Artigo originalmente publicado na edição de julho de 1982 de The Christian Science Journal.
O padrão tradicional cristão de prestar assistência aos necessitados está alicerçado na parábola de Jesus sobre o bom samaritano. A mensagem dessa parábola oferece um fundamento teológica para prestar cuidados físicos a alguém necessitado. O intérprete da lei, cujas perguntas induziram Jess a usar o exemplo na parábola, havia resumido o modo de se obter a vida eterna, citando a lei de Moisés: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e amarás o teu próximo como a ti mesmo". Jesus aprovou essa declaração.
Então, em resposta à pergunta do intérprete da lei: "Quem é o meu próximo?" (ver Lucas 10:25-37), o Mestre apresentou a parábola do bom samaritano. Entretanto, pela sua aprovação do resumo que o intéprete da lei havia apresentado, deveria estar claro que a obediência ao segundo mandamento, amar nosso próximo, logicamente exige a obediência ao primeiro, amar a Deus. O ministério cristão de prestar assistência ao próximo assenta na ajuda divina. Por meio do nosso culto a Deus, recebemos o sustento espiritual e obtemos a força necessária para ajudar o outro.
Na criação perfeita de Deus, a harmonia é perpétua. O cuidado de Deus constitui Seu perfeito amor por tudo que Ele criou, provendo o bem infinito. A compreensão espiritual a respeito do Amor divino põe em ação a ajuda humana que está imbuída do poder de Deus.
Toda necessidade de assistência humana é temporária. A verdade fundamental a respeito da plenitude individual e espiritual do homem inclui o fato de que, em realidade, cada um de nós depende somente de Deus, e não uns dos outros. Todos podemos nos volver a Deus em busca de ajuda e recebê-la. Mary Baker Eddy nos alertou: "Ninguém pode salvar-se sem a ajuda de Deus, e Deus ajudará a todo homem que fizer a sua própria parte. Dessa maneira, e de nenhum outro modo, todo homem será auxiliado e abençoado" (Retrospecção e Introspecção, p. 86).
Cristo Jesus amava o seu próximo. Após descrever o cenário simples para a série de lições conhecidas como o Sermão do Monte, Mary Baker Eddy reiterou: "Nessa simplicidade, e com tal fidelidade, vemos Jesus atender às necessidades espirituais de todos os que se colocavam sob seus cuidados, conduzindo-os sempre para a ordem divina, sob a autoridade de sua própria compreensão perfeita" (Ibidem, p. 91). O que Jesus fez por seus semelhantes foi tangível, mas de uma forma diferente, completamente espiritual. Seus esforços atenderam à necessidade humana; aqueles que buscaram sua ajuda foram curados, e os que receberam seus ensinamentos foram salvos. Jesus provou que nossas necessidades são realmente espirituais, não materiais, e que Deus, o Espírito, supre o sustento espiritual para satisfazer completamente à pessoa necessitada. Ele viveu sua própria parábola do bom samaritano.
A espiritualidade de Jesus governava sua vida humana de forma convincente; ela o capacitava a demonstrar a natureza do amor de Deus. Ele ensinou e vivenciou o Cristo. Mesmo em presença da discórdia, ele sabia o que era verdadeiro e, por meio de sua compreensão espiritual, demonstrou a supremacia de Deus, anulando o senso mortal. Essa compreensão provê ainda o cuidado espiritual, exatamente como fez no ministério de Jesus. Essa é a evidência do cuidado de Deus por nós. Nenhuma inadequação, engano ou falha nessa provisão divina. Nenhuma maquinação da crença mortal tem a capacidade de resistir ao Cristo.
O ministério do Mestre, que provia assistência compassiva a todos, incluía a cura, mas essa assistência também se manifestava em seus ensinamentos e pregações. Hoje em dia, as atividades da Igreja de Cristo, Cientista, oferecem esse mesmo ministério completo. Todas as funções da Igreja, estabelecidas por Mary Baker Eddy no Manual de A Igreja Mãe, são atividades que prestam assistência, incluindo as Lições Bíblicas (do Livrete Trimestral da Ciência Cristã), os cultos nas igrejas, as Salas de Leitura da Ciência Cristã, o Curso Primário de Ciência Cristã, as conferências públicas e o trabalho da Sociedade Editora da Ciência Cristã. Recebemos essa assistência, sob uma forma mais individualizada, por meio da ajuda prestada pelos praticistas e enfermeiros da Ciência Cristã.
