Nos meus tempos de estudante, em Copenhague, um dos meus primeiros livros de inglês continha este jogo de palavras: “Em caso de acidente, o que é melhor do que a presença de espírito?” Resposta: “A ausência do corpo!”
A flagrante impossibilidade agradou-me e nunca me esqueci desse trocadilho. Porém, anos mais tarde, depois que comecei a estudar Ciência Cristã, as palavras acima adquiriram significado novo e imprevisto. Ocorreu-me que, em certo sentido, esta Ciência nos permite demonstrar ambas as coisas! Mas, isso requer uma pequena explicação.
Na Ciência Cristã, um sinônimo para Deus é “Mente”, significando a inteligência onisciente, a consciência onipresente e a força-pensamento onipotente que constituem a Divindade. Deus, sendo um, a Mente é uma. Não há muitas mentes. De fato, nenhum indivíduo possui mente pessoal própria. Que a possua é uma falsa crença e dificuldades sem fim têm provindo dela. Não, na verdade há uma Mente só, a Mente divina. O reflexo espiritual dessa Mente é o homem, que expressa sabedoria, inteligência e compreensão divinas. O homem não pode deixar de ser assim e não pode fazer nada além disso.
Foi isso que Cristo Jesus ensinou a seus seguidores. Mostrou que seu ser espiritual e verdadeiro era inseparável do Pai e podia fazer o que o Pai fazia e nada mais. Disse: “O Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz.” João 5:19;
Em vista do que Jesus fez ao demonstrar essa verdade, é certo dizer que o fato de você e eu, como idéias espirituais e perfeitas da Mente, também podermos fazer apenas o que Deus faz, sem dúvida não nos impõe limitações de um ponto de vista humano. Na verdade, compreender esse ponto constitui enorme proteção para nós. Falando de um ponto de vista científico, estamos sempre refletindo, expressando e representando a Mente que tudo sabe. Onde estamos, como idéias infinitas da Mente, a Mente está. Nunca podemos experimentar ausência de Espírito, mas apenas presença de Espírito. Nunca podemos conhecer a desarmonia, porque a Mente não a conhece. E à medida que percebemos essas verdades e as vivemos, estamos seguros.
Uma vez que o Espírito — que é outro sinônimo para Deus — está sempre presente, a matéria nunca está presente e não existe realmente. E nisso se inclui o que parece ser um corpo físico. Mary Baker Eddy, Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, declara: “Bem compreendido, o homem, em vez de possuir uma forma material, sensível, tem um corpo insensível; e Deus, a Alma do homem e de toda a existência, sendo perpétuo em Sua própria individualidade, harmonia e imortalidade, transmite essas qualidades ao homem e as perpetua nele — através da Mente, não da matéria.” Ciência e Saúde, p. 280;
Em outras palavras, a Mente onisciente está sempre presente, e a matéria, inclusive o corpo físico, está sempre ausente. Como é sempre a algo material que acontece um acidente, não é de surpreender que nossa Líder também declare: “Os acidentes são desconhecidos a Deus, a Mente imortal. ... ” ibid., p. 424;
A esta altura, alguém poderá dizer: “Talvez os acidentes sejam desconhecidos a Deus, mas certamente são conhecidos a nós, mortais, não é mesmo? Como se explica isso? Qual é a vantagem de saber que Deus não conhece acidentes? Poderá evitar que nos tornemos vítimas do acaso?”
Bem, o que podemos e devemos fazer é despertar para a verdade de que não somos mortais — nunca fomos e nunca seremos. Pensamos que somos mortais, sujeitos ao acaso, a ferimentos e destruição, porém isso é apenas uma crença da assim chamada mente mortal, cujos falsos conceitos são alimentados pelos hipotéticos sentidos materiais. E a Sra. Eddy continua, explicando o que podemos fazer para que nossa vida diária coincida com o fato científico: “Os acidentes são desconhecidos a Deus, a Mente imortal, e precisamos abandonar a base mortal da crença e unir-nos à Mente única, a fim de substituir a noção de acaso pelo conceito apropriado acerca da direção infalível de Deus, e assim trazer à luz a harmonia.”
A direção divina é descrita, de maneira belíssima, no salmo 91: “Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.” Salmos 91:11, 12.
Alguém, talvez, pergunte: “A quem se dirige essa confortadora promessa?” Ao que, como diz o primeiro versículo desse salmo, “habita no esconderijo do Altíssimo, e descansa à sombra do Onipotente”. Assim, a promessa é feita ao indivíduo que percebe a verdade — o fato de que ele é, genuinamente, a idéia perfeita da Mente divina, e que essa é sua identidade real e imutável. Tal indivíduo está protegido de acidentes pelos anjos de Deus — Suas mensagens que inspiram, orientam e iluminam.
Podemos definir um acidente como a sugestão espúria dos sentidos materiais de que a divina lei da harmonia tenha sido violada. Essa sugestão pretenderia ocultar de nossa vista a lei divina, fazendo com que a esquecêssemos ou nela não acreditássemos.
Deveríamos começar o dia reconhecendo que cada pessoa é a idéia espiritual da Mente divina, uma imagem na Mente, para sempre a salvo nessa Mente. E podemos saber que, não importa o que alguém tenha de fazer ou aonde tenha de ir, a Mente divina estará presente. Encontrará os pensamentos que precisa se usar o sentido espiritual e prestar atenção à inspiração e direção da Mente. Isso lhe dará paz e o manterá seguro, mesmo em meio à dificuldade e à confusão.
É essencial reconhecer que cada pessoa é, na realidade, a idéia da Mente divina, governada harmoniosamente pela lei divina, sempre expressando inteligência e percepção infalíveis. E podemos saber que todas as idéias espirituais de Deus refletem as mesmas qualidades. Essa compreensão eliminará momentos perigosos de distração ou de falta de atenção de nossa parte e ajudará, também, as pessoas que encontramos. Dessa forma, cumprimos a Regra Áurea, a lei divina do amor.
Se, no entanto, nos encontrarmos envolvidos num acidente, podemos de imediato ver a ocorrência como uma falsa imagem mental dos sentidos, outra sugestão mentirosa de que a lei divina da harmonia possa ser violada. Podemos afirmar que nada senão a Mente divina e sua perfeição estão presentes e que qualquer outra suposta presença é uma crença da hipotética mente mortal. Podemos, também, reconhecer que não há aparência de mal que não possa ser corrigida pela verdade. Em termos práticos, nossa salvação pode ocorrer por sermos guiados a agir imediatamente de forma específica e sábia, ou poderíamos dizer: com a presença do Espírito, refletindo-se em presença de espírito.
Ao percebermos — persistente e claramente — que, como idéias espirituais de Deus, somos a corporificação de Sua inteligência, bondade, mansidão, amor, cresceremos até a compreensão de que não temos de fato um corpo material, mas que vivemos na Mente divina onipresente. Isto não é escapismo. É a verdade e possui a força-Cristo, o único poder do universo. Nossa segurança atual, então, baseia-se em nossa compreensão da realidade — a realidade espiritual, a realidade divina.
