Quando era pequeno, minhas aulas favoritas na Escola Dominical eram aquelas em que conversávamos sobre uma das curas de Jesus ou seus ensinamentos. Sempre ficava maravilhado com a quantidade de idéias úteis encontradas em apenas uma história da Bíblia.
Nos cursos bíblicos na faculdade, passei a dar mais valor a muitas passagens que me eram familiares, à medida que compreendia melhor o contexto nas quais foram escritas. Finalmente, fazia sentido para mim a razão de haver tantos evangelhos. Cada autor do evangelho relatou a história da vida de Jesus de uma maneira que satisfaria às necessidades de seus leitores.
Contudo, foi apenas no último semestre da faculdade que realmente testemunhei a verdade dos textos bíblicos que estudara. Havia torcido meu joelho enquanto jogava basquete, portanto, apareci de muletas em um seminário que devia monitorar. O título do seminário era uma pergunta feita por Mary Baker Eddy em seu “Hino de Comunhão”: “Sentes o poder da Palavra”? (Poems [Poemas], p. 75), ou como está no hino 298 do Hinário da Ciência Cristã: “Sentes de Deus o poder”?
Durante o seminário bíblico, descobrimos que a palavra hebraica “dabar” está traduzida no Antigo Testamento primeiramente como “palavra”, mas também como “açōes” e “coisas”, o que transmite a convicção dos antigos israelitas de que a palavra imediatamente causa açāo. Como diz o Salmista: “Os céus por sua palavra se fizeram... Pois ele falou, e tudo se fez” (Salmos 33: 6,9). Em outras palavras, o “poder da Palavra” significa que não existe nenhuma separação entre a palavra e a ação de alguém, entre causa e efeito, entre oração e cura.
Fiquei convencido da verdade dessas idéias
Contudo, eu ainda usava muletas depois do seminário. Desanimado, liguei para uma Praticista da Ciência Cristã que estivera orando comigo para me ajudar a reconhecer meu relacionamento inquebrantável com Deus.
Quando ela falou comigo sobre o amor incondicional de Deus, lembrei-me de que o mesmo Deus que dividira o mar para o povo hebreu há milênios, também dividia, naquele instante, o mar do medo, da dúvida e do desânimo para mim. Esse foi um momento decisivo. Senti o poder da Palavra. Depois do culto na igreja naquela semana, dei meus primeiros passos sem as muletas. Logo depois, esquiava na água e liderava expedições arqueológicas com total liberdade.
Embora estivesse imensamente grato por conseguir andar de novo, estava ainda mais grato pelas lições que aprendera com aquela cura. Ela me ajudou a seguir em frente, sem me preocupar se os fatos históricos são verdadeiros ou não, e a provar em minha própria vida a verdade sanadora que a Bíblia contém, não a verdade das ruímas arqueológicas, mas a verdade que liberta.
À medida que me incumbo das atividades diárias, começo a testemunhar as inúmeras manifestações da bondade de Deus que me cercam, quer seja o sorriso de um amigo, a beleza da natureza ou dezenas de outras pequenas coisas, porém significativas.
Recentemente, aprendi com as parábolas de Jesus e com a literatura de sabedoria dos antigos israelitas, que Deus está presente não somente nos momentos dramáticos de se abandonar muletas, mas também nos momentos mais comuns, como caminhar até o trabalho ou pôr o lixo fora de casa.
O sagrado pode ser vivenciado nos acontecimentos comuns da nossa vida
Comparando o reino de Deus às atividades diárias do tempo de Jesus, tais como: assar o pão ou semear o campo, o Mestre mostrou em suas parábolas que Deus não está isolado no Santo dos Santos ou em alguma experiência de topo de montanha; ao contrário, o sagrado pode ser vivenciado nos acontecimentos normais da nossa vida.
Para mim, essa percepção tem sido um lembrete útil para deixar de correr de um lado para o outro, preocupado com as coisas que precisam ser feitas. Em vez disso, à medida que me incumbo das atividades diárias, começo a testemunhar as inúmeras manifestações da bondade de Deus que me cercam, quer seja o sorriso de um amigo, a beleza da natureza ou dezenas de outras coisas pequenas, porém significativas.
Embora, de vez em quando, eu ainda perceba que estou estressado devido à lista de coisas para fazer, aprendo cada vez mais a viver no agora da presença de Deus, a refletir o Deus que não é chamado por “Eu era” ou “Eu serei”, mas de “EU SOU”.
A diversidade de idéias percebidas na Bíblia também me conduz ao arrependimento, ou seja, a mudar minha maneira de pensar e de agir. Costumava dizer: “A Bíblia diz...”, e então declarava qualquer citação que justificasse minha agenda. Contudo, a própria Bíblia apresenta muitas perspectivas de diálogo, inferindo que cada voz tem algo vital a contribuir.
Esse modelo bíblico tem me encorajado a enfocar reuniões, por exemplo, não como oportunidades de vencer argumentos, mas, ao contrário, como oportunidades de ouvir e aprender, a partir do ponto de vista dos outros. Passo a passo, compreendo que devo deixar que a Bíblia transforme meu ponto de vista, ao invés de adequá-lo à Bíblia. É nesses momentos que sinto realmente o poder da Palavra.
