vida divina, por meio da mensagem do Cristo, falava comigo ali mesmo, no carro.
Mary Baker Eddy escreveu: “Pelo sentido espiritual podes discernir o coração da divindade, e começar assim a compreender na Ciência o termo genérico homem. O homem não é absorvido na Divindade, e o homem não pode perder sua individualidade, porque ele reflete a Vida eterna; nem é ele uma idéia isolada, solitária, pois representa a Mente infinita, a soma de toda substância” (Ciência e Saúde, pp. 258–259).
Todo mundo tem um senso espiritual, a capacidade interior de compreender a Deus e vivenciar o céu, ou a realidade espiritual, exatamente aqui. Esse fato é verdadeiro, não importa o que enfrentemos. O senso espiritual não é um talento especial limitado a poucos. Se você alguma vez ficou comovido pelo esplendor de um pôr-do-sol, pelo súbito frescor da brisa do oceano em sua face, ou pelo sorriso de um bebê, você sentiu a atraçāo irresistível de se abrir a algo simples e profundamente bom. Essas são pequenas evidências do poder do Cristo.
Nem todos lidam diariamente com a morte e o pesar. Contudo, todos nós temos uma contribuição a dar ao compreender que nosso próximo tem sensibilidade espiritual suficiente para sentir a presença do céu, para ouvir a voz do Cristo, o Consolador prometido, exatamente onde se encontra. Essa forma de oração é poderosa.
“O 'cicio tranqüilo e suave’ do pensamento científico se estende sobre continentes e oceanos, até às extremidades mais remotas do globo”‚ escreveu Mary Baker Eddy. “A voz inaudível da Verdade é para a mente humana como quando ‘ruge um leão’. É ouvida no deserto e nos lugares tenebrosos do medo” (Ciência e Saúde, p. 559). A voz do Consolador é ouvida quando dormimos. É sentida quando estamos acordados. Existe total esperança de se vencer o pesar e a morte aqui e agora. A compreensão espiritual da Vida divina guia cada um de nós para fora do atoleiro do sofrimento e da perda‚ rumo à alegria do ser ilimitado, repleto de amor e livre de risco.
