Às vezes parece haver em nossa própria constituição uma resistência ao progresso. Tomemos como exemplo o ato de levantar de manhã cedo. Talvez tenhamos decidido levantar-nos mais cedo para orar e estudar antes de começar um dia cheio de ocupações. Em vez disso, ficamos deitados na cama até que as obrigações de rotina nos forçam a levantar! Precisamos aprender a lidar com a resistência ao crescimento espiritual, senão estaremos postergando continuamente nosso próprio progresso.
Basicamente, a oposição a qualquer passo de progresso espiritual indica haver necessidade de fortalecermos o amor a Deus. Tornou-se truísmo que todos nós fazemos aquilo que realmente queremos fazer. Por exemplo, se nosso desejo de ir ao teatro ou de comprar um artigo novo é suficientemente forte, damos um jeito, mesmo que o tempo esteja muito ruim ou que nossa conta bancária nos diga não termos fundos suficientes para realizar nosso desejo.
Se, portanto, desejamos realmente amar a Deus de todo o coração, nada pode opor-se à profunda sinceridade desse desejo. O Salmista expressou esse profundo anseio pela bondade de Deus ao escrever: “Abro a boca, e aspiro; porque anelo os teus mandamentos.” Salmos 119:131;
Muitas vezes sentimo-nos impelidos pelo desejo de amar a Deus com maior devoção. Julgamos que deveríamos orar com maior consagração, e às vezes assim o fazemos. Poderemos sentir um anseio de ser mais amáveis, de refrear a crítica que fazemos ao nosso próximo, e às vezes somos positivamente gentis para com outras pessoas. Ora, a vontade humana, por mais bem intencionada que seja, não basta para anular a animosidade que os sentidos materiais manifestam contra a espiritualidade exigida aos seguidores de Jesus.
Cristo Jesus amava realmente a Deus acima de todas as coisas. Então, para sermos seguidores de Jesus, espera-se que nos devotemos às coisas do espírito — sejamos semelhantes a Deus — em tudo quanto fizermos. Esse parece um sacrifício tremendo porque requer de nós abandonar a complacência pessoal que é conflitante com o crescimento espiritual. Dessa maneira é possível que nos recolhamos em nossas conchas e apresentemos desculpas esfarrapadas.
A resistência ao progresso espiritual não está realmente em nosso próprio pensamento. Por trás das supostas formas brandas de oposição à espiritualidade está um ódio mortal, fundamental, a Deus e ao Seu Cristo. Ora, o homem de Deus — nosso verdadeiro eu — não sente outra coisa senão amor ao Espírito, Deus, e a Sua criação espiritual. Bondade, espiritualidade, amor, pureza, são perfeitamente naturais para o homem da criação de Deus, e em verdade nós somos esse homem perfeito — a representação do próprio Amor divino. Então podemos enfrentar a recalcitrância, quer branda, quer agressiva, ao separála de nós mesmos e de outros. Ela não passa de falsa crença de que haja um ego de mentalidade material que está separado de Deus e que é capaz de se Lhe opor. Não há tal coisa, pois Deus é a Mente única, e nada pode resistir à onipotência.
Quando adquirimos até mesmo uma pequena compreensão da totalidade de Deus — compreensão de que Ele é o grande Eu sou, o único Ego, e que nosso verdadeiro eu é Sua expressão espiritual, constatamos que nada de real existe para resistir a Deus. “Eu sou o Senhor, e não há outro; além de mim não há Deus” Isaías 45:5;, é o que a Bíblia nos lembra. A resistência ao bem e ao progresso se desvanece quando paramos de pensar em nós mesmos e em outros como se fôramos mortais teimosos, e compreendemos a unidade do homem com Deus, o Princípio de nosso ser verdadeiro. A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde: “A resistência humana contra a Ciência divina enfraquece na proporção em que os mortais abandonam o erro em favor da Verdade, e em que a compreensão do ser substitui a mera crença.” Ciência e Saúde, pp. 329-330;
Como é importante, então, romper nossa aparente resistência contra aprender mais de Ciência Cristã, a qual dá a conhecer nossa verdadeira identidade. Precisamos compenetrar-nos de que se somos indiferentes quanto à freqüência à igreja, quanto a estudar a lição-sermão no Livrete Trimestral da Ciência Cristã;, a procurar a ajuda de um praticista, a fazer o Curso Primário de Ciência Cristã ou a comparecer às reuniões das associações de alunos, essa relutância está nos sendo imposta pelo materialismo do mundo. A materialidade quer opor-se à espiritualidade. A Sra. Eddy explica esse ódio impessoal que parece existir: “O apóstolo diz: ‘Se alguém julga ser alguma cousa, não sendo nada, a si mesmo se engana.’ Esse pensamento acerca da nulidade material humana, que a Ciência inculca, enfurece a mente carnal e é a causa principal do antagonismo dessa mente.” Ciência e Saúde, p. 345;
Uma vez tenhamos compreendido que a resistência à espiritualidade não é característica pessoal nossa — não é em realidade força ou poder, não é mente, mas apenas sugestão ou crença de oposição a Deus — podemos penetrar essa resistência e vará-la. Já não mais somos intimidados, e já não mais nos acomodamos com ela. E esse rompimento contribui para curar a doença.
Em certa tarde eu me sentia muito mal e só desejava ir para a cama. Tinha, porém, de escrever uma palestra para uma reunião da igreja. Meu marido animou-me a não dar o braço a torcer naquilo que ele via como resistência contra atividade espiritual. Sentei-me, deprimida, junto à escrivaninha, mas dentro de poucos minutos fiquei absorta numa pesquisa que estava realizando com a ajuda das Concordâncias da Bíblia e de Ciência e Saúde. As idéias espirituais que percebi eram inspiradoras. Duas horas mais tarde constatei, repentinamente, que o mal-estar havia desaparecido! Aquilo que eu havia julgado ser doença outra coisa não era senão resistência a fazer um trabalho necessário.
Quando a resistência contra a Verdade parece tenaz, será que existe a necessidade de haver uma mudança de atitude de nossa parte? O orgulho, o egotismo, ou talvez um conceito farisaico da superioridade de nossa compreensão de Ciência Cristã, talvez seja tudo quanto impede nosso caminho em direção à liberdade.
Mudar uma atitude não é algo que precisa levar tempo. A disposição de renunciar um sentido pessoal do que é certo em prol das exigências de Deus está ilustrado na seguinte instrução encontrada em Ciência e Saúde: “Em paciente obediência a um Deus paciente, trabalhemos por dissolver, com o solvente universal do Amor, a dureza adamantina do erro — a obstinação, a justificação própria e o egotismo — que faz guerra contra a espiritualidade e é a lei do pecado e da morte.” ibid., p. 242. Nada pode, realmente, barrar nosso caminho no sentido de realizarmos o profundo desejo de amar a Deus. E quanto mais vencermos cada uma das resistências menores, tanto mais as sugestões da materialidade cederão à espiritualidade que verdadeiramente é nossa.
Atendei-me, povo meu,
e escutai-me, nação minha;
porque de mim sairá a lei,
e estabelecerei o meu direito como luz dos povos.
As terras do mar me aguardam
e no meu braço esperam.
A minha salvação durará para sempre,
e a minha justiça não será anulada.
Isaías 51:4–6
