Há alguns anos, morávamos em um estado que ficava distante dos demais familiares. Havíamos mudado com frequência durante um período de dez anos e agora eu desejava “voltar para casa”, para que nossos filhos pudessem ficar mais perto dos avós.
Não que não tivéssemos grandes amigos e bons vizinhos onde estávamos. Era exatamente isso que nos colocava em uma encruzilhada. Meu marido precisava decidir entre assumir uma nova carreira no estado onde morávamos ou retornar à empresa de propriedade da família, no estado em que nossos pais viviam. A escolha mais desejável parecia muito clara para mim.
Mas, eu sabia que tinha de colocar meus desejos de lado, para que todos nós pudéssemos ser guiados na direção certa. À medida que eu orava a fim de encontrar uma solução para a imensa saudade que sentia de casa, iniciei um período de estudo espiritual sobre esse tema, e que se estendeu por vários meses. Certo dia, logo cedo, enquanto lia a Lição Bíblica da Ciência Cristã, a história de Neemias com a reconstrução dos muros de Jerusalém chamou minha atenção. A descrição sobre o que “Jerusalém” simboliza na Bíblia estava em uma citação correlativa do glossário que consta de Ciência e Saúde. Minha atenção foi chamada porque, diante dos meus olhos como que saltando da página em que constava uma parte daquela definição, estava a palavra lar: “Crença mortal e conhecimento obtidos dos cinco sentidos corpóreos; o orgulho do poder e o poder do orgulho; sensualidade; inveja; opressão; tirania. Lar, o céu” (p. 589).
Parecia que condições económicas, fora do nosso controle, determinavam nosso futuro
Procurando “encontrar o caminho de casa”, comecei a analisar aquela descrição por partes, separadamente, e observei como a primeira parte identificava alguns dos desafios que estávamos enfrentando em nossa casa, especificamente: “o conhecimento obtido dos... sentidos”, “opressão”, e “orgulho”. Naquela época, a economia apresentava taxas de juros na faixa de 20 por cento, e com tendência ascendente. Parecia que, ainda que fôssemos ficar próximos dos parentes, teríamos de vender nossa casa, e não havia compradores, porque os empréstimos eram quase impossíveis de se conseguir.
Não somente o clima económico estava desanimador, mas era também desalentador que o emprego do meu marido não conseguia prover renda suficiente para atender às necessidades crescentes da nossa família. Aparentemente, as condições económicas, fora do nosso controle, determinavam nosso futuro. Havia também um senso de orgulho sutil da nossa parte; nós dois queríamos mostrar aos nossos pais que podíamos resolver tudo sozinhos.
Foi fácil perceber como todas essas coisas não se alinhavam com a visão harmoniosa da criação de Deus, e que eu havia aprendido como estudante da Ciência Cristã. Mas, à medida que continuava estudando e orando, descobri uma nova perspectiva quando analisei a última parte que compõe a descrição de Jerusalém: “Lar, o céu”. Então, fiquei ainda mais inspirada ao ler no glossário de Ciência e Saúde, que céu inclui: “Harmonia; o reino do Espírito; governo pelo Princípio divino; espiritualidade; felicidade; a atmosfera da Alma” (p. 587). Nas semanas seguintes, vivi com um conceito crescente dessas qualidades espirituais como componentes do nosso lar celestial.
O bem é infinito, vem diretamente de Deus, e não podemos estar separados dEle, porque somos Seus filhos. O suprimento faz parte do nosso próprio ser; faz parte de quem somos como amados do Amor divino.
Estávamos ativamente amando nosso lar
Também encontrei esta riqueza de ideia nos ensinamentos de Jesus: “Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós” (Lucas 17:20-21). Esses versículos me ajudaram a ver que nosso lar não era algo do qual tínhamos de nos mudar para dentro dele ou para fora dele, era algo que possuíamos como filhos de Deus. Não precisávamos viajar por todo o país para ter a maternidade e a paternidade do Amor divino. Nossa renda não estava ancorada na economia ou no emprego do meu marido. Compreendi que o bem é infinito, vem diretamente de Deus, e não podemos estar separados dEle, porque somos Seus filhos. O suprimento faz parte do nosso próprio ser, faz aprte de quem somos como amados do Amor divino. O suprimento, compreendi, fazia parte do nosso próprio ser, fazia parte de quem éramos como os amados do Amor divino. Orar com essas ideias poderia levar nossa família a uma maior atividade e à elevação espiritual, ao invés de nos levar à estagnação e desesperança.
