Geralmente, os Jogos Olímpicos representam um momento decisivo e importante para o país anfitrião.
Recentemente foi a vez da China passar por esse momento. Será que esse país aproveitou ao máximo sua oportunidade Olímpica? Sob vários aspectos, ainda é muito cedo para dizer. A imensa energia e o desejo ardente da China de acolher bem os visitantes certamente atraíram uma atenção positiva. A China recebeu elogios pela eficiência com que construiu novos estádios, linhas de metrô, bem como pelo moderno e enorme terminal do aeroporto. Contudo, a opinião pública não aceitou completamente os procedimentos severos de segurança, à medida que os Jogos Olímpicos se aproximavam.
Nos últimos anos, o mundo se deu conta da economia "ascendente" da China, o que a tornou um parceiro importante, mas também um concorrente. Sua política externa, notadamente no que diz respeito ao Sudão e ao Tibet, despertou a crítica internacional. Além disso, em matéria de liberdade e direitos humanos, a política continua com sérios problemas. Por outro lado, a tragédia do terremoto de 12 de maio de 2008 incitou a solidariedade do mundo e deu ao governo chinês a oportunidade de demonstrar seu interesse pelo povo. Entretanto, o tratamento de intimidação dado aos pais que protestaram pelas mortes de seus filhos nas escolas que desabaram, não contribuiu para manter uma impressão positiva.
Recentemente, quando me questionava a respeito de como orar sobre tudo isso, veio-me ao pensamento: "O que o Apóstolo Paulo diria? O que é que ele pensaria sobre a China de hoje? O que ele escreveria para seus companheiros cristãos, que pudesse orientar suas orações por esse país, que tem tanto potencial para o bem?"
A idéia de um Paulo do século XXI, chegando para os jogos de Pequim no enorme terminal novo, a princípio me fez rir. Entretanto, Paulo foi um dos grandes viajantes do mundo antigo. Ele se preparou para sua missão equipado com eloqüência, erudição, energia ilimitada e, talvez o mais importante, sua disposição para ser transformado pelo Cristo. Ele era infinitamente paciente, mas também determinado a dizer aquilo que era necessário. Seu trabalho de propagação do Evangelho foi uma maratona com componentes físicos e espirituais e que durou toda a sua vida.
Aqui estão algumas idéias de oração que me vieram à mente, enquanto pensava sobre as Epístolas de Paulo aos primeiros cristãos.
A lei do amor está em açāo
"Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor", escreveu Paulo na carta aos Romanos (8:38, 39). Os pensadores espirituais podem manter essa certeza radical no pensamento, uma vez que eles trazem o poder da oração científica para ajudar a China a enfrentar seus desafios. Eles podem perceber que o "amor de Deus" sustenta ternamente aqueles que trabalham para ajudar as pessoas a se recuperarem do terremoto, por exemplo.
A ternura e a afeição humanas nunca devem ser subestimadas. A obediência à lei do Amor universal provê estabilidade para todas as pessoas, sejam burocratas de alta patente, rebeldes, artistas, membros das forças armadas, e cidadãos comuns.
Contudo, o Amor também se manifesta como Princípio, como lei, que pode ser uma expressão de Amor. Embora a ternura e a afeição humanas nunca devam ser subestimadas, a obediência à lei do Amor universal provê estabilidade para todas as pessoas, sejam burocratas de alta patente, rebeldes, artistas, membros das forças armadas ou cidadãos comuns. A lei divina transcende o fato de se ter "contatos" de alto nível ou outras conexões pessoais.
Esse amor pelo próximo é demonstrado em maior escala quando as nações desenvolvem instituições, tais como tribunais de justiça abertos a todos, nos quais os direitos individuais possam ser realmente defendidos, e as injustiças corrigidas. Os pensadores espirituais têm a oportunidade de apoiar o progresso da China nessa direçāo.
O progresso é espiritual, não material
As reformas econômicas da China nos últimos 30 anos tiraram centenas de milhões de pessoas da extrema pobreza. Essa é uma conquista admirável! Além de toda aquisitividade material da China de hoje, este é também um momento de busca espiritual sistemática não apenas de diferentes formas de cristianismo, mas também de religiões asiáticas mais tradicionais. Podemos imaginar Paulo, tão acostumado a encontrar uma variedade de práticas religiosas em suas viagens, fazendo todo o possível para avivar as chamas dessas faíscas de interesse nas coisas do Espírito.
