No capítulo 20, João relata três acontecimentos ocorridos em momentos diferentes, todos referentes à ressurreição de Jesus. O primeiro deles foi em um domingo “...de madrugada, sendo ainda escuro...” (v. 1), quando Maria Madalena foi ao sepulcro “...e viu que a pedra estava revolvida” (Ibidem).
É interessante comparar esse versículo com os dos outros evangelistas, pois Mateus diz no capítulo 28:1: “...ao entrar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro”. Em Marcos 16:1, lemos: “Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para irem embalsamá-lo”. Em Lucas 23:55, a descrição já é bem diferente: “As mulheres que tinham vindo da Galiléia com Jesus...”. A surpresa de Madalena fez com que ela corresse para dar a notícia a Simão Pedro e ao discípulo “...a quem Jesus amava...” (João v.2), dizendo-lhes: “Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram” (Ibidem). O uso do verbo no plural aqui mostra-nos que, de fato, ela fora até o túmulo acompanhada de outras mulheres. Nem Maria, nem os discípulos esperavam a ressurreição.
Joāo nāo cita aqui seu próprio nome, mas no capítulo 21:24 declara: “Este é o discípulo que dá testemunho a respeito destas cousas e que as escreveu...”.
O relato continua e diz que, após ouvir a notícia dada por Madalena, os dois discípulos correram, mas “...o outro discípulo correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro” (v. 4), viu os lençóis de linho, mas não entrou (ver v. 5). Pedro entrou e “...viu os lençóis, e o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus, e que não estava com os lençóis, mas deixado num lugar à parte” (v. 6, 7), detalhe importante, pois significa que Jesus não teve pressa, mas tranqüilidade ao sair da ilusão de morte para a vida. Até mesmo nesse momento, ele expressou qualidades de ordem e disciplina, que provêm do Princípio, Deus. Então, para que ter pressa, se Jesus já provou que a matéria se submete ao Espírito?
No versículo 8, lemos que o outro discípulo entrou, “...viu, e creu”. Talvez o autor queira dizer que ele acreditou na ressurreição antes que Pedro, fato que faz lembrar o que Mary Baker Eddy escreveu: “O que será que parece interpor-se como uma pedra entre nós e a manhã da ressureiçāo? É a crença de que haja mente na matéria [de que haja veracidade no erro]. Só podemos chegar à ressurreição espiritual, quando abandonarmos a antiga consciência de que a Alma está nos sentidos” (Miscellaneous Writings 1883-1896, p. 179). Mary Baker Eddy também escreveu: “As Escrituras dizem: 'Bem-aventurados os que não viram e creram'. A fé salvadora não vem de uma pessoa, mas da presença e do poder da Verdade” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo Científico e Vários Escritos], p. 118).
O versículo 9 diz que os discípulos ainda não tinham compreendido a Escritura, pois seria necessário que Jesus tivesse ressuscitado. Esse versículo sugere que a compreensão de João não se deveu ao conhecimento dos livros dos Profetas, mas pela própria experiência dele ao ver o túmulo vazio. Mary Baker Eddy escreveu em Ciência e Saúde que “a crença material é lenta em reconhecer o que o fato espiritual dá a entender” (p. 20). Parece-nos que isso explica a demora dos discípulos em compreender o que havia sucedido, embora tivessem sido prevenidos pelo Mestre.
Os discípulos voltaram para casa, aos seus afazeres habituais. Mas o que aconteceu com Maria Madalena? Ela ficou chorando à entrada do túmulo e, olhando para dentro dele (ver v. 11), “...viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde o corpo de Jesus fora posto, um à cabeceira, e outro aos pés” (v. 12). Os anjos sinalizavam o local onde estivera o corpo.
Mary Baker Eddy fez esta referência a anjos em Ciência e Saúde: “Meus anjos são pensamentos sublimes, que aparecem à porta de algum sepulcro no qual a crença humana tenha enterrado suas mais caras esperanças terrenas” (p. 299). Esse trecho talvez explique o fato de Jesus ter chamado Maria pelo seu nome, quando ela o viu no sepulcro e não o reconheceu: “Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, lhe disse, em hebraico: Rabôni (que quer dizer Mestre)” (v. 16). No capítulo 10, João escreveu: “...o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora” (v. 3). Certamente, Maria era uma das ovelhas que o Mestre queria tirar para fora da crença na morte.
Em seguida, Jesus pede a Maria: “Não me detenhas...” (v. 17). É como se ele lhe dissesse: “Não posso esperar pelas demonstrações humanas de carinho e alegria, porque antes tenho de subir para o Pai”. E continua: “...vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus” (Ibidem).
O comentarista J. Ramsey Michaels, autor do volume dedicado ao Evangelho de João, do Novo Comentário Bíblico Contemporâneo, lembra que, a princípio, Jesus chamou os doze escolhidos de discípulos (ver João 8:31); depois, de servos (ver João 12:26). Em João 13:33, o Mestre os chama de filhinhos; em seguida, de amigos (ver João 15:14) e agora, após a ressurreição, de irmãos (ver João 20:17). Essa gradação talvez exprima o conceito de progresso no desenvolvimento espiritual dos discípulos.
Bibliografia:
Bíblia de Estudo de Genebra, 2004, Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, SP, Brasil; Bíblia de Estudo Almeida, 1999, Sociedade Bíblica do Brasil; Comentário Exegético y Explicativo de la Bíblia, R.Jamieson, A.R.Fausset e D.Brown, octava edición, 1981, Casa Bautista de Publicaciones, impresso nos EUA; Novo Comentário Bíblico Contemporâneo — João, Baseado na Edição Contemporânea de Almeida, 1994, Editora Vida, Deer Field, Flórida, EUA; Nuevo Comentário Bíblico, Tito Fafasuli, Abdias Mora, Federico Mariotti y J.T.Poe, 1981, Editores da la Edición espanola, Casa Bautista de Publicaciones, impresso nos EUA.
