da edição radiofônica do Christian Science Sentinel, recentemente entrevistou Karen Gould, uma professora de Derbyshire, Inglaterra. Karen tem lecionado em inúmeras escolas urbanas. Profundamente dedicada ao seu trabalho, ela ama o que faz, como também aos seus alunos. Ela está convencida de que a oração, momento-a-momento, para ver a si mesma e a cada aluno juntos na presença de Deus tem trazido a alegria e o progresso que ela tem sentido e visto na sala de aula. O que segue são excertos dessa entrevista.
Rita Polatin: Em primeiro lugar, o que é que a fez tornar-se professora?
Karen Gould: Bem, tenho de voltar no tempo. Quando estava mais ou menos com sete anos, comecei a ter aulas com instrumentos musicais. Ao mesmo tempo, minha classe na escola nos dava liberdade para fazer um projeto sobre qualquer tópico. Escolhi Beethoven.
RP: Você gosta de música?
KG: Amo música, desde aquelas primeiras notas que toquei e me lembro de ter pensado: “Vou ser uma professora de música quando crescer”. Sabia que nunca iria iluminar o mundo como uma instrumentista solo, mas sempre desejei compartilhar meu profundo amor pela música.
RP: A partir daí, o que você fez?
KG: Quando estava com 11 anos, o diretor da escola em que estudava aconselhou minha mãe a não gastar dinheiro com minha educação, e disse: “Ela talvez consiga trabalhar em uma loja ou em alguma posição inferior, mas nunca realizará nada”. Veja você, meus pais haviam abandonado a escola aos 14 anos e desejavam muito que eu me saísse bem nos estudos. Minha mãe, como Cientista Cristã, com certeza orou a esse respeito.
Naquela ocasião, todas as crianças na Inglaterra tinham de se submeter a um exame com a idade de 11 anos. Se aprovadas, ingressavam na escola de gramática para crianças brilhantes. Se não, iam para a Escola Secundária Moderna. Lembro-me de que, quando tive de fazer o exame, conversei com minha professora da Escola Dominical e ela compartilhou pensamentos úteis a respeito de como orar. Eu estava acostumada a orar e já havia obtido curas de dores de ouvido e doenças infantis com as orações de minha mãe e de praticistas da Ciência Cristã.
Mesmo com 11 anos, lembro-me de obter a noção de que a inteligência estava ali à mão, vinda de Deus para mim. Ela não era limitada.
Contudo, orar a respeito de inteligência era algo sobre o qual nunca havia pensado que poderia fazer. Era uma coisa muito particular. Lembro-me de levar o livro Ciência e Saúde e uma lanterna para a cama comigo à noite, e procurar ideias sobre inteligência. Um parágrafo dizia: “Inteligência é onisciência, onipresença e onipotência” (p. 469). Mesmo com 11 anos, lembro-me de obter a noção de que a inteligência estava ali à mão, vinda de Deus para mim. Ela não era limitada.
Recordo-me também que comecei a me sair melhor nos estudos. Naquela ocasião, estava na Escola Moderna Secundária e cheguei ao topo nas aulas. Contudo, precisava orar constantemente para obter boas notas e precisei de um ano extra no ensino médio antes de ir para a universidade. Depois de me formar em música, tirei o certificado de pós-graduação em educação, que é a qualificação necessária na Inglaterra para lecionar. Finalmente conseguira realizar meu sonho de ser uma professora de música no ensino médio.
Não teria chegado lá sem o apoio de minha mãe, dos professores da Escola Dominical e das orações dos praticistas da Ciência Cristã, bem como de minhas próprias, simples, orações quando criança e jovem adulta.
RP: O que você aprendeu nesses anos todos de oração e estudo que realmente ajudaria alguém com dificuldade com seus filhos?
KG: Ao longo do caminho que tive de percorrer, orando durante meu período na escola e minha experiência como professora, aprendi muito sobre a maneira como as crianças obtêm êxito. Quando era uma professora novata, designaram-me uma classe de inglês, além das minhas aulas de música. Portanto, não estava sequer lecionando dentro da minha especialidade. Era uma classe de alunos com 16 anos, talvez uns 26 deles, no nível mais baixo de capacidade, em uma das áreas mais problemáticas da cidade.
Comecei com pouquíssimo controle e as coisas começaram a desandar a partir daí. A sala de aula ficava no topo de três lances de escadas e, à medida que subia, podia ouvir o barulho que vinha da classe. Cada dia parecia pior que o anterior. Também, ficava mais assustada, à medida que eles ficavam cada vez mais indisciplinados. Um dia, eles chegaram a me cumprimentar atirando uma cadeira sobre o corrimão da escada. Lembro-me de parar e ficar completamente calma ali mesmo na escada, buscando a Deus de uma forma que nunca havia feito antes. Orei: “Querido Pai, por favor, me ajude”! Tudo parecia tão fora de controle!