O que são comumente descritos como "direitos humanos", são, em última análise, "direitos espirituais", porque provêm de Deus. Qualquer sistema humano construído sobre carência, medo, prestígio, poder pessoal, identidade tribal ou racial, ou sobre qualquer outra coisa diferente do Princípio, que é o Amor, tem finalmente de ruir.
Em um simpósio realizado este ano sobre o futuro da Ásia, Anthony Saich, um professor da Universidade Harvard, comentou: "Qualquer sociedade que passe pelos tipos de mudança que a China está vivenciando produz uma quantidade incrível de agitação". Agitação essa que talvez não esteja evidente nas "representações oficiais", ele admite, mas que se evidencia na arte chinesa, na poesia, e nos meios musicais. Ele também sugere que essa agitação ocorre pelas questões desafiadoras que a China enfrenta. Saich perguntou: "Qual é o papel do indivíduo na sociedade? Que relação tem esse papel com o Estado"? Existe também muito debate intelectual nesse sentido. Contudo, essa é uma discussão muito fragmentada e difícil de ser levada adiante, em parte, é claro, porque o Partido Comunista chinês está apreensivo em autorizá-la. Ainda acho que é esse tipo de debate que é necessário para estabilizar o futuro da China".
A oração sustenta a descoberta e o crescimento espirituais
Os pensadores progressistas em toda parte podem apoiar, em espírito de oração, o direito da China de trocar idéias sobre a descoberta espiritual. Uma vez mais, Paulo é um extraordinário modelo. Jamais alguém o acusou de ser um homem de poucas palavras. Ele pregou, debateu, argumentou, persuadiu, por vezes durante toda a noite (ver Atos 20:11). Ele seguiu fielmente o conselho registrado em uma carta a Timóteo: "prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina" (2 Timóteo 4:2).
A liberdade de expressão é importante para a China, como para qualquer sociedade, porque facilita o tipo de diálogo público que o professor Saich preceituou. Tal diálogo pode conter o que seria denominado de "efeito da levedura" sobre uma sociedade mais ampla. Assim como fez Paulo, Mary Baker Eddy se valeu dessa metáfora do fermento em açāo. Ela identificou o fermento como a Ciência divina, o Consolador que Cristo Jesus prometeu viria à humanidade e permaneceria para sempre (ver João 14:16). A açāo do fermento do Espírito continuará até que "transforme a totalidade do pensamento mortal, como a levedura transforma as propriedades químicas da farinha", escreveu ela em Ciência e Saúde, p. 118.
Da mesma forma que o fermento transforma a massa, assim o fermento da Ciência trabalha sobre o pensamento coletivo humano para que ele se eleve a um nível mais alto e se torne mais expansivo e mais espiritual. O efeito da levedura pode ser tão poderoso que, às vezes, faz com que a massa se derrame sobre a borda da vasilha que a contém. A influência do fermento espiritual também pode se extravasar de uma forma que abençoe aos outros.
Ninguém pode saber exatamente quais os efeitos que o fermento do Consolador terão sobre a China. Contudo, podemos imaginá-los transformando a China em um lugar de espiritualidade mais elevada, mais humano, mais solidário aos direitos individuais, mais aberto ao mundo, e mais disposto a abrir novas frentes de liberdades.
Aqueles que oram para o mundo provavelmente são humildes o bastante para aceitar que talvez demore para que os efeitos de suas orações se manifestem. Talvez compreendam também que alguns momentos decisivos só são percebidos em retrospectiva, da mesma maneira que os viajantes às vezes só compreendem o caminho que percorreram ao término de suas jornadas.
Quando, daqui a alguns anos, as pessoas rememorarem as Olimpíadas de Pequim, talvez digam: "Ah, sim, 2008, nós não imaginávamos na época, mas foi quando as coisas realmente começaram a se abrir para a China e para o mundo".
 
    
