Existe alguma relação entre o futebol, Jesus e a Ciência Cristã? A resposta a essa pergunta tem muito a ver com o meu crescimento espiritual ao longo do tempo.
Meu interesse por futebol começou com as brincadeiras que meu irmão mais velho e meu primo faziam comigo nos fins de semana, quando jogávamos futebol americano. Eles jogavam a bola em minha direção e, em seguida, rapidamente vinham para cima de mim tentando retomar a bola. Eles faziam isso muitas vezes. Como eu era pequeno, jamais conseguia vencê-los. Mas era divertido. Aprendi a gostar do jogo e a perseverar, mesmo sob as mais implacáveis condições.
Era muito natural para mim jogar futebol quando eu cursava o ensino médio; eu me empenhava bastante e cheguei a assumir a posição de titular na equipe principal. Mas, confesso que, naquela época, o que eu queria mesmo era vestir a camisa do time e ser reconhecido pela minha atuação como atleta.
Foi então que, no início da adolescência, à medida que eu compreendia melhor o significado dos ensinamentos de Jesus e a Ciência do Cristo que explica esses ensinamentos, eu comecei a perceber que o que eu precisava era de um maior aprofundamento em minha vida, ou seja, deixar de ficar pensando apenas em mim mesmo e nas minhas realizações. Por exemplo, eu precisava de motivos mais altruístas para o que estava fazendo, como glorificar a Deus, a fonte de todas as boas capacidades humanas, e buscar o Seu propósito para mim e para os outros.
Comecei a ler o capítulo “A Oração” em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras no qual a autora, Mary Baker Eddy, explica o significado de oração ou comunhão com Deus. Ela explica o que é orar, o que ajuda e o que pode atrapalhar a nossa oração. Marquei em verde cada item que poderia ajudar, como referências à gratidão e à honestidade. Depois, com marcador vermelho, identifiquei aqueles que representavam obstáculos, como trechos que falavam sobre falsidade e amor aos elogios. Então, todo dia antes de ir para a escola, eu lia os trechos marcados em verde como se fossem lembretes para mim. Depois da escola e do treino de futebol, eu verificava as marcações em vermelho, para ver como eu havia me saído durante o dia.
O campo de futebol se tornou um verdadeiro laboratório para a prática da Ciência Cristã. À medida que meus motivos começavam a mudar, a lista de marcações vermelhas diminuía. Alcançar o bem, como prova da presença e do cuidado de Deus, tornou-se de suma importância para mim (ver Mateus 5:16; 1 Coríntios 10:31). Eu estava descobrindo que o bem que conseguia obter não era algo que pertencia apenas a mim (ver Ciência e Saúde, p. 260). À medida que as marcações verdes aumentavam em minha lista, eu ficava mais feliz e, ao mesmo tempo, demonstrava mais habilidade no campo.
O campo de futebol se tornou um verdadeiro laboratório para a prática da Ciência Cristã.
Então, vieram as verdadeiras lições! Na faculdade, voltei à estaca zero no esporte. Enquanto ficava no banco vendo os colegas jogarem, aprendi a demonstrar humildade, cooperação e a alegria de encorajar os outros. Adquiri disciplina e persistência, e aprendi a dominar a impaciência e o desânimo. Mas, para mim, o valor real do esporte foi que ele me conduziu a um estudo mais profundo da Ciência Cristã, o qual, por sua vez, fez com que eu percebesse a importância de compreender a realidade espiritual.
Em cada nível mais elevado que eu conseguia alcançar no futebol, eu percebia que não bastava prosseguir sozinho, satisfeito apenas em pensar que eu era um atleta melhor. As transformações no caráter, bem como no desempenho, apontavam para algo mais elevado, muito além do que meus olhos podiam ver. Essas mudanças apontavam para o fato de que eu era realmente um ser espiritual, não meramente um ser humano que a oração ajudava e capacitava. Os ensinamentos de Cristo Jesus revelam a necessidade de construirmos sobre a rocha, o fundamento espiritual (ver Mateus 7:24). Passei a me aprofundar no estudo para encontrar esse fundamento. Comecei a descobrir que Deus é o Princípio divino, a Mente infinita, o criador e a fonte de todo ser verdadeiro, do meu verdadeiro ser. Eu podia sentir que a criação daquela Mente divina e perfeita, o Amor infinito, tinha de ser espiritual e mental.
