Gosto de correr por causa da liberdade, elegância e alegria que posso expressar, quer esteja me desviando de pedestres nas calçadas movimentadas da cidade, cruzando trilhas abertas ou em alta velocidade em uma pista de corrida.
No ano passado, treinava para uma maratona, quando comecei a sentir uma dor crescente em minha coxa, o que tornava desconfortável sentar ou caminhar depois do término de uma corrida. Essa dor persistiu por dois meses. Estivera treinando de seis a sete dias por semana, cada vez mais rápido e com mais força do que jamais havia treinado antes. Exercer a sabedoria referente às corridas me incentivou a ajustar alguns exercícios, e comecei a fazer mais alongamentos e a correr menos quilômetros, a fim de correr e descansar mais confortavelmente. Entretanto, a dor sempre retornava mais forte do que antes, assim que saía para percorrer qualquer distância maior do que poucos quilômetros.
Meus companheiros de corrida relacionaram minha dor com o que muitos corredores consideram uma “lesão por esforço repetitivo”, causada por percursos muito longos ou rápidos demais. Além dos passos práticos que eu já estava tomando, eles sugeriram o uso de analgésicos e anti-inflamatórios. Embora eu soubesse que meus amigos estavam tentando ser solidários ao me ajudar a encontrar conforto físico, também sabia que havia a cura permanente, possível por meio da oração.
Estava orando sobre esse problema, mas fiquei frustrada quando não encontrei conforto e comecei a me sentir oprimida pelo medo de não conseguir alcançar meu objetivo na corrida. A essa altura, liguei para uma Praticista da Ciência Cristã e lhe pedi que orasse comigo.
Enquanto explicava a dor em minha perna, dei-me conta de que estava compartilhando detalhes de uma série de outras coisas que estavam acontecendo em minha vida. Ao mesmo tempo em que treinava para a maratona, também me preparava para algumas mudanças na vida, as quais incluiam a proximidade da data em que iria me casar, uma mudança para o outro lado do país e a busca por emprego em uma cidade que não conhecia bem.
Rapidamente, percebi que todos os problemas que eu estava descrevendo podiam ser considerados pessoais, ligados à minha personalidade, às minhas habilidades pessoais e ao meu desempenho. Tudo aquilo no qual estava focada era egocêntrico e de caráter íntimo, em vez de centrado em Deus e de caráter eterno!
Havia fundamentado meu êxito na cura dessa lesão em encontrar um novo emprego, no fato de que eu precisava controlar a situação e trabalhar duro para alcançar grandes resultados. A praticista e eu compartilhamos ideias de como transformar minha corrida em uma manifestação exteriorizada do Amor, em vez de focar nos triunfos físicos e nos desafios relacionados a eles. Correr, para mim, sempre havia sido uma atividade amplamente motivada pela alegria que vem com a realização pessoal. Embora essa não seja necessariamente uma razão negativa, ela é limitada, na medida em que não reconhece que refletimos a totalidade de Deus. A alegria que sentimos, proveniente da realização pessoal, pode facilmente degenerar-se, na eventualidade de um desafio.
A praticista e eu oramos com esta ideia de Jesus, encontrada no “Sermão do Monte: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa” (Mateus 5:14, 15).
Pensei sobre o coletivo “vós” que Jesus empregou quando se dirigiu àquele grupo que ouvia o sermão. Sua mensagem sanadora podia ser pessoal para cada indivíduo ali presente, mas a inspiração abençoava o grupo todo. Posso somente imaginar a leveza e alegria que todos sentiram ao final do sermão, quando saíram ansiosos para compartilhar sua luz e a mensagem de Jesus aos famintos por consolo e cura.
Refleti sobre o amor altruísta que a multidão deve ter sentido depois de ouvir o Mestre. Então, refleti sobre os milhares de corredores que se juntariam a mim na linha de partida da maratona. Pensei naqueles que ouviram o sermão de Jesus e nos atletas como guiados inteiramente pela Verdade divina e pelo Amor. Essa é uma força muito poderosa! Ponderei, então, sobre a possibilidade de eu “ser a luz” e ajudar os outros a encontrar, por meio da corrida, uma inspiração, que vai além das realizações pessoais e nos torna felizes a cada passo do caminho.
Orei pelos motivos que estavam por trás do meu desejo de correr e pelas qualidades espirituais permanentes que expresso durante a corrida, como: força, coragem, postura e equilíbrio. Em questão de dias, desde o início das minhas orações com a praticista e das orações fundamentadas nessas ideias, a dor desapareceu e me senti confortável antes, durante e após os treinos para a corrida. Utilizei as semanas restantes de treinamento, e que antecederam a maratona, para encontrar momentos de paz durante minhas corridas, a fim de agradecer a Deus por essas qualidades e pelas orações que eu poderia oferecer à minha comunidade e ao mundo.
Outra ideia sanadora com a qual orei é de Ciência e Saúde: “A Mente é a fonte de todo o movimento, e não há inércia que lhe retarde ou tolha a ação perpétua e harmoniosa. A Mente é a mesma Vida, o mesmo Amor, e a mesma sabedoria ‘ontem, e hoje... e... para sempre’ ” (p. 283).
Quando chegou o dia da corrida, sentia-me relaxada e em paz com o progresso que havia feito no sentido de me preparar em espírito de oração e de alcançar uma compreensão mais profunda de Deus como minha fonte perpétua de harmonia e movimento. A corrida foi cheia de alegria. Permaneci grata durante todo o trajeto, e glorifiquei a Deus, quilômetro a quilômetro. Havia participado dessa mesma maratona inúmeras vezes, mas dessa vez eu estava mais consciente do que estava à minha volta e focada em expressar amor ao longo do percurso. Não houve nenhuma dor que pudesse impedir meu progresso e essa sensação de harmonia permaneceu comigo por muito tempo depois de eu ter cruzado a linha de chegada.
Nos dias que se seguiram, minhas preocupações relativas à procura por emprego também diminuíram. Os primeiros passos para encontrar trabalho em minha nova cidade iam se revelando à medida que continuava a desenvolver a compreensão de que minha trajetória profissional era dirigida pelo Amor divino. Ainda treino para participar de maratonas, e sou grata pelas lições espirituais que aprendo enquanto me preparo para todas as competições.
Testemunho publicado originalmente na edição de 30 de maio de 2011 do Christian Science Sentinel.