Prestar assistência ao próximo, como uma expressão do Amor divino, não omite o cuidado apropriado que temos de prestar a nós mesmos, e isso começa com o cuidado minucioso que devemos prestar ao nosso pensamento, o que não é nenhuma tarefa fácil. Cada novo dia assume a forma da açāo que o pensamento nela imprime. Quais os pensamentos que teremos? Que conceitos, a respeito da vida, aceitaremos? Ao começarmos o dia, com oração que inclui o estudo da Bíblia e do livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, de Mary Baker Eddy, obtemos e mantemos a compreensão inspirada de nossa união com Deus. Então, as incumbências que surgem em nosso dia são levadas a cabo com iluminação espiritual e estaremos menos sujeitos a sermos influenciados pelo materialismo.
A compreensão espiritual nos capacita a reconhecer o semprepresente cuidado de Deus, mas essa compreensão exige cultivo. Quando nosso pensamento manifesta pleno preparo espiritual, tudo o que necessitamos a fim de cuidarmos bem de nós mesmos virá de forma natural.
Outro aspecto de prestarmos assistência é o encargo de amar nosso próximo como a nós mesmos. O Apóstolo Paulo considerava os membros da Igreja como um único corpo em Cristo. Ele disse: "...Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros" ( 1 Coríntios 12:24, 25).
A pessoa que solicita os serviços de um Enfermeiro da Ciência Cristã está cuidando de sua necessidade humana a partir de um ponto de vista espiritual. O cuidado físico, suprido em harmonia com a teologia do paciente, sustenta seu crescimento espiritual, enquanto, ao mesmo tempo, apoia o tratamento do praticista. A Enfermagem da Ciência Cristã exige capacidade e experiência advindas de um sólido desenvolvimento espiritual, treinamento completo e dedicação à prática. Os serviços prestados pelo Enfermeiro da Ciência Cristã preenchem a lacuna que há entre o que o paciente necessita que seja feito por ele e o que ele é capaz de fazer por si mesmo, até que ele seja capaz de fazer tudo por si mesmo.
O senso mortal de existência se atém a um conceito diferente a respeito da prestação de cuidados físicos. As emoções e sensações humanas insistem em que a principal necessidade é a mudança ou melhora física, e que os requisitos espirituais são secundários ou mesmo que não podem ajudar na cura, em face da discórdia física. Se alguém se submeter a essas afirmações, essa pessoa se coloca a si mesma sob o domínio da materialidade. Então, os esforços de prestar assistência física ficam cerceados pela mortalidade e a ansiedade exaure seus recursos. Para vivenciar conforto e cura genuínos, ela necessita restabelecer seu trabalho espiritual por meio do culto a Deus.
A demonstração da Ciência Cristã desaloja o conceito mortal, enquanto presta cuidados ao ser humano. A Ciência Cristã tem a autoridade e o poder de efetuar esse desalojamento em todos os casos. Em Rudimentos da Ciência Divina, Mary Baker Eddy escreveu: "A Ciência Cristã apaga da mente dos doentes a crença errônea de que vivem na matéria ou devido a ela, ou de que um pretenso organismo material controla a saúde ou a existência do gênero humano, e induz o repouso em Deus, o Amor divino, que cuida de todas as condições necessárias ao bem-estar do homem" (p. 12). O que verdadeiramente facilita essa açāo sanadora é a prática correta e bem sucedida da prestação de cuidados físicos.
A cura e a restauração espirituais são provisões divinas que não podem ser frustradas pela condição humana ou por reivindicações mortais. Os sintomas físicos são dominados e cedem mediante a expressão da nossa natureza espiritual verdadeira, inspirada por Deus.
Em uma situação em que se faz necessário prolongar a prestação de cuidados físicos, isso não significa necessariamente que esse cuidado apoie uma experiência que não apresenta progresso. Somente a concepção mortal equivocada a respeito da vida alega que certas circunstâncias não são nada mais do que uma situação de prestação de cuidado perpétuo ou que a ajuda da enfermagem não seja suficientemente espiritual para apoiar o progresso e a cura. Até que a família humana progrida para além das situações que exijam cuidados mais prolongados, necessitaremos dominá-las. Cada estágio da situação humana precisa ser colocado sob a autoridade divina.
