Desde o versículo 28 do capítulo 18 até o final do capítulo 19 decorre o julgamento de Jesus e sua crucificação. Nesse cenário de julgamento, duas posturas são identificadas: a de Pilatos para inocentar Jesus e a dos judeus para condená-lo.
Pilatos tinha todo o poder da lei para libertar Jesus, porém o temor em desagradar as autoridades constituídas, somado ao receio de perder seu cargo de governador, fez com que ele não utilizasse a reta justiça. Afinal, durante seu governo haviam ocorrido tumultos originados pela sua forma rígida e severa de governar, o que estremeceu as boas relações com o imperador romano. Dessa forma, Pilatos evitava situações desagradáveis que chegassem aos ouvidos do imperador.
O objetivo dos sacerdotes judeus era não colocar em risco seu poder religioso. Travou-se um embate entre o poder político de Pilatos e o poder religioso dos sacerdotes judeus. Porque estavam sob o domínio de Roma, apenas o governador romano tinha a prerrogativa de condenar alguém à morte.
“És tu o rei dos judeus?” (João 18:33). Essa pergunta deixa claro que os judeus já haviam relatado o caso a Pilatos antes que ele começasse a interrogar Jesus.
Jesus não era rei dos judeus no sentido político, mas no sentido messiânico. O diálogo estabelecido entre Jesus e Pilatos esclarece a verdadeira natureza da realeza de Jesus e enfatiza sua relevância permanente.
Pilatos não vê crime algum em Jesus e, embora pensasse em soltálo, os judeus o ameaçaram com as seguintes palavras: “...Se soltas a este, não és amigo de César; todo aquele que se faz rei é contra César” (19:12). “Amigo de César” era um título que identificava os apoiadores políticos do imperador. Os judeus ameaçaram Pilatos com a sugestão de que ele seria considerado traidor de Roma, se soltasse alguém que se dizia rei. Então, Pilatos entregou Jesus para ser crucificado (ver 19:16). Chega ao fim a batalha travada entre a postura frágil de Pilatos e a intimidativa das autoridades judaicas.
Pilatos escarnece dos judeus, agora por escrito, de modo cerimonioso, em três línguas, para que o mundo todo pudesse ler, quando escreve no cimo da cruz: “...Jesus Nazareno, o rei dos judeus” (19:19). Na seqüência, os “...principais sacerdotes diziam a Pilatos: Não escrevas: Rei dos judeus, e sim que ele disse: Sou o rei dos judeus” (19:21). Pilatos havia perdido a questão substantiva em debate, mas ganhou a guerra de nervos. Ele fez pouco caso da reverência judaica quando negou o pedido dos judeus com a resposta: “...O que escrevi escrevi” (19:22).
Podemos observar o cumprimento das Escrituras proféticas em todos os aspectos da crucificação de Jesus, em particular, este que consta de Salmos: “Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes” 20:18). Na época, as roupas de um homem executado pertenciam de direito aos seus carrascos. No caso de Jesus, os soldados repartiram as vestes do Mestre e lançaram sorte sobre sua túnica.
Em João 19:30, Jesus entrega sua vida. O vinagre citado no versículo 29, não é o que conhecemos hoje, mas sim uma bebida usada pelos soldados romanos. Após tomar tal vinagre, Jesus disse: “Está consumado!” (19:30). O tempo verbal em grego indica que a obra de redenção foi consumada de uma vez por todas e que seus resultados são permanentes.
De acordo com a lei judaica, um corpo não podia ficar exposto em um poste depois que o sol se punha. Isso seria especialmente ofensivo em um sábado. Por isso, em João 19:31, os judeus pediram aos soldados romanos que as pernas dos homens fossem quebradas e seus corpos retirados da cruz. Quando as pernas eram quebradas, as vítimas não podiam mais aliviar a tensão em seus braços e no tórax, o que causava uma contração maior no tórax e apressava a morte. Os soldados quebraram as pernas dos dois outros homens crucificados, mas não as de Jesus, pois viram que ele já estava morto (ver 19:33). Mais uma vez cumprem-se as Escrituras: “Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer será quebrado” (Salmos 34:20).
Pilatos tinha todo o poder da lei para libertar Jesus, porém o temor em desagradar as autoridades constituídas, somado ao receio de perder seu cargo de governador, fez com que ele não utilizasse a reta justiça.
O sepultamento de Jesus mostra a participação de José de Arimatéia e Nicodemos, membros do Sinédrio. Aparentemente, sem que ninguém soubesse, eles tinham se tornado discípulos de Jesus. A atuação deles se encontra registrada em João 19:38-42. Graças a Nicodemos e José de Arimatéia, o corpo de Jesus não foi atirado em uma vala comum, destinada a criminosos, mas teve um sepultamento de honra. Ele foi depositado em um sepulcro novo, no qual ninguém havia sido posto, perto do lugar da execução e facilmente identificável.
Bibliografia:
Bíblia de Estudo Plenitude, João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Atualizada, 2005, Sociedade Bíblica do Brasil; Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy, 1990, The Christian Science Publishing Society, Boston, MA, EUA; Novo Comentário Bíblico Contemporãneo - João, J. Ramsey Michael, 1994, Editora Vida, Florida, EUA; João, Introdução e Comentário, F.F. Bruce; Meditações no Evangelho de João, J. C. Ryle. Novo Dicionário da Bíblia, vol. II, Editor organizador J.D. Douglas, M.A., B.D., S.T.M., PhD, 4a edição em português, 1981.