Estava chegando à percepção de que o homem (a expressão de Deus) é, em realidade, o resultado do conhecimento que a Mente divina tem de si mesma. A Mente é autoconsciente, porque não existe nada além ou fora de sua totalidade. Visto que ela conhece a si mesma, ela tem a imagem, ideia ou semelhança de si mesma, semelhança essa que não é constituída de carne e sangue. O Espírito, conhecendo a si mesmo, só poderia ter uma ideia espiritual de si mesmo. Essa ideia é o homem em seu verdadeiro ser, como a Bíblia e a Ciência Cristã o ensinam.
Em termos práticos, o que tudo isso significou para mim? O Apóstolo Paulo escreveu em uma de suas cartas: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós” (Romanos 8:9). Para mim, esse versículo significava que, na proporção em que compreendemos nosso verdadeiro ser espiritual, podemos ser libertados das inúmeras limitações da carne que nos são impostas diariamente. Ciência e Saúde explica: “Um conhecimento da Ciência do ser desenvolve as faculdades e possibilidades latentes do homem. Estende a atmosfera do pensamento, dando aos mortais acesso a regiões mais amplas e mais elevadas. Eleva o pensador a seu ambiente nativo de discernimento e perspicácia” (p. 128). Eu percebia que ele também iria me “elevar”, para que eu expressasse mais da minha habilidade natural como atleta.
Para mim, tornou-se muito mais importante o fato de eu expressar a Deus e Suas qualidades do que conseguir derrotar um oponente.
É claro que eu ainda precisava enfrentar e vencer os meus oponentes; ainda precisava passar e pegar a bola. Mas, sob essas situações que se encontravam na superfície se encontravam os dons fundamentais, que me pertenciam, devido ao fato de eu ser a criação da Mente infinita, o Princípio divino. Entre eles estavam o ritmo, a sincronia, a coragem, a força, a resistência e a intuição. Esses dons não me poderiam ser concedidos por meio da força de vontade ou por uma dieta física. Eles não me poderiam ser tirados por esforço ou por um acidente. Eles não poderiam sofrer pressão devido à competição.
Essas qualidades eram minhas de uma maneira única, uma vez que tinham origem na Mente divina, Deus, e me conduziam de volta à Mente. Elas eram perpetuamente minhas, como expressão individual dessa Mente. Portanto, eu não poderia ser tirado de um lugar ou de uma posição que eu deveria ocupar, nem poderia eu tirar uma pessoa do lugar ou posição que ela deveria ocupar. Por isso, eu não me sentia tentado a ter inveja do sucesso dos outros, nem medo de que eles sentissem inveja do meu sucesso. Para mim, tornou-se muito mais importante o fato de eu expressar a Deus e Suas qualidades do que conseguir derrotar um oponente.
Quanto mais eu compreendia que essas qualidades eram naturalmente minhas, mais veloz e melhor eu me tornava em campo. Eu conseguia me movimentar com mais agilidade e, intuitivamente, estava no lugar certo, no momento certo, quer fosse para receber ou interceptar um passe, prever para onde um jogador correria ou discernir o melhor caminho para o gol. Eu não tinha medo de machucar ninguém nem de ser machucado. Simplesmente jogava com energia e vigor. O esporte para mim não consistia mais em uma atividade em que um jogador enfrentava o outro. Ele se tornou um laboratório onde eu podia provar os ensinamentos de Jesus e confirmar a sua explicação na Ciência Cristã. O resultado foi que, no último ano da faculdade eu já estava jogando em período integral na condição de titular da equipe.
