Como pode um acontecimento ocorrido há cerca de dois mil anos, num país longe do nosso, cuja cultura é bem diversa da nossa, ter algo a ver com você e comigo, hoje? Tem algo a ver porque, em última análise, tempo, lugar e cultura material só têm significado como cenário temporal para lições aprendidas sobre as verdades eternas a respeito de Deus e do homem.
Algum tempo atrás, sofri de uma infecção na garganta que me impedia de falar. Eu tinha que escrever bilhetes para comunicar-me com minha família! Antes disso, eu havia lecionado um pouco e estava ansiosa para continuar a dar aulas.
Ao dar-me tratamento mediante oração, pela Ciência Cristã, procurando reconhecer a perfeição de Deus, o Espírito divino, e minha origem nEle, encontrei-me a meditar sobre a história de Zacarias relatada no Evangelho segundo S. Lucas. Ver Lucas 1;
Zacarias era sacerdote no templo de Jerusalém. Ele e a mulher, Isabel, eram bons e desejavam viver de acordo com a orientação divina. Tinham, porém, uma frustração: já eram de idade avançada e não possuiam filhos.
Certo dia, quando Zacarias estava desempenhando suas funções de sacerdote e a multidão, lá fora, orava, despontou-lhe uma intuição espiritual que nunca lhe havia ocorrido antes. Essa intuição era tão real e substancial para Zacarias, que lemos: “E eis que lhe apareceu um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do incenso.”
A mensagem divina incluía a promessa de que Zacarias e Isabel, apesar de todas as leis materiais em contrário, teriam o filho pelo qual tanto haviam orado. Este seria um menino e deveriam chamá-lo João. Muitos se rejubilariam com esse nascimento, pois o menino seria o precursor do Messias que estava para vir. “E irá adiante dele no espírito e poder de Elias, para... habilitar para o Senhor um povo preparado.”
Poder-se-ia pensar que Zacarias exultasse com tal revelação, no entanto sua primeira reação foi de descrença: “Como saberei isto? pois eu sou velho e minha mulher avançada em dias.” E sua descrença resultou, de acordo com a palavra do anjo, em mudez. Mesmo depois do nascimento da criança, Zacarias não conseguia falar.
Chegou o dia da circuncisão e uma questão crucial veio à tona. De quem era essa criança? Estava Zacarias pronto a reconhecer Deus como o único criador?
O nascimento do filho de Zacarias e Isabel foi um acontecimento importante. Parentes e vizinhos reuniram-se para celebrar. Talvez Zacarias tenha sido tentado a sentir-se orgulhoso nesse momento, orgulhoso de sua virilidade, de sua autoridade. Finalmente, tinha um filho para perpetuar-lhe o nome!
Isabel, sua mulher, disse que o nome do bebê seria João, mas os parentes e vizinhos não aceitaram tal idéia. Queriam que a criança fosse denominada Zacarias, de acordo com os costumes, e que Zacarias o confirmasse. Porém, “pedindo ele uma tabuinha, escreveu: João é o seu nome. E todos se admiraram. Imediatamente a boca se lhe abriu e, desimpedida a língua, falava louvando a Deus.” Zacarias estava curado.
Bem, e o que tudo isso teve a ver com meu problema? Ao analisar devotadamente a experiência de Zacarias, descobri dois pontos importantes. Primeiro: ele não acreditou na mensagem divina, a revelação de Deus que lhe disse — virtualmente — que o ser baseia-se no Espírito e não pode ser obstruído por condições físicas. Lembrei-me de que a palavra “descrença” aparece no livro-texto da Ciência Cristã de maneira diferente, mas esclarecedora. Referindo-se especificamente ao tratamento de acidentes, mas estabelecendo uma regra de aplicação bem mais ampla na cura cristã, a Sra. Eddy escreve: “Declara que não te machucaste e compreende a razão disso; verás que os bons efeitos que daí resultam, estarão em exata proporção à tua descrença em relação à física e à tua fidelidade para com a metafísica divina — à tua confiança em que Deus é Tudo, como as Escrituras declaram que Ele é.” Ciência e Saúde, p. 397. Descrença em relação à física!
O segundo ponto surge um ponco antes da cura de Zacarias, quando ele teve de reconhecer, mais plenamente do que antes, que Deus é o único e verdadeiro criador.
Ponderando esses dois pontos, resolvi aprimorar-me neles e analisar seriamente meus pensamentos, minhas conversas e meus atos. Esforceime definitivamente para deixar de crer na física e para ser fiel à metafísica divina. Reconhecendo, de modo específico, que Deus, a Mente divina, é o único criador e que, portanto, o homem é idéia divina — e não um mortal material e vulnerável — voltei-me ao Amor divino para que me ajudasse a entender essas verdades, e, de fato, vivê-las. Vi que não era acidental que o título completo do livro-texto da Ciência Cristã é Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras. Dentro em pouco, eu estava completamente bem.
Será que isso significa que toda pessoa com dor de garganta deva procurar o relato bíblico de Zacarias para obter a cura? Claro que não. Não há fórmulas para a cura, na Ciência do Cristo. Todas as histórias e as verdades inspiradas da Bíblia, quando meditadas e aceitas, ensinam lições que podem atender a necessidades específicas. Podem influenciar divinamente nossos pensamentos, nossas palavras, nossos atos. E podem curar!
