Uma bela tarde, peguei meu pequeno rádio portátil e saí para fazer um pouco de exercício, correndo pelas colinas que ficam atrás de minha casa. Ao passar pelas residências e pelos campos, fiquei maravilhada por ver como o sol forte iluminava as flores, acentuando a paisagem e como os pinheiros espalhados no topo das colinas mais pareciam sentinelas, com suas silhuetas se destacando contra o céu azul.
Estava correndo satisfeita quando, de repente, um trecho de uma canção me fez parar. As palavras “vivendo vidas separadas” Stephen Bishop, “Separate Lives”. Direitos Autorais © 1985 Gold Horizon Music Corp. Usado com permissão. sobressaíram tão distintamente quanto as árvores no topo das colinas, pois algumas horas antes eu me sentira isolada da família e dos amigos.
Estava prestes a continuar meu caminho, concordando, condoída, com aquele pensamento, quando as palavras “vida em Deus” vieramme à mente. Senti profunda união com Deus, a Mente divina e, em seguida, veio-me a convicção tranqüila de que todos os outros e eu, em realidade, éramos idéias de Deus. Naquele momento, a percepção espiritual de que todos estamos incluídos em um só reino divino, obliterou totalmente o temor de estar separada de quem quer que fosse. Então percebi que aquelas palavras haviam captado minha atenção, não porque fossem a verdade acerca de minha vida ou da de qualquer outra pessoa, mas porque contradiziam frontalmente a verdade sobre Deus e o homem. Negavam a unidade espiritual da vida em Deus. A partir de então, sempre que ouço aquela canção, sei que preciso inverter o quadro humano de que há pessoas vivendo vidas separadas e reivindicar com alegria a unidade espiritual do ser. Com esses pensamentos, desapareceram o sofrimento e a solidão.
Através dessa experiência, aprendi que a demonstração da unidade do homem tem de ser precedida pelo despertar espiritual que nos faz perceber a verdadeira identidade de cada um de nós e a onipresença do reino infinito e harmonioso de Deus. O ponto-chave consiste em compreender a ordem do universo criado por Deus, estabelecida no primeiro capítulo do Gênesis, na Bíblia. A Sra. Eddy fala sobre o significado do Gênesis, em seu livro Ciência e Saúde. Escreve ela: “O universo Princípio criador — Vida, Verdade e Amor — é Deus. O universo reflete Deus. Há um só criador e uma só criação. Essa criação consiste no desdobramento de idéias espirituais e suas identidades, que estão abrangidas na Mente infinita e são para sempre refletidas. Essas idéias se estendem desde o infinitésimo até o infinito, e as idéias mais elevadas são os filhos e as filhas de Deus.” Ciência e Saúde, pp. 502–503.
Ordem, harmonia, individualidade, permanência e total abrangência estão implícitas nesse trecho que revela claramente a condição do homem como idéia espiritual de Deus e mostra que a unidade dessa criação está estabelecida e é governada por um Princípio perfeito, inteligente e todo-amoroso. Baseados nesses fatos, descobrimos que não existe nenhuma causa válida ou real, capaz de separar-nos de Deus ou do homem. O tempo, a distância e a corporalidade não têm lugar no universo espiritual de idéias. Não há desavenças num reino onde as idéias emanam da fonte de toda verdadeira harmonia, o Amor divino. Realmente, não pode haver interesses conflitantes, divididos, egoístas, porque há apenas uma Mente que governa todos com amor. O ciúme, a rivalidade, a inveja são desnecessários, porque o homem tem em Deus a fonte inexaurível do bem, pois Deus é o criador do bem. Não há perda nem morte porque o único propósito do homem é o de eternamente expressar a Deus, o Amor divino. É tão impossível haver separação entre as idéias de Deus, como é impossível as idéias se separarem de Deus, porque todas “estão a abrangidas na Mente infinita e são para sempre refletidas”.
Disso deduzimos que, compreendido espiritualmente, o bem que há nas relações de uns com os outros é a manifestação do fato de que o homem é para sempre um no reino de Deus. Se procurarmos evidências disso dentro do cenário humano, no entanto, veremos que por uma ou outra razão os relacionamentos se rompem. Parece que todos, mais cedo ou mais tarde, saem para viver a própria vida em separado. Famílias se dispersam, amigos partem, a necessidade de reunir-se aos entes queridos ecoa de todos os cantos do mundo.
Seria isso prova de que a aparência mortal e material da criação é real? Não! Podemos consultar a Bíblia e descobrir o porquê. Através da vida de grandes homens e mulheres, as Escrituras documentam vividamente o que um simples vislumbre da ordem espiritual do ser, pode fazer por uma situação humana. Na medida em que as pessoas despertaram para uma compreensão mais espiritual de Deus e se dispuseram a Lhe obedecer, as relações se harmonizaram, famílias se reconciliaram e um sentido mais universal de fraternidade se fez sentir. Até certo ponto, estavam dando provas de que a discórdia não podia ter fundamento real, nem substância, nem entidade perante o amor de Deus.