Mas as lições do esporte não pararam na faculdade. Elas continuaram naquela que a Sra. Eddy chamou em Ciência e Saúde de “escola preparatória da terra” (p. 486). A cura na Ciência Cristã requer, entre outras coisas, disciplina (p. 496:14–19); persistência (p. 495:16–17); coragem (p. 327:25–26_); desprendimento (p. 483:31–33); paciência (p. 454:22–24); objetivo (p. 426:5–8); disposição em seguir o exemplo de Jesus (p. 243:9–12); reconhecimento do papel da autora de Ciência e Saúde (p. 107:1–3); demonstração prática (p. 37:16–18,22–25); obediência às regras (p. 462:13–15) e amor (p. 454:17–19).
O início precoce da prática esportiva e a aplicação constante dos ensinamentos da Ciência Cristã permitiram que eu me firmasse nessas qualidades e me mantiveram em boas condições ao longo dos anos. A Ciência Cristã me guiou e me curou de grandes e pequenas dificuldades.
Em certa ocasião, fiquei acamado por um tempo prolongado. Eu estava me sentindo muito deprimido e então peguei Ciência e Saúde e o abri aleatoriamente. O que li me trouxe uma forte sensação de conforto e amor, e que tocou cada parte do meu ser. Essa sensação foi, na verdade, o resultado do que a Bíblia chama de Espírito Santo, o Espírito, ou lei de Deus, que despertou meu pensamento e permitiu que eu me volvesse para a verdade fundamental de que existe uma única Mente infinita. Essa Mente é o único Deus, que forma e mantém Sua própria criação. Naquele exato momento percebi mais claramente que eu era, em realidade, Sua criação, era mantido e amado por Ele. Naquele momento espiritualmente iluminado, compreendi que a lei do Princípio divino anula as condições de doença e o mau funcionamento do organismo. A força motriz do Princípio divino não poderia ser substituída em minha experiência por inflamação, dor ou paralisia. Essa força do Princípio divino estava agindo como a lei de restauração no meu corpo.
Lembrei-me do relato bíblico em que Noé constrói uma arca para proteger sua família e seus pertences. Ele recebeu instruções para calafetar a arca com piche, por dentro e por fora. Essa orientação despertou em mim a necessidade de reforçar a parte interna da minha “arca”, ou meu barco mental, eliminado quaisquer pensamentos de preocupação ou pensamentos inoportunos que eu pudesse estar entretendo sobre qualquer pessoa ou qualquer coisa. Mas eu também tinha de reforçar a parte externa do meu barco mental, a fim de me certificar de que nenhum pensamento negativo ou de preocupação pudesse entrar em minha arca (ver Gênesis 6:14). Eu me sentia renovado tanto física quanto mentalmente. A partir daquele momento, minha recuperação foi rápida e completa.
Para mim, agora, o campo é o mundo e o meu pensamento se expande, incluindo toda a humanidade. Eu entendo que a atual arena caótica do mundo não é o palco de uma competição entre duas equipes, uma certa e outra errada, e que estejam lutando. O que percebo que realmente acontece é que a matéria, o mal, o irreal, luta contra o espiritual, o bem, a única realidade. Aquilo que é espiritual e bom, cuja origem é divina, ou seja, a realidade, tem poder espiritual e resiste. É como a luz que só encontra a si mesma quando entra em contato com a escuridão. O irreal deve desaparecer em presença da realidade. Percebo que essa mesma luta ocorre na minha própria consciência. Jesus ensinou: “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Essa verdade, o Espírito Santo, a lei do Princípio divino, a qual me trouxe libertação na doença, é a mesma verdade que pode trazer libertação às pessoas e às nações que estão lutando em todo o mundo.
É claro que todos têm direito à certeza de que a lei de Deus, o Princípio divino, está em ação e é eficaz para regular, causar e controlar todo efeito. O Princípio não precisa lutar contra o caos, uma vez que o Princípio simplesmente, de forma natural e inevitável, o destrói.
Isso me faz lembrar destas palavras de Paulo: “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3:13, 14). A persistência com certeza ganha o prêmio!
Artigo publicado originalmente na edição de 30 de maio de 2011 do Christian Science Sentinel.
 
    
