Comecei a preencher o requerimento em que pedia um passaporte. Nome, endereço, sexo, lugar de nascimento, idade e características físicas era o que eu tinha de informar — itens importantes para estabelecer minha identidade humana.
No entanto, será que isso descreve meu verdadeiro eu?
Quem sou eu realmente?
Com a Ciência Cristã chegamos a conhecer nosso verdadeiro status como idéia espiritual da Mente divina, Deus. Essa idéia não tem lugar de nascimento, pois nunca nasceu na matéria. E ela nunca morre, porque o homem coexiste com seu eterno e verdadeiro Progenitor, o Pai-Mãe Deus. “Na Ciência o homem é o descendente do Espírito”, escreve a Sra. Eddy. “O belo, o bom e o puro constituem sua ascendência.” Ciência e Saúde, p. 63;
Através de todo o livro Ciência e Saúde a Sra. Eddy torna clara a diferença entre nosso verdadeiro ser espiritual e o conceito simulado de homem que a anatomia apresenta. A Ciência põe a descoberto o fato de que as medidas e características físicas — altura, peso, cor do cabelo, cor dos olhos e assim por diante — não descrevem o homem real. Tais avaliações pertencem à figura ilusória que a assim chamada mente mortal faz aparecer. A vida material, com seus prazeres e provações, é uma existência ilusória. Deus é Vida e Espírito. O verdadeiro viver é espiritual. Precisamos estabelecer a compreensão de nossa identidade imortal. Em realidade ela é a única que temos.
Nosso ser imortal não veio de alguma localidade; nunca começou, não acabará e não tem conexão alguma com calendários. Esta verdade contradiz a hipótese predominante de que somos um elo numa corrente que se estende de volta ao abismo do tempo e que avança rumo ao grande desconhecido.
Os estudiosos das ciências sociais tendem a considerar nossa individualidade uma colagem de história pessoal, boa e má. Nossas características anatômicas mudam de ano para ano, mas o registro do passado não pode ser apagado, julgam eles. A opinião geral é a de que nossa identidade está física e historicamente ligada a nossos progenitores.
Esta crença explica em parte o fascínio que o povo tem pela genealogia, que está em voga nos dias de hoje, como tem estado em diferentes épocas do passado. Em alguns livros do Antigo Testamento, trecho após trecho relata histórias de família, de geração em geração. A existência para esses judeus dos tempos antigos era muitas vezes uma luta contra ataques e esbulhos, até mesmo a deportação e o exílio. A contemplação de suas genealogias, de cada elo da corrente, deve ter-lhes oferecido um sentimento de continuidade e identidade.
Por muito reconfortante que a lista de ancestrais possa ter sido, os de mentalidade mais espiritualizada reconheceram, todavia, um recurso mais elevado e mais duradouro — Deus. “Tu, Senhor, reinas eternamente, o teu trono subsiste de geração em geração.” Lament. 5:19; Por toda a Bíblia vemos como aqueles que compreendiam o poder de Deus e sua relação para com Ele venceram toda espécie de desafios. Era a percepção desse relacionamento espiritual, não os antepassados, o que os salvava.
É interessante que a Sra. Eddy inicia seu esboço autobiográfico no livro Retrospecção e Introspecção com um capítulo intitulado “Sombras Ancestrais”. E, mais adiante nesse livro, ela deixa claro: “É bom saber, caro leitor, que nossa história material, mortal, é apenas um registro de sonhos, e não da existência real do homem, e o sonho não tem lugar na Ciência do ser.” Ret., p. 21;
Uma das armadilhas de se ligar a identidade a uma origem material é a de que isso tende a reforçar a crença errada de que somos mortais. A história completa do homem encontra-se no primeiro capítulo do Gênesis, onde a criação culminou em Deus criar o homem à Sua imagem. Assim, um estudo apropriado do homem não leva a estatísticas físicas ou a árvores genealógicas. Começa com seu criador, seu Pai, o Espírito divino.
Se Deus é Espírito, e é eterno, então o homem — cada um de nós — como Sua imagem tem de refletir espiritualidade e eternidade; não podemos, em realidade, ser materiais, mortais, destinados a morrer. Quando compreendemos esta verdade, ela permeará todo aspecto de nossa vida, tornando-nos mais sadios e mais santos, menos assoberbados por circunstâncias materiais. Ficaremos menos impressionados pelo “registro de sonhos”.
