O Apóstolo Pedro era um homem muito bom, sempre disposto a responder ao chamado do Mestre, sempre decidido a dar o primeiro passo, pronto a arrepender-se e a seguir em frente. Mas havia algo em Pedro que precisava ser refreado. Alguns talvez digam que ele era idealista. Essa pode ser uma das razões de sua presteza em responder afirmativamente ao convite de Cristo Jesus para ser “pescador de homens”. No entanto, para que ele pudesse agüentar os desafios que o esperavam, seu idealismo tinha que amadurecer e desenvolver-se numa base espiritual.
Bem a propósito, Jesus contou a parábola de um semeador. Parte da semente do semeador caiu em terreno duro e rochoso. A semente germinou e depressa se transformou em rebentos. Mas quando o calor do sol apertou, as plantas murcharam e morreram. Não possuíam raízes suficientes para resistir ao calor de cada dia.
Muitas vezes pensei que nessa parábola se encaixa bem o zelo do idealismo humano. Tal otimismo tem, em geral, raízes anãs e não leva em consideração os desafios e propósitos que surgem quando Cristo, a Verdade, penetra nos corações e nas mentes, produzindo a mudança espiritual.
A Sra. Eddy escreveu com freqüência acerca da profunda reforma mental que ocorre quando o pensamento se espiritualiza, quando aprendemos a vencer o mal por meio da compreensão de sua irrealidade. Ela não disse que isso é rápido ou necessariamente fácil. E se nossos ideais humanos nos encorajam com ingenuidade, a supor que o discipulado cristão nos isenta de desafios difíceis, ou mesmo heróicos, então nossa fé e confiança podem fraquejar, tal como a de Pedro, ao sermos confrontados com as obras profundas que a Verdade opera na vida humana.
Ao escrever sobre o arrependimento prático que vai ao fundo do coração e neutraliza o erro ou o mal, a Sra. Eddy diz em Miscellaneous Writings: “O batismo do arrependimento é, de fato, um estado convulsionado da consciência humana, no qual os mortais adquirem graves apreciações de si próprios; um estado do pensamento que rasga o véu que encobre a deformidade mental. Lágrimas inundam os olhos, a agonia é enorme, o orgulho rebela-se, e o mortal parece um monstro, uma escura e impenetrável nuvem de erro; por fim, caindo ajoelhado em oração, em humildade perante Deus, ele implora, ‘Salva-me, ou pereço.’ Desse modo a Verdade, pesquisando o coração, neutraliza e destrói o erro.” Mis., p. 203.
Não é difícil imaginar que se a pessoa for um pecador empedernido e não arrependido, essa experiência purificador será, sem dúvida, amarga. É bem possível até concordarmos em que uma pessoa “má” mereça mesmo tal experiência ardente. Mas para Pedro, pessoa tão boa, a experiência foi, na aparência, igualmente necessária e pungente.
Talvez esse pensamento pareça estranho. Por que teria uma “pessao tão boa” de passar por tal experiência?
Porque até mesmo uma pessoa boa e idealista, às vezes não vê o enorme bem que influencia a consciência humana simultaneamente com o mal, não vê que o bem precisa ser reconhecido e alimentado, e que o mal tem de ser encarado com honestidade e então ser separado da verdadeira idéia espiritual de homem.
Quão reconfortante é aceitar as declarações da Ciência Cristã, que nos asseguram a natureza sem pecado do homem. Que maravilha começar a vislumbrar que Deus não cria doença, pecado ou morte, nem os derrama sobre os mortais aparentemente indefesos. Se nos assegurarem que podemos pedir ajuda imediata a Deus, o Amor divino, em caso de necessidade ou quando em apuros, é possível que isso nos pareça miraculoso. Mas existe certa espécie de mal no mundo, que não desaparece apenas porque estamos dispostos a aceitar essas maravilhosas verdades espirituais quando delas necessitamos. Há uma cruz a carregar no cristianismo, e a Ciência Cristã mostra que essa cruz consiste em resignarmo-nos a não mais nutrir a falsa crença de que exista vida, verdade e amor separados de Deus. Mas é uma cruz que leva à compreensão de que nada nos pode separar de nosso Pai-Mãe Deus celeste.
Jesus não ensinou que sua missão era juntar uns poucos homens e mulheres receptivos e idealistas, e mostrar-lhes como viver perto de Deus, mas separados do que pode ser um mundo desafiador ou revigorante. Com efeito, na véspera de sua cruxificação ele orou assim por seus discípulos: “Não peço que os tires do mundo; e, sim, que os guardes do mal.... Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.” João 17:15, 18.
Foi essa verdade que a vida de Pedro ilustrou com clareza. Seu idealismo humano chocou-se no início com a crueldade e animalidade dos perseguidores de Jesus. Jesus, o vitorioso, Pedro compreendia. Essa imagem estava de acordo com seus ideais. Mas ele não estava preparado para aceitar Jesus, o perseguido, o injuriado, o atraiçoado, o humilhado. Essa experiência, no entanto, foi necessária, porque pela crucificação e também pela ressurreição de Jesus, Pedro aprendeu, como não aprenderia doutra maneira, que a identidade espiritual e eterna do homem não existe na matéria e que a unidade espiritual do homem com Deus não pode ser destruída.
Pedro, contudo, nunca perdeu o idealismo mais profundo. (Nem nós o devemos perder.) No entanto, as expectativas de Pedro estavam ligadas a um afeto divino, uma compreensão espiritual da onipresença e onipotência de Deus, que não pode ser quebrada.
A Ciência Cristã mostra-nos que isso está ao nosso alcance. Nosso idealismo pode tornar-se moderado com a apreciação realista daquilo que é necessário para vencer a fraqueza humana. Nossa compreensão do amor e da lei de Deus não tem que ser obstruída pelo erro, que argumenta que o homem está separado de Deus. Ciência e Saúde, de autoria da Sra. Eddy, declara: “A escravização do homem não é legítima. Cessará quando o homem entrar na posse de sua herança de liberdade, ou seja, o domínio que Deus lhe deu sobre os sentidos materiais. Algum dia, os mortais farão valer sua liberdade em nome de Deus Todo-poderoso. Então, governarão seus próprios corpos pela compreensão da Ciência divina. Abandonando suas crenças atuais, reconhecerão que a harmonia é a realidade espiritual e a discórdia é a irrealidade material.” Ciência e Saúde, p. 228.
Hoje não é cedo demais para insistir nessa liberdade espiritual. Deus providenciará a força e a compreensão para alicerçar nosso idealismo com sabedoria e apoiá-lo na lei divina.
 
    
