Segundo a Bíblia, Deus criou a natureza antes de criar o homem. O versículo 26 do primeiro capítulo do Gênesis revela o princípio que sustenta e mantém a natureza e o homem integrados e em perfeito equilíbrio: o domínio. A Ciência Cristã abre o entendimento espiritual dessa criação divina, que é espiritual, pois é derivada do Espírito, que lançou o imperativo: "...Haja luz..." (Gênesis 1:3). Portanto, é natural que, sob essa luz gloriosa, seja expandido nosso conceito da graça divina.
Uma das significações de domínio inclui um dominador e um dominado, fato que não é bem-vindo dentro da ótica da preservação ambiental e do uso racional dos recursos naturais. Mas, no mundo globalizado que faz uso da Internet, a palavra domínio ganhou o significado de espaço alocado, ou seja, um lugar específico que confere identidade, concedido a uma pessoa ou instituição. Na Internet, o domínio é alocado em algum provedor que lhe concede espaço e identidade, a partir dos quais ele poderá existir e atuar no contexto local ou global. Assim, por analogia, podemos reconhecer que a dádiva divina da supremacia, em relação à natureza e à humanidade, está abrigada no único Provedor e Criador, de quem emana toda sabedoria e ordem. Sob essa ótica elevada, a Ciência Cristã revela que o domínio é eterno, imortal, agrega valor e garante efetividade na sua utilização, a partir de qualidades como: amor, preservação, cuidados sociais e uso racional dos recursos naturais. Dessa forma, o domínio é um atributo divino, primordial à questão ambiental e à governabilidade dos povos.
No Brasil há um plano ambiental, bem como órgãos governamentais para colocá-lo em ação e manter a fiscalização adequada em todo o território nacional. Entretanto, devido às suas dimensões continentais, essa tarefa tem sido um grande desafio.
Recentemente, cidades do estado de Santa Catarina sofreram uma catástrofe após intensas chuvas que provocaram enchentes e avalanches de terra de morros inteiros. As consequências para a população foram calamitosas. Esse cenário leva a questionar até que ponto existe parceria da sociedade e do governo com a planificação ambiental. Como ampliar o escopo social das políticas públicas para que possam dar melhor assistência às pessoas alojadas em áreas de risco? Mary Baker Eddy escreveu que "cada indivíduo tem de ocupar seu próprio nicho no tempo e na eternidade" (Retrospecção e Introspecção, p. 70). Para mim, tal nicho tem a ver também com o papel que cada cidadão e gestores públicos exercem na comunidade para promover soluções inteligentes para todos.
No Brasil, o empenho pela ordem está evidenciado na frase da bandeira brasileira "Ordem e Progresso", para que seja constantemente lembrado e reivindicado. A ordem estabelecida na sabedoria divina fará a diferença em relação a priorizar a segurança e o bemestar social, e irá revelar ideias e autoridade divina para o fim da especulação imobiliária e do descaso com o povoamento desordenado de morros e encostas.
O meio ambiente tem sido muito agredido pela voracidade do consumismo desenfreado, que explora os recursos naturais sem atentar para sua continuidade.
A natureza, como parte da criação divina, expressa a grandeza de Deus. A Ciência Cristã revela que o homem e a natureza podem viver em perfeita harmonia e equilíbrio, pois ambos emanam da mesma fonte divina. Essa relação de irmandade é bem clara nos povos indígenas. Um cacique Kaingang disse em certo fórum de espiritualidade que, quando o índio acorda, agradece a Deus pelo Sol e pelas árvores, com os quais mantém um sentimento de profunda irmandade.
Entretanto, em muitos locais fora do ambiente indígena, o meio ambiente tem sido muito agredido pela voracidade do consumismo desenfreado, que explora os recursos naturais sem atentar para sua continuidade. A lógica divina pode atuar de modo a viabilizar o uso de fontes alternativas e renováveis de energia, como a solar, a eólica, a do biodiesel e a do hidrogênio. Esses novos paradigmas energéticos são evidências da sabedoria e bondade de Deus, que abraça a humanidade com soluções inspiradas e inovadoras, e fornece esperança de um futuro melhor para a natureza e o homem
No Rio Grande do Sul, uma experiência acadêmica me chamou a atenção. Um professor universitário conseguiu um financiamento para comprar um gerador de energia a hidrogênio importado. Ao invés de usá-lo dentro de um laboratório, ele teve a idéia de instalá-lo em uma pequena ilha, perto da capital. Com a instalação do gerador a hidrogênio, a luz elétrica chegou naquele lugarejo, e o melhor, como resultado do processo de geração de energia limpa, o aparelho produzia água potável, algo que ainda não havia naquela ilha. O uso da inteligência divina é uma dádiva universal aplicável no uso racional das fontes de energia renováveis que promovem a preservação ambiental.