Isso é expansivo. Por outro lado, a preocupação com a genealogia, com suas reiterações de nascimentos e mortes, pode conduzir-nos à escravidão. Uma corrente estabelece conexão, mas também pode aprisionar. A crença em nascimento material, por exemplo, inclui a afirmação de hereditariedade que quer atrelar erros do passado a súditos involuntários de hoje. A hereditariedade é uma das incontáveis crenças as pessoas curvaram-se a essas supostas leis e por causa delas restringiram sua saúde e seu bem-estar.
Ora, Deus é a única origem da lei, e Suas leis são coerentes com Seu amor. As leis de Deus conferem domínio ao homem. A Sra. Eddy declara: “A hereditariedade não é lei. Não é devido à sua prioridade, nem à conexão dos pensamentos mortais do passado com os do presente, que a causa remota, ou crença remota de moléstia, é perigosa.” Ciência e Saúde, p. 178;
A firme compreensão que Cristo Jesus tinha de seu relacionamento com Deus habilitou-o a descartar a falsa lei enquanto cumpria a lei de Deus. Quando Jesus viu um homem cego de nascença, seus discípulos lhe perguntaram: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” A noção não inspirada procurava uma causa na hereditariedade. Jesus, compreendendo que unicamente Deus é causa, disse: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.” João 9:2, 3; Ele via o homem como resultante de seu Pai-Mãe Deus, não o descendente imperfeito de pais humanos. E essa identificação do ser real do homem trouxe a cura.
Jesus estava ciente de sua posição humana como membro da casa de Davi, da qual os profetas do Antigo Testamento haviam predito que haveria de vir o Salvador, ou Messias. Jesus confirmou estar ele cumprindo a profecia. Contudo, não foi a história temporal de Jesus que fez dele o Salvador; o que o fez foi sua corporificação do Cristo, a manifestação de seu Pai, Deus.
A convicção que Jesus tinha de sua filiação com Deus não o impediu, todavia, de mostrar desvelo por sua mãe. De igual modo, nosso crescimento para fora da crença de que haja vida na matéria não exclui a necessidade de amar e respeitar nossos pais, amar e cuidar de nossos filhos. Devemos tirar proveito do bem que as gerações passadas apresentaram, mantendo sempre em foco a identidade real do homem.
O formulário para obtenção do passaporte requeria que eu enumerasse sinais distintivos e visíveis, tais como cicatrizes. Cicatrizes são lembranças físicas de desarmonias passadas. Sugerem que o mal tocou nossas vidas, deixando uma recordação irrevogável. Essa marcas podem ser de utilidade para a identificação material. Elas meramente fazem parte, porém, do registro ilusório. Em realidade, o bem é tudo e o mal nada é. Não há e nunca houve um erro para nos deixar cicatrizes. O homem não tem cicatrizes, físicas ou emocionais, porque o homem é espiritual; não tem mácula.
Ao considerar essa falsa corrente de existência material, talvez examinemos também nossas atitudes com relação ao futuro e a futuras gerações. Um falso conceito de responsabilidade levaria os pais a tentarem manipular voluntariosamente os acontecimentos a favor de seus descendentes. A falsa responsabilidade diz com efeito: “Tenho uma ligação direta com a Mente, mas você não tem. Sou seu pai (ou sua mãe) e sei o que é mais acertado para você.” Muitas vezes isso é feito com a melhor das intenções, mas acaso não estaremos utilizando elos materiais em vez de utilizar a unidade espiritual do homem com Deus?
O maior bem que podemos fazer a nós mesmos e a nossos filhos é liberá-los dessa corrente humana falsa e restritiva. Assim como Jesus, demonstramos domínio quando atribuímos pouca importância a nossa história humana e reconhecemos a história espiritual. Moisés afirmou: “Hoje saberás, e refletirás no teu coração, que só o Senhor é Deus em cima no céu, e em baixo na terra; nenhum outro há.” Moisés prometeu que, se guardarmos os mandamentos de Deus, tudo irá bem “a ti, e a teus filhos depois de ti” Deuter. 4:39, 40..
Não precisamos hesitar em abandonar a crença numa história mortal com todas as suas limitações. Quando vencermos a inclinação de identificar o homem como se fosse físico, começaremos a nos regozijar na atividade ilimitada de nosso eu espiritual, verdadeiro, que faz parte da família universal de Deus.
