Abri a carta e li “aviso de execução hipotecária”. Meu coração ficou apertado. Não tinha conseguido pagar as prestações durante três meses, portanto, sabia que, mais cedo ou mais tarde, a carta chegaria, mas, ainda assim, foi um choque.
Havia comprado uma casa, em sociedade com minha mãe e irmã. Minha mãe estava aposentada e minha irmã e eu trabalhávamos. A situação mudou quando minha irmã se casou e se mudou para longe. Minha mãe e eu já não conseguíamos pagar as prestações, então pensei que o mais lógico seria vender a casa e comprar outra menor. Mas, o mercado imobiliário na época estava em queda. Eu vinha orando, mas acho que estava, sobretudo, mais falando com Deus do que realmente ouvindo-O. À medida que os meses passavam, não surgia nenhuma oferta de compra para a nossa casa.
Somado a esse problema, comecei a sentir fortes dores no estômago e meu cabelo começou a cair. Não demorou muito para aparecer grandes pontos de calvície na cabeça. Essa era uma questão muito preocupante porque eu sempre gostei do meu cabelo comprido; também ficava constrangida com a mudança em minha aparência.
O pensamento de que eu pudesse perder tudo era muito preponderante em minha mente. A casa simplesmente parecia ser um fardo, e meus problemas de saúde eram igualmente perturbadores.
O lar não era nenhuma estrutura física, mas um lugar especial no pensamento
Sempre havia confiado na eficácia da oração na Ciência Cristã para resolver todos os problemas. Portanto, assumi o compromisso de me dedicar completamente a ouvir a orientação de Deus, e não tentar forçar nada ou buscar uma solução por conta própria.
Decidi acordar mais cedo todos os dias para ler a Lição Bíblica Semanal da Ciência Cristã e ponderar as passagens da Bíblia e de Ciência e Saúde. Orava especificamente para mim, minha família, minha igreja e o mundo. Durante esse tempo de estudo, encontrei uma passagem da Bíblia que me ajudou a compreender melhor onde realmente meu “lar” se encontrava.
Os versículos do Salmo 139 diziam: “Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá” (Salmos 139:7-10).
Esse Salmo me falava da eterna presença de Deus, de Seu completo controle sobre todos e de Sua proteção para todos. Lembrei-me de quando era criança e ia “brincar de casinha” com minha irmã. Podíamos fazer uma casa debaixo da mesa, no quintal ou até mesmo na floresta de pinheiros na casa de campo do meu tio. Essas lembranças me ajudaram a ver que o lar não era nenhuma estrutura física, mas um lugar especial no pensamento. Esse lar continha qualidades, tais como: paz, harmonia, beleza, felicidade e segurança. Sim, aquela sensação de simplesmente “sentir-se em casa.”
A passagem da Bíblia conectava “tormento” ao medo, e o antídoto espiritual era o amor
Outra passagem da Bíblia chamou minha atenção: “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor” (1 João 4:18). Como eu ainda sentia dores de estômago e a queda de cabelo persistia, achava que sabia o que era “tormento”. O interessante para mim era que a passagem da Bíblia conectava “tormento” ao medo, e compreendi que o antídoto espiritual para o medo era o amor.
Pelo estudo da Ciência Cristã, aprendi que Mary Baker Eddy usa a palavra Amor como um dos sinónimos para Deus em Ciência e Saúde. Senti que amar mais era algo com o qual certamente eu podia lidar. Podia amar o fato de que Deus estava cuidando de mim de forma completa, perfeita, orientando-me, sustentando minha mãe, a mim e a todos.
À medida que orava com essas ideias durante várias semanas, e obtinha uma compreensão melhor a respeito do meu relacionamento contínuo com Deus, sentia menos medo. Estava aprendendo que a mão amorosa de Deus realmente me guiava e cuidava de mim, e eu não estava mais preocupada com as circunstâncias materiais que pareceram tão assustadoras.
Todas as manhãs, e todas as noites, continuava a dedicar tempo para orar e ouvir a orientação divina. Sentia-me feliz, cheia de paz e em segurança, muito embora a situação da minha casa, e os problemas de saúde parecessem ainda não estar resolvidos.