Durante os meses de consagrada oração, meu marido conseguiu um emprego temporário fora do estado, por três semanas. Tive então de me confrontar também com um senso de solidão. Entretanto, em vez de ficar me lastimando, decidi ver nosso lar em termos da caracterização de céu, conforme descrito em Ciência e Saúde, como completo na “atmosfera da Alma”.
Durante algumas semanas, nossos filhos e eu começamos a trabalhar atualizando e concluindo projetos de melhoria na casa. As crianças optaram por renovar seus quartos, e ajudaram a limpar o jardim. Terminei um trabalho de reforma nas paredes do porão que estava inacabado. Estávamos ativamente amando nosso lar, independentemente de se permaneceríamos lá ou nos mudaríamos. Agora, rememoro aquela época com admiração diante da energia, força e direção que todos expressamos. Em vez de uma sensação de pesar, a alegria e a confiança começaram a assumir o papel principal.
Conversamos um pouco mais sobre a decisão que tínhamos de tomar sobre a mudança
Juntamente com o contentamento, passei a apreciar os amigos que meus filhos tinham na vizinhança sob uma nova luz. Comecei a ver as maravilhosas qualidades que as crianças expressavam quando brincavam juntas e passei a fotografá-las e a compartilhar as imagens com seus pais. As fotos foram um sucesso. (Isso se tornou o começo de uma carreira de fotógrafa, que não foi apenas agradável, mas resultou em um aumento na renda da nossa família).
Quando meu marido voltou de sua viagem, conversamos um pouco mais sobre a decisão que tínhamos de tomar sobre a mudança. Concordamos em orar sobre isso individualmente, por mais algumas semanas, e depois nos reunirmos para o veredicto. No final, decidimos que era o momento certo para nos mudarmos para mais perto de nossos pais.
Durante essa época, um amigo chamou minha atenção para esta preciosa passagem da Bíblia: “Porque não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga; mas para que haja igualdade, suprindo a vossa abundância, no presente, a falta daqueles, de modo que a abundância daqueles venha a suprir a vossa falta, e, assim, haja igualdade” (2 Coríntios 8:13-14). Foi surpreendente como essas palavras resumiram de forma tão completa os acontecimentos que se seguiram.
As qualidades que havíamos amado em nossa casa permaneceram para que outros as desfrutassem
Tivemos a ideia de só colocarmos a casa à venda depois que terminássemos nossa mudança. Portanto, encontramos um corretor de imóveis que cuidaria do assunto da venda depois que nos mudássemos. À medida que empacotávamos as coisas em cada aposento, conversávamos sobre as qualidades que havíamos amado em nossa casa e compreendemos que essas mesmas características permaneceriam para que outros as desfrutassem. A casa tinha um senso tão maravilhoso de luz, espaço, cor, calor, comunidade, design e, até mesmo, de abundância (incluindo um pomar pronto para a colheita). Com nossos pertences quase todos embalados, colocamos a nossa mudança no caminhão e o estacionamos na entrada da garagem.
Nesse mesmo dia, enquanto nossos filhos brincavam no jardim da frente, um homem que passou de carro na frente de nossa casa viu o caminhão. Ele perguntou às crianças se estávamos nos mudando para a casa ou saindo dela. Em resumo: nossa casa era exatamente o que a família dele estava procurando, incluindo o pomar. Após uma rápida negociação, começamos a organizar a papelada para que ele pudesse comprá-la. Os documentos ficaram prontos no mesmo dia.
Depois da nossa mudança, as qualidades que amávamos em nossa antiga casa não foram deixadas para trás. Elas apareceram na nova casa que logo encontramos, na região noroeste dos Estados Unidos.
“Voltar para casa” significa algo diferente para mim agora. Significa voltar de novo e de novo, repetidas vezes, para o meu relacionamento imutável com Deus. *
Artigo publicado originalmente na edição de 5 de janeiro de 2009 do Christian Science Sentinel.
 
    
