Mamãe deixou-nos devido a uma série de circunstâncias incomuns, quando eu tinha quatro anos de idade. Oito anos mais tarde, papai voltou a se casar. Reencontrei-me com minha mãe natural, quando já passava dos vinte anos.
Na infância, antes de papai voltar a se casar, eu ansiava por uma mãe de verdade, que me pegasse nos braços, me consolasse, me escutasse e estivesse em casa todos os dias quando eu voltava da escola. Eu queria uma mãe que me visse na representação teatral da escola, que fizesse pão em casa e me desse um beijo de boa-noite. Papai fazia o que podia por nós e eu o amava muito. Porém, não ter mãe deixava um vazio dentro de mim.
O segundo casamento de meu pai foi feliz e eu gostava de minha madrasta. Mais tarde, voltei a ter um bom relacionamento com minha própria mãe, mas verifiquei que nenhum ser humano podia ser tudo para nós, por mais bem-intencionado, zeloso e solícito que fosse.
Na adolescência, comecei a freqüentar a Escola Dominical da Ciência Cristã. Nela aprendi que Deus é Pai e também Mãe. Por exemplo, a Bíblia nos apresenta Deus, a dizer: “Como alguém a quem sua mãe consola, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém vós sereis consolados.” Isaías 66:13. E em Ciência e Saúde a Sra. Eddy escreve: “Pai-Mãe é o nome da Divindade, o que indica o terno parentesco dEle com Sua criação espiritual.” Science and Health (Ciência e Saúde), p.332: “Father-Mother is the name for Deity, which indicates His tender relationship to His spiritual creation.” Era por esse genuíno espírito maternal e consolador que eu tanto ansiava.
Porque Deus está sempre presente, o homem nunca pode estar separado de Seu consolo e de Seu amor. Para mim, recorrer a Deus em oração torna-se natural, assim como alguém se volta para seu pai ou sua mãe, com confiança e expectativa.
Confiando em Deus como Amor divino, como meu Pai-Mãe divinal, passei a encontrar as qualidades maternais, expressas sob diversas formas. Um exemplo inicial e óbvio foi a companhia que encontrei em minha madrasta. Mais tarde, já na universidade, vi o amor de Deus expressar-se em minha colega de quarto, em meus colegas de aula e em alguns dos professores. Não que essas pessoas soubessem de meu passado, pois eu não expressava verbalmente meu anseio pelo afeto maternal. Confiando em Deus, porém, como a fonte da maternidade, passei a reconhecer e apreciar a manifestação de Seu amor nas mais variadas formas com que se apresentava, ao invés de continuar na procura de uma pessoa ideal que atendesse aos meus reclamos de afeto.
Mais tarde, como mãe, fiz minha filha saber que o amor que seus pais lhe tinham e a maneira solícita como a tratavam, eram a expressão do amor de Deus. Sempre lhe seria possível contar com Deus como fonte de amor. Era sempre um consolo para nós, na condição de pais, assim como para ela, saber que, embora não estivéssemos com ela na escola ou no acampamento ou em seus passeios no parque, a eterna presença de Deus a mantinha segura e a salvo.
Deus, o Amor divino, é infinito. Portanto, não pode ser confinado a um indivíduo a quem chamamos mãe. Parece que somos mortais gerados por outros mortais. Na verdade, porém, o Amor divino gera o homem, porque Deus é o único criador. Nosso verdadeiro ser é a semelhança espiritual do Amor e expressa o Amor com naturalidade, livremente e sem medida. Todos conhecemos exemplos de crianças que, diante de um adulto triste ou cansado, apressam-se a abraçá-lo e dizer-lhe palavras de consolo. Em sua pureza infantil estão expressando as qualidades maternais de Deus.
Cristo Jesus, ao lhe ser dito que sua mãe e irmãos estavam à sua espera, explicou: “Qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe.” Mateus 12:50. Esse ponto de vista amplia nossa família para além dos laços de sangue. No entanto, Jesus, ao prover cuidado para a própria mãe, cumpriu também com o mandamento de honrar pai e mãe. Ver João 19:26, 27.
Quer sejamos progenitores, quer sejamos filhos, podemos ter a certeza de que pelo fato de Deus, o Amor divino, criar o homem à imagem do Amor, existe uma só Mãe. Todos nós somos criados por essa única Mãe, Deus, que nos ama e acalenta, que nos consola, guia e abriga. Até mesmo nos momentos mais negros, somos inseparáveis do Amor divino, nosso Pai-Mãe Deus. Como o diz Ciência e Saúde: “O homem e a mulher, coexistentes e eternos com Deus, refletem para sempre, em qualidade glorificada, o infinito Pai-Mãe Deus.” Science and Health (Ciência e Saúde), p.516: “Man and woman as coexistent and eternal with God forever reflect, in glorified quality, the infinite Father-Mother God.”