A coisa amorosa a fazer era compartilhar a inspiração que eu estava obtendo
Estava aprendendo que Deus tinha um plano maravilhoso e que delineá-lo não cabia a mim. A descrição de “Mente”, um dos sinónimos para Deus, conforme consta do glossário de Ciência e Saúde, fez-me refletir ainda mais: “MENTE. O único Eu, ou Nós; o único Espírito, Alma, Princípio divino, substância, Vida, Verdade, Amor; o único Deus; não aquilo que está dentro do homem, mas o Princípio divino, ou Deus, de quem o homem é a plena e perfeita expressão; a Divindade, que delineia, mas não é delineada” (p. 591).
Sabia que, como filha de Deus, já incluía todas aquelas qualidades espirituais, e que podia expressá- -las onde quer que estivesse. Eu era então a "plena e perfeita expressão”, completa e íntegra, naquele exato momento. Isso constituía meu verdadeiro senso de lar, que estava sempre comigo; portanto, o lar não podia ser um fardo, ser perdido, destruído ou retirado. Sabendo disso, podia confiar totalmente na Mente divina para orientar meu caminho.
Exatamente em meio a isso tudo, recebi muitos telefonemas de amigos e pessoas que conhecia, pedindo-me para que orasse por eles. Achei isso muito revelador. Algumas pessoas que ligaram tinham problemas financeiros e, muitas vezes, eu pensava: “Como posso ajudá-los quando eu mesma estou tendo minha hipoteca executada”! Mas, então, fazia uma pausa para reconhecer que a maneira amorosa de atender a todos era compartilhar a inspiração maravilhosa que eu estava obtendo com minha oração e estudo. Ao agir dessa maneira, todos nós fomos abençoados.
Havia mais quartos do que eu precisava na casa e isso era um sinal de abundância
A essa altura, a casa havia sido posta à venda e entregue a um corretor de imóveis por três meses, mas logo me senti fortemente impelida a tirá-la do mercado. Meu pensamento mudou para: “Tudo bem, Pai, se não posso vendê-la agora, mostre-me como posso manter esta casa”! Continuei a confiar e a ouvir.
Dentro de uma semana, fiquei emocionada ao encontrar um novo emprego com um salário melhor. Então, recebi um telefonema perguntando se eu poderia lecionar meio turno à noite e nos fins de semana, o que me ajudou com um rendimento extra que precisava.
Depois disso, certa noite, enquanto orava, tive uma nova inspiração. Havia mais quartos do que eu precisava na casa, e isso era um sinal de abundância pelo qual eu deveria ser grata. Será que eu não poderia compartilhar essa abundância? Depois de colocar um anúncio no jornal, todos os quartos foram alugados em poucas semanas.
No mês seguinte, consegui pagar minha hipoteca. Meu cabelo começou a crescer novamente e, certo dia, percebi que eu não sentia mais dores de estômago. Simplesmente não havia mais nenhum espaço para o medo em minha vida. Sentia-me extremamente feliz e tinha um senso mais profundo de amor a Deus e por todos os Seus filhos. Alguns anos mais tarde, passei a me dedicar à prática da cura pela Ciência Cristã, em tempo integral.
Nunca perdi a confiança de que meu verdadeiro “lar” está, exatamente aqui e agora, sob o amoroso cuidado de Deus.
É importante continuar a orar sempre que ouvimos notícias sobre a crise imobiliária
A ideia de alugar os quartos da casa acabou sendo uma bênção inesperada. Ao longo de vários anos, tivemos como nossos inquilinos estudantes universitários, uma jovem mãe e seu bebé, e um casal que trabalhava no ramo de entretenimento. Havia um enorme senso de comunidade e gentileza entre os inquilinos. Finalmente, quando chegou o momento de vender a casa, ela foi vendida no primeiro mês em que foi anunciada.
Tudo isso aconteceu há alguns anos, mas as lições que aprendi permanecem comigo. Nunca perdi a confiança de que meu verdadeiro “lar” está, exatamente aqui e agora, sob o amoroso cuidado de Deus. Meu poema favorito, de autoria de Mary Baker Eddy, chamado “A oração vespertina da Mãe”, amplia esta ideia:
“Bem perto está Seu lar acolhedor,
Seu braço cinge a mim, e a tudo o mais”
(Hinário da Ciência Cristã, 207).
Recentemente, enquanto passava de carro em frente da minha antiga casa, lembrei- me do quanto é importante continuar orando, sempre que ouvimos notícias sobre a crise imobiliária. Minha esperança é de que, ao compartilhar minha experiência, posso ajudar outros a perceberem que eles nunca estão sozinhos; a presença e a provisão de Deus estão aqui para todos nós, o tempo todo. *
Artigo publicado originalmente no site spirituality.com em 13 de novembro de 2008.
 
    