Surge então a pergunta: “Como se explica a aparência da separação?” Isso, porém, é o mesmo que pedir explicações sobre a natureza de uma mentira. Tomemos um exemplo específico da Bíblia: Enquanto Jacó acreditou que o bem que queria, era proveniente de outra pessoa, agiu com egoísmo e falsidade para alcançar seus objetivos, o que lhe trouxe muito sofrimento e o separou de seu lar e de sua família. Mas num momento crucial de sua vida, começou a compreender melhor a Deus. Ao descobrir e aceitar seu relacionamento com Deus, estabeleceu seu relacionamento com os outros e conseguiu reconciliar-se com seu irmão. Jacó expressou essa compreensão quando, após terem ficado separados mais de vinte anos, disse a Esaú: “Vi o teu rosto como se tivesse contemplado o semblante de Deus; e te agradaste de mim.” Gênesis 33:10.
A experiência de Jacó demonstra que o mal é um engano por natureza, uma contradição da verdade. Seus efeitos só existiram enquanto o engano foi considerado verdade. Uma vez que Jacó discerniu a verdade e viveu de acordo com ela, o engano e seus efeitos desapareceram. Referindo-se ao reconhecimento do que ela denomina “a ordem divina da Ciência”, a Sra. Eddy diz: “Com esse reconhecimento, o homem nunca poderia separar-se do bem, Deus; e necessariamente aspiraria a nutrir constante amor por seu próximo. Só admitindo que o mal é realidade e entregando-nos a um estado de maus pensamentos, podemos, na crença, separar os interesses de um só homem de toda a família humana, ou tentar assim estabelecer uma separação entre a Vida e Deus.” Miscellaneous Writings, p. 18. Para mim, a experiência de Jacó prova que o ato de separar-nos de nossos semelhantes, deriva diretamente da crença de estarmos separados de Deus. A separação entre Jacó e Esaú foi causada por um conceito errado acerca da verdadeira ordem do universo e o despertar espiritual de Jacó para os fatos da existência, restabeleceu a amizade entre ambos.
É por isso que a consciência espiritual tem o efeito de elevar, purificar, harmonizar e unificar a vida que levamos. O mal que se manifesta em nossa experiência é o resultado de uma mentira sobre Deus e Sua criação, inclusive o homem. Seja qual for o mal aparentando ter realidade, não passa de um efeito da falsa crença, e a falsa crença (juntamente com seus efeitos) é destruída pela compreensão e demonstração da Verdade, Deus, e de Sua criação espiritual. Quando baseamos nossos pensamentos e ações em fatos espirituais, descobrimos que nossa experiência humana está mais de acordo com a verdadeira ordem do universo.
Cristo Jesus nos deu a mais completa demonstração dessa vida espiritual em Deus. Ao destruir a major das mentiras que levam à separação, ou seja, a crença na morte, ele nos mostrou que afinal a aparência humana cederá inteiramente à ordem espiritual das coisas. Provou, acima de qualquer dúvida, que sua união eterna com Deus significa união para todas as Suas amadas idéias.
Onde os mortais viam um leque de personalidades, todas vivendo vidas separadas, Jesus via o homem de Deus habitando no reino dos céus. Ele compreendia que a criação é espiritual e que Deus governa o homem. Conseqüentemente o tempo, o espaço, a matéria, as opiniões alheias, as questões políticas e as leis físicas não podiam impedilo de cumprir seu propósito estabelecido por Deus. E sua ressurreição, após a provação na cruz, permitiu-lhe voltar para os que amava e para aqueles que acreditavam nele.
Jesus superou a crença na separação, seja a de estar separado do Amor, seja da expressão do Amor, o homem. Não nos deixou nada que indicasse que a crença em separar-se de Deus ou do homem seja uma lei na vida das pessoas. Com efeito, afirmou justamente o contrário, ao expor os dois grandes mandamentos, de amarmos a Deus e de amarmos o próximo como a nós mesmos. Ver Marcos 12:28–34; João 15:12. Pela obediência a seus mandamentos, podemos seguir seus passos e demonstrar a mesma certeza que os personagens bíblicos tinham da terna presença de Deus. E onde Deus está, aí está o homem, pois, como diz a Sra. Eddy: “O homem é a expressão do ser de Deus.” Ciência e Saúde, p. 470. Essa relação indestrutível nos dá domínio sobre a falsa crença de que o homem de Deus possa ser afastado ou separado de seu Criador ou de qualquer parte da criação divina.
Independentemente do que pareça estar ocorrendo perante os sentidos materiais, a Ciência Cristã revela a verdade. O homem não é mortal e a vida não é material. O homem é espiritual e todos nós estamos estamos em Deus e somos de Deus. Citando o que Paulo diz em Atos: “Nele vivemos, e nos movemos, e existimos.” Atos 17:28.
Como poderíamos então sair de Seu reino infinito e viver vidas separadas? Não podemos. Ninguém pode, nem mesmo o aqueles que parecem morrer. Temos a convicção divina de que todos aqueles que encontramos e amamos, estão sempre presentes no reino dos céus. Para comprovar sua eficácia em nossa vida, precisamos apenas despertar para esse fato e viver a partir desse ponto de referência.
Em verdade, todos nós somos idéias espirituais vivendo no reino da Mente divina. Deixemos de lado o mortal, reconheçamos o imortal e progressivamente sentiremos a liberdade que essa compreensão nos traz.