Quando alguém que conhecemos tem um desafio a ser superado, a atmosfera em torno dessa pessoa deve ser científica: somente o testemunho puro, vigoroso e espiritual deveria ser admitido. Isso é muito mais útil do que nossa curiosidade de saber como alguém está indo ou talvez até mesmo de especular sobre sua idade ou o tipo de doença. A atmosfera pura do pensamento correto e científico sustenta nossas convicções teológicas e é esse o cuidado que devemos prestar uns aos outros.
Os pensamentos que entretemos mos na presença do doente registram nossa própria força espiritual ou fraqueza. Eles contribuem para o nosso progresso consistente ou para a falta dele e expressam a medida da nossa percepção a respeito da ideia de Deus, o homem, ou se somos prestadores de cuidados físicos, segundo o conceito mortal. O objetivo de um prestador de cuidados físicos dedicado é um domínio progressivo sobre a mortalidade, para toda a humanidade.
Não é raro, para aqueles que estão engajados na prática da Ciência Cristã e na prestação de serviços de Enfermagem da Ciência Cristã, lidar com desafios mais profundos na experiência humana. Essas são precisamente as ocasiões em que eles podem ajudar com mais eficácia a satisfazer à necessidade mediante força espiritual demonstrada. Contudo, o instinto humano pode sugerir a possibilidade de que seria conveniente evitar o contato com esses desafios mais profundos. Esse argumento poderia também sugerir que o trabalho do Praticista e o do Enfermeiro da Ciência Cristã se constituem em campos de trabalho sem atrativos.
Afastar-se das exigências mais difíceis ou ficar satisfeito com as habituais preocupações do materialismo talvez possam nos deixar metafisicamente estagnados e pareçam conferir um misterioso poder sobre as dificuldades humanas. A disposição de participar no atendimento dessas exigências difíceis amadurece nossa compreensão com a experiência, e desenvolve nossa capacidade espiritual. Tornamo-nos inspirados a ajudar os outros nas situações humanas mais profundas e difíceis, porque temos a certeza da total irrealidade do mal e a convicção de que a cura é inevitável.
A maior conscientizaçāo possível do verdadeiro poder na vida humana vem mediante a demonstração espiritual e a cura. Tais experiências nos ensinam que a doença e a morte são ameaças vazias. Elas não são possibilidades terríveis capazes de violar nossa teologia. A recompensa que recebemos por ajudar os outros, ou por enfrentar esses desafios nós mesmos, e demonstrar nossa teologia a cada passo do caminho, representa um grande progresso espiritual. Por meio desse crescimento, haverá mais pessoas entre nós que descobrirão o caminho se abrindo para uma carreira como Praticista ou Enfermeiro da Ciência Cristã. Esse tipo de dedicação que se empenha em ampliar conhecimentos espirituais deve tomar forma a fim de podermos promover a Causa da Ciência Cristã.
A existência de instalações apropriadas e da prestação de serviços de Enfermagem da Ciência Cristã não garante o cumprimento de seu propósito espiritual. Essa garantia tem de ser construída individualmente pela própria vida dos Cientistas Cristãos engajados na prática dedicada de sua teologia. A experiência e a compreensão espiritual dos enfermeiros e praticistas da Ciência Cristã, dos pacientes e de toda a equipe, formam a estrutura real de uma instituição de prestação de serviços de enfermagem. Essa é a "força" que fica inabalável na tempestade. Ela sustenta cada um e todos juntos na demonstração progressiva da imortalidade do homem.
Há muito para ser feito com relação ao desenvolvimento espiritual, se pretendermos alcançar a cura cristã para a humanidade em maior escala. Isso pode ser feito e o será. Precisa ser feito em cumprimento dos requisitos divinos. Cada estudante que mantiver diariamente uma prática progressiva da Ciência Cristã estará ajudando a preparar a atmosfera mental que traz mais cura. A consciência humana necessita ter mais expectativa e ser inspirada a se dedicar mais.
O bem-estar humano é tanto uma demonstração individual quanto coletiva. Envolve nossos relacionamentos mútuos, mas realmente assenta no relacionamento do indivíduo com Deus. O amor a Deus é o que nos impele a desenvolver nossa capacidade espiritual na cura por meio do Cristo. Mediante esse desenvolvimento, o amor que sentirmos pelo nosso próximo, amor esse imbuído do profundo desejo de ajudar, libertará a família humana do flagelo da doença e da morte, e será manifestado nas provas sempre crescentes da Ciência divina.