Imediatamente o medo me deixou. Tive uma sensação real de que não estava sozinha, de que Deus estava exatamente ali comigo. Quando me aproximei da sala de aula, uma frase de Ciência e Saúde me veio ao pensamento: “ 'Onde está o Espirito do Senhor, ai há liberdade' ”. Aqui Mary Baker Eddy cita a Bíblia. Ela continua, dizendo: “Tal como os sumos sacerdotes de outrora, o homem está livre 'para entrar no Santo dos Santos'—o reino de Deus” (p. 481). Junto com essa sentença me veio também a compreensão surpreendente de que eu não entrava em uma sala de aula cheia de jovens indisciplinados, mas que realmente entrava no “reino de Deus”. Com essa compreensão me veio outra ideia, ainda mais surpreendente, a de que dentro desse reino, o único filho presente era a expressão de Deus. Tinha aprendido havia alguns anos, na Escola Dominical, que o homem é o filho de Deus. Contudo, ver esses jovens como filhos de Deus foi uma experiência nova para mim.
RP: Porque ninguém, homem, mulher nem criança, é deixado do lado de fora.
KG: Ninguém é deixado de fora. Entrar naquela sala e ver cada um deles como o filho de Deus era algo inteiramente novo para mim. Compreendi também que não tinha de impor meu controle, mas que juntos estávamos na presença de Deus, sob Seu controle. Foi maravilhoso!
RP: Bem, o que aconteceu depois?
KG: Eles todos se sentaram! O texto que eu teria de ensinar era “Of Mice and Men” (Ratos e Homens), de John Steinbeck. Eu ainda não o havia ensinado antes, mas consegui ler para eles e acompanharam a leitura com seus textos individualmente. Analisamos os personagens juntos. Não posso expressar com palavras a mudança que aquilo representou. Acabamos o livro e fizemos todas as coisas que precisávamos fazer.
Ao longo de toda essa experiência, aprendi a ver cada sala de aula como “o reino de Deus”. Isso permanece comigo desde aquela época, há 21 anos. Ver a sala de aula como o reino de Deus faz dela um lugar muito especial de se estar, porque como você mencionou, ninguém é deixado de fora. Não existe nenhum aluno indisciplinado ou fracassado. Existe somente o filho de Deus.
Contudo, nem sempre foi um mar de rosas depois desse episódio. Quando você ensina em escolas problemáticas, em comunidades com sérios desafios, como eu sempre tive de ensinar, haverá sempre jovens com dificuldades que, como resultado, se tornam perturbadores e provocadores. Realmente, acho importante que um profundo amor e um respeito mútuo existam na sala de aula e que os alunos compreendam seus limites. Tenho padrões elevados e expectativas muito altas dos quais não me desvio. Consequentemente, os alunos acabam compreendendo o que espero deles em minhas classes.
RP: O que você faz diariamente?
KG: Tem havido inúmeras ocasiões em que me defronto com situações de indisciplina. Não é fora do comum, adolescentes passarem dos limites. Contudo, eles se espelham em seu comportamento. Portanto, se você elevar sua voz, eles também o fazem e, muito rapidamente, o volume se eleva, a tensão aumenta e a disciplina e o respeito desaparecem. Há um versículo bíblico que simplesmente amo, em que Moisés conversa com os israelitas: "...Não temais; aquietai-vos e vede o livramento do Senhor que, hoje, vos fará..." (Êxodo 14:13). Aprendi que quando existe a necessidade de ter mais controle, mais disciplina, mais respeito, a solução é ficar literalmente quieta e esperar em Deus, ou seja, reconhecer a presença dEle na sala. Faço isso diariamente. No começo de cada aula, ao invés de elevar minha voz ou pedir silêncio, fico parada. Tive um aluno que me perguntou: "O que a senhora está fazendo"? "Estou esperando", respondi. Eles talvez pensem que estou esperando que eles fiquem quietos, mas estou esperando em Deus.
No começo de cada aula, ao invés de elevar minha voz ou pedir silêncio, fico parada. Tive um aluno que me perguntou: "O que a senhora está fazendo"? "Estou esperando", respondi. Eles talvez pensem que estou esperando que eles fiquem quietos, mas estou esperando em Deus.
RP: O volver constante a Deus me faz pensar em orar "sem cessar", como Paulo menciona na Bíblia.
KG: Não poderia fazer o que faço sem isso. Realmente não poderia. Não sou naturalmente uma pessoa confiante ou disciplinadora, ao contrário, na verdade sou tímida. Não recebi instrução especial em psicologia infantil ou gestão de comportamento. Entretanto, tenho recorrido à oração a cada dia ao longo de minha carreira, em algumas escolas muito problemáticas, com alunos considerados difíceis.