Os recentes acontecimentos no Brasil que envolveram inundações em muitas áreas me fizeram lembrar de uma época da minha infância, quando morava próximo de um arroio. Sempre que chovia um pouco mais forte, a inundação era iminente. Na época, minha família estava começando a estudar a Ciência Cristã e, ainda crianças, minha irmã e eu éramos orientados a orar por proteção divina enquanto meus pais se ocupavam em evitar que a água entrasse dentro de casa. Lembro-me de que a água vinha com força suficiente para derrubar muros de concreto. Contudo, a oração abençoava nossa família e a comunidade. A água não passava do limiar da escada da porta de entrada de nossa casa. Ao pensar nessa experiência, meu coração se enche de gratidão a Deus por Sua atenção e cuidado e pela Ciência Cristã, que ensina a confiar em Deus em todas as ocasiões. A lei do Amor infinito inclui a todos. É uma prerrogativa de liberdade recorrermos ao auxílio de Deus para resolver situações, não importa quão dramáticas sejam. O poder de Deus não tem limitação de aplicabilidade na manutenção da harmonia e na execução do plano e propósito do bem para cada um de seus filhos. A saúde, a paz e o morar em um local seguro estão incluídos nesse plano divino, eterno e universal.
É uma prerrogativa de liberdade recorrermos ao auxílio de Deus para resolver situações, não importa quão dramáticas sejam. O poder de Deus não tem limites.
Outra experiência com problemas de inundação, em que a oração foi determinante, aconteceu em Porto Alegre, Cidade onde moro e onde está a igreja da Ciência Cristã da qual sou membro. O bairro onde está a igreja era conhecido pelas inundações frequentes. Certa vez, após uma forte chuva, estava complicado chegar a pé até a igreja, pois havia muita água corrente nas ruas. Então, lembrei-me da experiência em que Jesus caminhou sobre as águas. Orei em busca de sabedoria para encontrar os melhores locais para atravessar as ruas inundadas. Eu era o Primeiro Leitor da igreja e também orei para compreender que Deus estava no controle de tudo e que as pessoas que viessem para a reunião de testemunhos de cura seriam igualmente guiadas pela direção divina.
A reunião ocorreu normalmente, trouxe bênçãos e tivemos belos testemunhos. Um deles era sobre os primórdios da igreja, quando os alunos precisavam caminhar algumas quadras para chegar à Escola Dominical. O testemunhante agradeceu a proteção divina e disse que, durante aquele tempo, não se lembrava de um domingo em que tivesse chovido a ponto de atrapalhar a caminhada dos pais, jovens, crianças e professores até a igreja.
A oração diligente dos membros para manter a ordem e a frequência nos cultos em todas as situações contribuiu para que o problema de inundações fosse resolvido. Reformas na tubulação pluvial e de esgoto para o bairro foram aprovadas. Apesar de essas reformas terem levado anos para serem concluídas, o problema foi resolvido. Todas as orações foram atendidas.
O Cristo, a manifestação de Deus, está presente mesmo em momentos de extrema necessidade, como o caso das enchentes e desabamentos ocorridos em Santa Catarina e, recentemente, em Minas Gerais. O efeito consolador do Cristo se expressa também pela solidariedade dos voluntários em campanhas de ajuda humanitária. É dessa mesma fonte divina que vêm a proteção e a imunidade que mantêm a população livre de doenças endêmicas. Toda energia e força de reconstrução, individual e coletiva, tem sua fonte no Amor divino, que cura, consola, restaura e renova. A Ciência Cristã revela que toda a criação de Deus inclui um plano e um propósito sagrados, com saúde, bem-estar e estabilidade. O Princípio divino está sempre presente, conforme Mary Baker Eddy escreveu: "...esse Princípio está à altura de qualquer emergência, oferecendo plena salvação do pecado, da doença e da morte" [Ciência e Saúde, p. 406].
Ao estabelecer o senso de domínio em uma base espiritual e divina, organiza-se a ocupação desordenada dos espaços e o uso racional dos recursos naturais.
De acordo com o legado espiritual de inteireza e harmonia, cada filho de Deus já possui um lugar seguro para morar, e pode ocupar sabiamente seu nicho sem se instalar em áreas de risco nem desrespeitar a natureza em prol da especulação imobiliária. Pela oração, todos podemos usar o bom senso e a sabedoria no trato com a natureza e agir de forma que abençoe a todos igualmente. Assim, construiremos alicerces mentais inabaláveis, estabelecidos sobre a Rocha da compreensão do Cristo, conforme Jesus indicou no Sermão do Monte: “...aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha” (Mateus 7:24, 25).
Oremos pela humanidade, reconhecendo que, pela dádiva do domínio espiritual, todos podemos demonstrar um local seguro para morar e viver em plena harmonia, respeito e cuidado com a natureza, de forma que as futuras gerações também possam desfrutar da beleza e plenitude da criação divina.
