O que fazer se uma noite mental desce, se o pensamento se enche de dúvidas e, até mesmo, há indícios da própria morte? Muito depende do que se tenha feito até então.
Se o indivíduo vem cultivando sua compreensão espiritual mediante estudo, oração e prática, está ciente de uma luz interior já testada que o ajudará a transpor o obstáculo, talvez sem a ajuda de outrem. Se esteve ocioso, ou por demais envolvido com outras coisas, tal ajuda pode ser imprescindível. De qualquer modo, ele não está perdido na escuridão, pois, de acordo com S. João, a luz de Cristo “vinda ao mundo, ilumina a todo homem” João 1:9;.
A toda hora, qualquer um pode encontrar essa luz espiritual. Na verdade, é a luz que ilumina sua própria vida, a verdade espiritual que se revela como sua própria identidade verdadeira. Graças a essa luz, o indivíduo é capaz de ver que não há nada a temer, que a realidade é obra de Deus e é boa, que a identidade total e verdadeira do homem não tem capacidade para o medo.
Jesus expressou a tal ponto a luz do Cristo que, invariavelmente, desfazia as trevas para os que o cercavam e, em vista disso, foi chamado Cristo Jesus. Ensinou seus seguidores a cultivarem essa luz interior, a procurarem a verdade espiritual e a praticarem-na continuamente. Com isso, seus seguidores seriam capazes de iluminar outros, também.
Por vezes, há pessoas que tomam emprestado de outras pessoas em tal escala que, como as virgens néscias, precisam aprender o valor de sua própria lâmpada e como dela cuidar melhor (ver Mateus 25:1–13). Porém ninguém jamais perde sua luz inextinguível. Ela “ilumina a todo homem”, não importa quão impressionantes as circunstâncias sejam. Contudo, se essa luz vai denunciar as crenças errôneas que tomam a forma de criaturas da noite, é preciso verificarmos se nossa lâmpada está atiçada, fornecendo luz ainda mais brilhante. O que se faz quando a luz da verdade arde vivamente e não se está diante das trevas, é da máxima importância.
Cristo Jesus disse: “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” 9:4; A última parte dessa frase não precisa soar ameaçadora. Tomada dentro de seu contexto curativo, talvez ela nos anime a compreender que o trabalho, feito de dia, nos prepara para qualquer noite que se apresente.
Na realidade que algum dia todos haveremos de contemplar, não há trevas. Isso foi claramente percebido pelo autor do último livro da Bíblia; fala ele duas vezes de que não haverá noite na Nova Jerusalém, o estado ideal ou real do ser. A gama total dos acontecimentos bíblicos, se lidos com inspiração, aponta para o dia eterno.
No livro Ciência e Saúde a Sra. Eddy dá uma interpretação espiritual e metafísica de muitos dos vocábulos bíblicos. A respeito de “Judá” escreve: “Uma crença corpórea material que progride e desaparece; aparecimento da comprensão espiritual acerca de Deus e do homem.” Ciência e Saúde, p. 589; Isso traz à lembrança o verso de Sir Walter Scott citado em Ciência e Saúde:
Se a noite sobre a senda de Judá descer,
E se em sombra e tempestade a envolver,
Sê Tu longânimo, lento em Te irar,
Uma luz viva e ardente a brilhar! ver ibid., p. 566;
Em Judá, as noites podem parecer freqüentes, enquanto as falsas luzes da crença material se apagam; mas poderemos esquecer que Belém faz parte de Judá? E que foi de Belém que veio Jesus? Se nossas noites se tornam mais freqüentes, será que isso não nos diz, às vezes, que estamos prontos para ver e ouvir mais do Cristo; que as crenças materiais estão avançando rumo a seu desaparecimento; e que a luz da compreensão espiritual, revelando mais da verdadeira natureza de Deus e do homem, há de despontar sem falta?
A nossa aparente e momentânea falta de inspiração espiritual não pode impedir que o dia amanheça. As trevas mentais não podem extinguir a luz. Esta afirmação da Sra. Eddy: “Escuridão mental é erro sem sentido, não é inteligência nem poder e sua vítima é responsável por essa presença hipotética” Miscellaneous Writings, p. 355; pode impedir que antecipemos uma noite inevitável e também que, temerosamente, procuremos a fonte da escuridão. Desarraigando diligentemente nossa própria incredulidade e nossas próprias crenças errôneas, livramo-nos do que haveria de enfraquecer a luz interior.
Quando nosso pensamento não parece inspirado, talvez convenha relembrar que a Ciência Cristã é uma Ciência e que as leis de Deus estão atuando, não importa o que pessoalmente sintamos. Mesmo em nossa obra de cura, qualquer período noturno sem estrelas não irá prevalecer, se não nos deixarmos levar pelo desânimo. Quando permanecermos com a Palavra da Verdade, mesmo que pareça ser apenas palavras, e insistimos na Ciência subjacente aos fatos que estamos declarando, não permitindo que coisa alguma nos impeça de defender essas verdades, a Palavra da Verdade fará o seu trabalho.
Esse sistema científico é o caminho espiritual. Reivindica a visão perfeita de Deus, descrita pelo Salmista quando cantou: “A noite brilha tal qual o dia: para ti as trevas e a luz são a mesma cousa.” Salmos 139:12 (conforme a versão King James); Como Deus não conhece a noite, assim o homem, na plena luz da compreensão total que brilha sempre no seu interior, nunca experimentará a noite. É o mortal — a sombra do real — que se acha envolto pela opacidade das trevas, da dúvida e do medo. Na medida em que as trevas cedem lugar à luz, o humano cede a uma natureza mais cristã.
Se alguém, ao se aproximar da luz da realidade divina, constata que a sombra das experiências humanas parecem alongar-se, pode saber que toda crença de vida na matéria tem de tornar-se, um dia, tão ténue que não mais tenha a aparência de substância. “Que as trevas do pensamento humano se alonguem ao se aproximarem da luz”, orou a Sra. Eddy, “até que se percam na luz e não haja ali mais noite!” Mis., p. 352.
Todos viveremos dias mais longos de iluminação e inspiração, e noites cada vez mais curtas de trevas e dúvidas, e veremos que o medo e a dúvida se convertem em coragem e confiança, até que todas as sombras se percam na plena luz da compreensão pura.
Essa é a promessa do dia que não tem fim. Para chegar a esse ponto, começamos por tirar o melhor proveito de cada vislumbre espiritual, usando nossa visão clara da realidade para iluminar algum canto escuro do pensamento. Inevitavelmente, essa luz há de brilhar cada vez mais para que por ela outrem possa ver.
Lembrando as palavras do Mestre, acima citadas, podemos recusarnos a dormir durante o dia. Então, perscrutaremos o negror da noite até que ele desapareça de todo.