RP: Gostei do que você disse, que se sua sala de aula ou escola é o reino de Deus, as crianças pertencem a Ele. Então, não existe ninguém a não ser Deus e Sua bondade, com o qual você tenha de lidar?
KG: Não, não há, e com essa verdade, vêm oportunidades maravilhosas de ver cada um como o filho de Deus, particularmente quando uma criança é muito perturbada pelos problemas com os quais lida em casa, ou no convívio com outros, incluindo questões relacionadas com drogas, e todo tipo de coisas com as quais os professores se confrontam diariamente. Ao ver o jovem como a expressão de Deus, percebo oportunidades que me permitem conversar com ele.
RP: Sei que isso pode ser desafiador. Você alguma vez teve de enfrentar um jovem irritado ou provocador?
KG: Sim, uma criança tem sido extremamente provocadora em uma de minhas aulas de música. Além disso, em meu outro papel, como líder do ano de uma determinada classe, lido com alguns problemas graves de comportamento. Algumas são crianças muito brilhantes, mas levam uma vida social muito ativa e perigosa.
RP: O que você fez?
KG: Recentemente, vinha recebendo relatórios de vários professores sobre um jovem que não estava se comportando apropriadamente. Quando estava a caminho da minha aula, vi-o por acaso; portanto, perguntei-lhe se podia conversar com ele. Fomos a uma pequena sala para ter mais privacidade e não embaraçà-lo diante de seus colegas. Comecei dizendo: "Posso perguntar-lhe o que está acontecendo"? Ele de repente ficou muito irritado, cerrando os punhos e com o rosto muito vermelho. Eu estava num espaço pequeno e ele se levantou contra mim. começou a dar socos no ar com os punhos, muito próximo do meu rosto, realmente podia até sentir o movimento do ar. Por uma fração de segundo, achei que ele fosse me bater. Fechei os olhos e me volvi a Deus para ver que, como o rapaz era o filho de Deus, não iria me ferir. Sabia, bem lá no fundo, que o cenário de um jovem completamente fora de controle não era a verdade sobre ele. Abri meus olhos e disse calmamente: "Essa não é a maneira como você deseja se comportar. Este não é você. Esse não é o tipo de relacionamento que temos. Não faça isso".
Então ele se sentou, colocou a cabeça em suas mãos e começou a chorar. Abri a porta para que as pessoas no escritório ao lado pudessem ver o que eu fazia. Coloquei minha mão em seu ombro e o consolei. Ele soluçava. Liguei para a mãe dele. Fiquei sabendo que ele havia saído com amigos na noite anterior e que havia bebido muito. Ele também havia consumido drogas, e a mistura produziu um efeito terrível. Contudo, foi como se ele tivesse tido um chamado para despertar. Depois disso, recebi relatórios mais positivos. Nem sempre cooperava cem por cento, pois estava com 16 anos e desejava independência. Entretanto, nunca mais foi rude ou agressivo. Terminou a escola em dois meses e saiu-se bem.
Para mim, a solução para situações como essa é permanecer calma; ter aquele senso da presença de Deus exatamente ali com você e com eles, quando tudo parece estar tumultuado ao redor. Então, a calma sobrevém na sala de aula. É como assistir a Deus assumindo o controle. É isso o que realmente acontece.
RP: E isso é tão bom! Porque sem padrões, as crianças não são estimuladas a vencer. Como você as ajuda a alcançar seu pleno potencial?
KG: Bem, duas coisas. Novamente, tento permanecer focada no fato de que cada um é o filho de Deus. Portanto, sei que fundamentalmente elas podem ter êxito. Esse é o fundamento. Contudo, em nível prático, minha própria experiência anterior como uma criança que fracassava pode ser muito útil. Algumas vezes, elas olham para o professor e pensam: "Ora, como você pode compreender? Você é professor. Você foi para a universidade. Você deve ser rico". Então, posso também falar com elas a partir da minha experiência pessoal.
RP: Isso as encoraja?
KG: Acho que sim. Tive meus próprios desafios na escola. Além da luta para ter êxito, não havia muito dinheiro. Tinha dois empregos para ajudar a pagar minhas aulas de violino. Portanto, posso contar isso às crianças e assim nos comunicamos e podemos seguir em frente.
RP: Você diria que os alunos de sua escola continuaram a ser bem sucedidos?
KG: Com professores muito empenhados, nossa escola superou as expectativas. O nível de aprovação do grupo que ensinei naquele ano foi bem superior àquele que as crianças naquela escola esperavam alcançar. Sei que a oração contribuiu para esse resultado.
Para mim, a coisa mais importante foi aprender que posso ficar calma, que posso esperar em Deus. A ideia do salmo de "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus..." (Salmos 46:10), é realmente poderosa. Fala sobre deixar que a presença de Deus tome o controle da sala de aula, por assim dizer. Consequentemente, é sempre isso que faz a diferença!
